China endurece sua posição sobre criptomoedas
Os especialistas se perguntam por que a China age como age e as consequências disso para o mercado
O preço das criptomoedas oscilou nas últimas semanas em decorrência do endurecimento da posição das autoridades chinesas perante a mineração e a movimentação desses ativos digitais, muito populares no país.
Nesta segunda-feira (21), o bitcoin perdia em torno de 9% às 10h30 GMT (7h30 de Brasília), depois que Pequim decidiu cortar a energia de empresas especializadas na mineração dessa moeda virtual, localizadas na província de Sichuan (sudoeste).
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Os especialistas se perguntam por que a China age assim e as consequências disso para o mercado.
Por que a China atua assim?
A necessidade do governo chinês de controlar o sistema financeiro foi reforçada à medida que sua importância cresceu.
As criptomoedas, e principalmente o bitcoin, representam um desafio para Pequim, dada a impossibilidade de o Banco Central acompanhar os movimentos de dinheiro que passam por esses ativos.
Para "prevenir e controlar os riscos financeiros", as autoridades decidiram proibir as movimentações de criptomoedas no país.
Segundo analistas, a China teme um aumento nos investimentos ilícitos e na arrecadação de fundos, à medida que suas autoridades tentam controlar o fluxo de capitais.
"A China não tem um mercado de capitais aberto, e as criptomoedas permitem evitar essa situação, o que é inaceitável para as autoridades", diz Jeffrey Halley, analista para Ásia da Oanda, empresa especializada em mercados internacionais.
O reforço da ação contra as criptomoedas também permite que a China introduza sua própria moeda virtual, um projeto no qual o Banco Central vem trabalhando desde 2014 e que permitirá ao governo controlar melhor os fluxos.
Embora a criação e a movimentação de criptomoedas sejam ilegais na China desde 2019, as ações recentes de suas autoridades levarão um importante setor de mineração a encerrar suas atividades.
Por que a situação na China é importante?
Hoje, cerca de 80% das movimentações de bitcoins são gerenciadas por meio de centros de processamento de dados instalados na China, que consomem muita energia.
O acesso a material e energia muito barata favoreceu o surgimento de empresas especializadas em movimentações, mas também na criação de novos ativos de criptomoedas. Esta operação requer grande poder computacional, causando um grande gasto de energia.
Parte importante da indústria se alimenta com eletricidade proveniente de centrais movidas a lignita, um carvão altamente poluente, o que poderia impedir a China de atingir seus objetivos climáticos. Isso explica, em parte, sua reação.
De acordo com o índice de consumo de eletricidade bitcoin, publicado pela Universidade britânica de Cambridge, a mineração de moedas virtuais deve consumir 0,6% da eletricidade mundial em 2021, o equivalente ao consumo da Noruega.
Quais as ambições chinesas?
Em março, a China lançou a fase de testes de seu iuane digital. Essa moeda virtual permitiria a Pequim realizar transações internacionais em sua própria moeda, quando o comércio mundial ainda é realizado principalmente em dólares (em mais de 80% das transações).
"O objetivo é tornar o iuane mais disponível internacionalmente, mantendo o controle total sobre o preço da moeda", explica Halley.
Vários países estão tentando lançar sua própria moeda virtual. O Banco Central Europeu (BCE) deve decidir nos próximos meses se lança, ou não, um euro virtual.
Para os especialistas, porém, essas moedas estatais dificilmente serão capazes de competir com as criptomoedas existentes, cujo apelo vem da ausência de controle estatal.
"O bitcoin é marginalmente uma forma de pagamento no momento, mas sua principal vantagem é que não pode ser facilmente apreendido, proibido, ou desvalorizado", enfatiza Leonhard Weese, cofundador da The Bitcoin Association, em Hong Kong.