Citi vê prorrogação do auxílio emergencial com ligeiro estouro do teto de gasto em 2021
Em agosto, a instituição já havia afirmado trabalhar com a possibilidade de estouro do teto
O Citi Brasil avalia que o governo federal terá de esticar os programas de auxílio a trabalhadores no próximo ano, o que levará a uma despesa acima do teto de gastos, mas sem impacto relevante sobre câmbio, juros e inflação no próximo ano.
Em agosto, a instituição já havia afirmado trabalhar com a possibilidade de estouro do teto. A expectativa é que a despesa fique um ponto percentual do PIB (Produto Interno Bruto) ou R$ 75 bilhões acima do limite constitucional.
O valor é suficiente para manter um auxílio emergencial de R$ 300 por mais três meses. A instituição afirma, no entanto, que esse recurso pode ser distribuído também por meio de outros programas e que um auxílio focado na população mais pobre poderia durar ainda mais tempo.
Por conta dessa percepção de aumento no risco fiscal, o banco estima que o dólar deve caminhar do patamar de R$ 5,10 para R$ 5,50 no final deste ano, podendo terminar 2021 em R$ 5,43. Essa ligeira valorização do real ajudaria a manter a inflação próxima ao centro da meta, em 3,7%, e possibilitaria a manutenção da taxa básica de juros nos atuais 2% ao ano, apesar da sinalização do Banco Central dada nesta quarta-feira (9) de que poderá elevar a taxa no próximo ano.
É muito complicado o governo adotar um ajuste fiscal draconiano no ano que vem se não controlar a pandemia", afirmou nesta quinta-feira (10) o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, citando que em 2020 o limite do teto foi superado em oito pontos percentuais do PIB. "A política fiscal ainda vai ser extremamente contracionista [em 2021]."
Para ele, a questão não é só se o teto vai ser respeitado, mas qual a magnitude do gasto adicional e se esse rompimento será temporário ou permanente.
"A nossa hipótese é que a despesa vai superar o teto, mas somente em 2021, em um ponto percentual. Se for confirmado, o impacto nos mercados é limitado e a gente vê a taxa de câmbio apreciando um pouco. Se tiver uma solução mais frouxa, o risco de crédito evidentemente cresce, o fluxo de capitais vai ser menor, a taxa de câmbio vai se depreciar, isso gera pressão inflacionária e o BC vai ter de subir os juros mais cedo do que está no nosso cenário."
No início de dezembro, o FMI (Fundo Monetário Internacional) afirmou que as autoridades brasileiras devem estar preparadas para fornecer apoio adicional na área fiscal.
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O presidente do Citi Brasil, Marcelo Marangon, afirmou que a instituição trabalha em diversas operações de abertura de capital, fusões e aquisições, entre outras, que devem se concentrar no início do ano, e que a questão fiscal e a evolução da pandemia são importantes para manter o ambiente favorável de excesso de liquidez em moeda local e atratividade para o investidor estrangeiro.
"Esse cenário é um ambiente apropriado para colocação de todas as operações que a gente tem no 'pipeline'", afirmou Marangon.
"É importante que a gente tome as decisões adequadas, com rigor fiscal, para que a gente possa colocar essas transações no mercado ao longo de 2021. Isso influenciará diretamente o apetite dos investidores."
O Citi Brasil projeta uma variação do PIB de -5,1% neste ano, com crescimento de 3% em 2021. O crescimento trimestral esperado é de 0,7% no final deste ano e de 0,1% no primeiro trimestre de 2021, considerando o impacto esperado pela segunda onda da pandemia e uma hipótese de que o processo de vacinação comece a ganhar tração no segundo trimestre do próximo ano.