Censo: mais de dois milhões de brasileiros ainda vivem em casas precárias
Número inclui pessoas que moram em casas de madeiras reaproveitadas ou palha
Mais de dois milhões de brasileiros ainda vivem em casas precárias, apesar da melhoria nas condições de moradia no período de doze anos. Em 2022, pelo menos 2,52 milhões de pessoas (ou 1,24% da população) moravam em casas de barro sem revestimento ou feitas de madeira reaproveitada, tapumes, andaimes ou palha.
Essas construções inadequadas ainda são mais marcantes nas regiões Norte e Sul. Em termos absolutos, porém, há presença significativa de pessoas vivendo nessas condições nas grandes cidades do país, mostram dados do Censo Demográfico 2022 divulgados nesta quinta-feira pelo IBGE.
No interior, casas de barro sem reboco
Cerca de 1,3 milhão de brasileiros (ou 0,6% da população) moravam em casas com paredes de taipa sem revestimento. São casas em que as paredes são feitas de barro e não há qualquer acabamento de cimento ou argamassa. Assim, a estrutura fica exposta e as casas sujeitas à umidade e até risco de desmoronamento, já que não têm proteções contra a chuva ou calor.
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O maior percentual de pessoas morando em casas desse tipo foi registrado em Uiramatã, em Roraima. Lá, seis em cada dez moradores viviam assim: 60% da população em 2022. Em seguida aparecem cidades do interior do Maranhão.
Em Marajá do Sena (MA), 35% dos moradores viviam em casas de taipa sem revestimento. Outros municípios como Serrano do Maranhão, Aldeias Altas, Jenipapo dos Vieiras, Brejo de Areia e São João do Soter têm de 26% a 28% dos residentes vivendo em construções assim.
Em termos de região, 1,78% dos moradores da região Norte moravam em casas deste tipo em 2022. No Nordeste, esse percentual foi de 1,32%. Embora mais modestos do que os registrados nos Censos anteriores, são níveis ainda bem superiores aos observados nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste, onde os percentuais foram de 0,9%, 0,42% e 0,30%, respectivamente.
Outros 284 mil brasileiros (ou 0,14% da população) viviam em casas com paredes feitas de madeira reaproveitada, como tapumes ou andaimes. Em cidades como Tacuru (MS), Santa Rosa do Purus (AC) e Amajari (RR), cerca de 11% da população morava em construções desse tipo.
No entanto, em números absolutos, havia mais pessoas vivendo assim em grandes cidades do que no interior do país. São Paulo liderou com 17 mil moradores, seguido de Manaus, com 11 mil nessa condição. Outras capitais como Brasília e Porto Alegre registraram cerca de 5 mil pessoas, enquanto o Rio de Janeiro tinha cerca de 2,5 mil pessoas vivendo em habitações desse tipo.
Outros 958 mil brasileiros (0,5% da população) viviam em domicílios feitos com materiais não especificados nas categorias anteriores. O IBGE classifica esses casos como "outros materiais", incluindo moradias construídas com palha ou outros que não se encaixam nas demais definições.
A maior proporção de pessoas morando em casas assim foram registradas em Nova Nazaré (MT), Campinápolis (MT), Barão de Antonina (SP) e Milagres do Maranhão (MA), com percentuais que variam de 26% a 39%. Em termos absolutos, contudo, haviam mais brasileiros vivendo nessa precariedade em São Paulo (41 mil), Salvador (28 mil) e Rio de Janeiro (20 mil).
Um grupo de 7 mil pessoas (0,004%) da população, residia em domicílios sem parede – opção que só podia ser selecionada em localidades indígenas.
Conceito de moradia inadequada
É com base nestes dados do Censo que institutos mensuram o déficit habitacional do país. Para medir esse indicador, a Fundação João Pinheiro considera inadequados os domicílios construídos com materiais improvisados, como taipa sem revestimento, madeira reaproveitada e outros materiais semelhantes.
Bruno Mandelli Perez, analista do IBGE, lembra que esse cálculo da fundação é utilizado pelo governo para o planejamento de políticas públicas habitacionais. Isso porque esses domicílios são feitos a partir de materiais de menor qualidade, menos duráveis e com riscos maiores de contaminação por doenças e de desmoronamento.