Com a volta dos impostos sobre gasolina, Haddad "empata" disputa com Gleisi
LÍder do PT afirmou que presidente teve "sensibilidade" para diminuir o impacto no bolso do consumidor e criticou dividendos da Petrobras, aos quais se referiu como "indecentes"
A avaliação entre petistas e integrantes do governo é que a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), saiu derrotada do episódio que resultou na volta de cobrança de impostos sobre a gasolina e o etanol.
A líder petista se precipitou e se expôs ao ser contundente na defesa de uma posição que acabou não referendada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de acordo com a avaliação predominante tanto no Planalto como no partido.
Apesar de ter sido propagada como um embate entre as alas políticas e econômicas do governo, dentro do governo a avaliação é que apenas a presidente do PT se colocou na disputa. Interlocutores dos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) garantem que eles não se alinharam a Gleisi.
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Costa chegou a defender nas discussões internas uma volta gradativa dos impostos. Mas, em seguida, se alinhou ao modelo de cobrança costurado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Padilha não entrou diretamente no debate.
Ao ver a sua posição pela volta de impostos prevalecer, Haddad “empata” o placar em embates com Gleisi, depois de sofrer uma derrota no início do ano, quando o governo decidiu prorrogar a desoneração instituída no governo de Jair Bolsonaro.
Embate antigo
Na época, o ministro da Fazenda já defendia o fim do benefício para não aumentar os rombos das contas públicas. Gleisi se posicionou publicamente pela prorrogação da desoneração e saiu vitoriosa.
Desde 2018, Haddad e Gleisi acumularam uma série de embates internos no PT. Os conflitos voltaram a se repetir na eleição do ano passado, quando o hoje ministro da Fazenda concorreu ao governo de São Paulo.
O comando do PT colocou, por exemplo, na conta de Haddad o mau desempenho da candidatura de Lula em São Paulo, que acabou levando a disputa presidencial para o segundo turno.
A campanha de Haddad havia focado os seus ataques no então governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), e poupou o candidato bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). Os petistas avaliaram que, ao não ter o seu candidato atacado em São Paulo, Bolsonaro conseguiu crescer no estado.
Para algumas lideranças petistas, o confronto entre Haddad e Gleisi é sintoma de uma disputa futura pela liderança do partido com vistas a um cenário em que Lula saia da vida pública.
"Decisão do presidente"
Nesta terça-feira (28), ao ser perguntado como via a posição de Gleisi contra a volta da cobrança de impostos sobre os combustíveis, Haddad disse que a questão deveria ser feita para a presidente do PT, mas destacou que o fim das desonerações foi uma “decisão do presidente da República”.
Nas redes sociais, ao comentar o anúncio, Gleise elogiou a decisão. Disse que o “presidente Lula teve sensibilidade para diminuir o impacto da reoneração de combustíveis no bolso do consumidor, com redução de alíquotas dos impostos e do preço na refinaria”. Ela aproveitou para criticar a política de dividendos da estatal, classificada pela deputada como “indecente”.
Para aliados da presidente do PT, o seu posicionamento contra o fim da desoneração ajudou a pressionar o governo para que adotasse alíquotas menores. Esses aliados também dizem que Lula, quando pediu a Gleisi que continuasse no comando do partido a excluindo de seu ministério, queria justamente que ela visualizasse as posições da sigla no debate político.
Em um sinal de que não reprovou a postura da dirigente partidária no episódio, Lula teve o cuidado de telefonar na tarde desta terça-feira para a presidente do PT para antecipar, antes do anúncio oficial, os detalhes da forma como a volta da cobrança de combustíveis seria adotada pelo governo.