Citi aposta em alta de 0,75 da Selic nesta quarta e vê taxa chegar a 13,25% até março de 2025
Economista-chefe, Leonardo Porto acredita que juros só voltem a cair em 2026
Na contramão de outros bancos centrais, o BC brasileiro deve continuar subindo juros no curto prazo, com a Selic (taxa básica de juros) chegando a 13,25% em março do próximo ano e estabilizando nesse patamar durante todo 2025. A expectativa é do economista-chefe do Citi, Leonardo Porto, que avalia que a Selic só volte a cair em 2026, encerrando o ano em 10,50%.
— A expectativa é de um aumento de 0,75 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) amanhã, mais 0,75 em janeiro e outros 0,50 em março. O risco é de ser mais aumento e não menos — disse Porto em apresentação das expectativas do banco a jornalistas nesta terça-feira em São Paulo.
Para ele, o BC tem que subir a taxa de juros no mínimo o mesmo que subiu a expectativa de inflação para 2025, um pouco a mais de 0,50 ponto percentual. Portanto, um aumento abaixo de 0,50 está descartado. Ele observa que o BC tem um limte para fazer um choque de juros, mas não descarta que a Selic possa subir 1 ponto percentual nesta quarta.
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Para Porto, a expectativa é de redução do 'ruído' no mercado após o pacote fiscal, apenas no ano que vem, e com o cenário global mais neutro, é mais provável que o dólar venha para baixo e termine 2025 em R$ 5,70, mas ele observa que o nível de incerteza sobre o câmbio ainda é 'gigante'.
— O dólar para baixo ajuda na dinâmica inflacionária. Nossa expectativa é de IPCA a 4,8% no final deste ano e 4,3% em 2025 — disse Porto, lembrando que há desancoragem das expectativas de inflação para este ano, 2025, 2026 e 2027, que dificulta muito o trabalho do Banco Central de trazer o juro para o centro da meta.
Na prática diz o economista,o IPCA vai rodar fora do intervalo da meta de inflação por muito tempo. O teto da meta para este ano é de 4,5%. Ele lembra que o dólar começou o ano abaixo de R$ 5 e está terminado acima de R$ 6 — e esse movimento gerou inflação.
— A inflação corrente não está no intervalo do BC, vamos continuar vendo pressão de inflação nos bens comerciáveis nos próximos meses. A inflação de serviços depende da dinâmica de salários, que estão subindo acima de 8%, 9%, com um mercado de trabalho aquecido e a ociosidade chegando no limite — disse o economista do Citi.
Por enquanto, mesmo com aumento de juros, Leonardo Porto não vê indícios de desaceleração da economia. A expectativa do Citi é de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 3,3% este ano e 2,2% em 2025.
— O PIB do terceiro trimestre mostrou um dado sólido, puxado por consumo das famílias e investimento. Também a média de juros nas operações de crédito livre não está subindo, o que sinaliza que os spreads dos bancos estão mais comprimidos. As taxas de inadimplência estão comportadas e até em trajetória de queda — explicou Porto.
A expectativa do Citi é que a trajetória da dívida pública continue crescendo ao longo do tempo e seria necessário um resultado primário total de 2,4% do PIB para estabilizá-la. Para este ano, a previsão é de um déficit de 0,4%. A expectativa do Citi é que 2024 termine com uma dívida de 77,7% do PIB, crescendo para 82,3% em 2025 e para 86% em 2026. Para ele, o pacote fiscal apenas tenta endereçar a contenção das despesas mandatórias.
Para Eduardo Miszputen, head de markets do Citi Brasil, há uma visão mais otimista do Brasil do investidor estrangeiro do que do investidor local. Os indicadores macroeconômicos são positivos e o discurso do governo vai na direção de establidade de gastos. Mas os fatores de risco ainda estão elevados e a volatilidade deve continuar em 2025.
— O investidor estrangeiro questiona porque investidor doméstico é tão negativo. O investidor estrangeiro está tentando enxergar o ponto de fazer uma nova aposta no Brasil. Mas os fatores de risco ainda são altos e a volatilidade de 2024 não vai desaparecer em 2025. A bolsa perdeu um volume importante de recursos por conta dessa instabilidade — disse Miszputen.