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Chuvas no Sul e medidas emergenciais afastam risco de racionamento

As chuvas ajudaram a recuperar os reservatórios da região Sul, que subiram 1,4 ponto percentual em setembro, após semanas de forte queda que preocuparam a área energética do governo

Barragem de Furnas, em Minas Gerais, com baixo volume de águaBarragem de Furnas, em Minas Gerais, com baixo volume de água - Foto: Douglas Magno/AFP

A chegada das chuvas na região Sul e os impactos das medidas emergenciais tomadas pelo governo para enfrentar a crise hídrica praticamente eliminam o risco de racionamento de energia no país este ano.

A avaliação é de especialistas no setor ouvidos pelo jornal Folha de S.Paulo, que veem hoje um cenário menos desafiador para os meses de outubro e novembro, período considerado crítico no enfrentamento da crise.
 



"A situação de suprimento ainda é desconfortável mas melhorou na margem, pela combinação do sucesso de algumas medidas que o governo tomou e com a realização de chuvas, sobretudo na região Sul", diz o presidente da consultoria PSR Energy, Luiz Barroso.

As chuvas ajudaram a recuperar os reservatórios da região Sul, que subiram 1,4 ponto percentual em setembro, após semanas de forte queda que preocuparam a área energética do governo.

"O Sul deu um susto lá para agosto e agora está recuperando. Está exportando energia e acabou dando um alívio", diz o professor do programa de planejamento energético da Coppe/UFRJ Maurício Tolmasquim.
Barroso e Tolmasquim presidiram a EPE (Empresa de Pesquisa Energética), estatal responsável pelo planejamento do setor, e avaliam que são mínimas as chances de um racionamento de energia no cenário atual.

Ao analisar o quadro no fim de setembro, a PSR diz que o risco de racionamento para 2021 está "praticamente eliminado". A possibilidade de apagões localizados por falta de potência para atender horários de maior demanda é de 10%, nível que a consultoria avalia ser "administrável".

"Não está eliminada a possiblidade de ter apagões", concorda Tolmasquim. "A gente vai estar provavelmente usando parte da reserva operativa, que é a reserva para imprevistos, como corte de uma turbina ou queda de linha de transmissão."

Essa reserva funciona como um reforço no sistema para gerar energia para substituir eventuais falhas em outros equipamentos ou quando a demanda sobe de forma abrupta. Com os reservatórios baixos, será usada para garantir o suprimento do dia-a-dia.

Nesta quarta (29), os reservatórios das hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, a principal caixa d'água do setor elétrico brasileiro, estavam com 16,82% de sua capacidade de armazenamento de energia, 4,5 pontos percentuais a menos do que no início do mês.

A queda é normal nesta época do ano, ainda mais seca, e está próxima da projeção mais otimista feita no início do mês pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), que via os reservatórios das duas regiões com níveis entre 13,9% e 15,9% nesta quinta (30).

No Sul, a situação também está próxima do melhor cenário, com os reservatórios chegando na quarta a 29,44% de sua capacidade. A projeção feita há um mês pelo operador ficava entre 12,3% e 31,2%.
A situação deve se manter em outubro, segundo projeção divulgada na última sexta (24) pelo ONS. Com chuvas perto da média, o nível dos reservatórios deve recuperar 5 pontos percentuais no mês, entrando novembro com cerca de 35% de sua capacidade de armazenar energia.

Além da melhora no volume de chuvas no Sul, o sistema teve impacto positivo de medidas de expansão da oferta, como a contratação emergencial de térmicas e o aumento das importações de energia da Argentina e do Uruguai.

O sistema foi beneficiado também pela antecipação das operações de uma linha de transmissão que liga a Bahia a Minas Gerais, que ampliou em 1,3 mil MW (megawatts) a transferência de eletricidade do Nordeste para o Centro-Sul.

Antes dela, o operador era forçado a cortar parques eólicos e solares daquela região em momentos de grande geração por falta de capacidade de transporte.

Na semana passada, o setor recebeu outro reforço, com a entrada em operação da térmica GNA 1, no norte-fluminense, que estava com cronograma atrasado pela pandemia e por problemas técnicos.

A usina também acrescentou uma capacidade de 1,3 mil MW ao sistema. Mas chegou a ficar dois dias parada após o início das operações e tem operado com menor potência nos últimos dias para inspeção em uma máquina.

O diretor-geral da Volt Robotics, Donato da Silva Filho, diz que a falta de informações sobre os resultados das medidas adotadas pelo governo traz incertezas para o cenário dos próximos dois meses.

"Tem um conjunto de medidas bem amplo, que teriam condições de criar uma folga de consumo, mas a gente não sabe se elas estão sendo eficazes ou não", afirma. "Se estiverem sendo eficazes, aumenta a chance de passarmos por outubro e novembro."

De fato, até o momento, não foram divulgados balanços dos programas de redução voluntária de consumo, tanto o voltado para grandes consumidores quanto aquele que dá bônus para economia de energia em residências.

Segundo o ONS, empresas aprovadas pelo primeiro programa propuseram reduzir o consumo em 443 MW em setembro, mas ainda não houve um balanço sobre o atingimento da marca.

Barroso diz que as projeções da PSR não consideram esses programas, que podem ajudar a melhorar o panorama caso tenham boa adesão. As contas foram feitas com base em um crescimento "otimista" de 5,5% da demanda este ano.

Em agosto, segundo o ONS, o consumo de energia cresceu 4,7% na comparação com o mesmo mês do ano anterior, puxado pela retomada de atividades econômicas com o avanço da vacinação. Em 12 meses, a alta é de 5,2%.

A PSR diz ainda que novas térmicas devem iniciar as operações em outubro, melhorando a oferta de energia. E vê um cenário de chuvas mais favorável, sem sinais de atraso no início do período úmido.

"Os mapas climáticos indicam perspectivas de chuva para as próximas semanas no Sul e formação de umidade no Norte e Centro-Oeste, o que pode significar chuvas mais a frente", diz.

Para 2022, a consultoria diz que está prevista a entrada de novas térmicas e hidrelétricas, além das usinas que o governo decidiu contratar de forma emergencial. Assim, se a demanda não explodir, o Brasil conseguiria passar sem racionamento mesmo com chuvas em 70% da média histórica.

O MME (Ministério de Minas e Energia) e o ONS não responderam a pedidos de entrevista sobre o assunto. Em sua última declaração sobre o tema, na semana passada, o diretor-geral do operador, Luiz Carlos Ciocchi, disse que "não há possibilidade de racionamento em 2021".

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