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Economia

Com Barros na articulação, time de Guedes teme ficar isolado

Técnicos de Guedes temem que o ministério passe a enfrentar um limbo, um terreno de muito trabalho e pouco ou nenhum resultado

Paulo GuedesPaulo Guedes - Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

Ainda sem concorrentes claros rumo à reeleição, Jair Bolsonaro só duela com a sua popularidade, e, nesse processo, seu ministro da Economia, Paulo Guedes, vem aos poucos sofrendo do que assessores da pasta e auxiliares do presidente chamam de "erosão política".

Técnicos de Guedes temem que o ministério passe a enfrentar um limbo, um terreno de muito trabalho e pouco ou nenhum resultado. Nas rodas de conversa de congressistas, especialmente os do chamado "centrão", grupo que reúne representantes de partidos como PP, PL e Republicanos que agora integram base de apoio de Bolsonaro, o chefe da Economia é comparado (consideradas as proporções) a Guido Mantega.

O ministro da Fazenda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi atropelado por medidas costuradas pela presidente e seu então secretário do Tesouro, Arno Augustin. Para esse grupo, não faltam sinais da perda de poder de Guedes no governo.

Na quarta (9), por exemplo, a consultoria política americana Eurasia convidou o ministro Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) para uma videoconferência fechada para analistas e investidores. As análises vendidas pela empresa subsidiam decisões de investimentos das maiores empresas e fundos de investimento do mundo.

Na conferência, Marinho disse que Bolsonaro só terá força para implementar sua agenda se for popular entre o eleitorado. "Tudo fica mais fácil de aprovar [no Congresso] se o presidente for popular", disse. "A política é o que permite que a agenda econômica avance."

Marinho seguiu afirmando que "a recente reestruturação do governo, onde o ministro da Economia, Paulo Guedes, não negociará mais as reformas diretamente com o Congresso, também é um avanço". "É importante ter 'profissionais' que conheçam e tenham atuado no Congresso para conduzir essas negociações. Guedes não deve estar na linha de frente das negociações por formular a agenda macroeconômica do governo."

Afirmou, por fim, que "todo o governo está alinhado com a agenda de reformas econômicas". "Feito isso, cabe aos operadores políticos aprová-los no Congresso. Esse novo equilíbrio foi estabelecido." Marinho disse ainda haver espaço para "15 ou 20 privatizações" no próximo ano. Guedes queria levantar R$ 1 trilhão com a venda de estatais, mas o programa patina diante da resistência do Congresso.

Para os analistas, o recado de Marinho foi claro: Guedes se tornou um estorvo para o governo Bolsonaro e é praticamente uma figura anacrônica em um governo que se mostra cada vez mais populista. Sem a interlocução de Guedes com o Congresso, parlamentares têm avaliação de que o chefe da Economia passou a lançar palavras ao vento.

Nesta semana, anunciou uma economia potencial de R$ 300 bilhões com a proposta de reforma administrativa do governo. No anúncio, um impacto fiscal não foi informado. Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, já anunciou para as lideranças que o assunto não seguirá adiante antes da reforma tributária, prioridade na sua agenda.

Guedes e Maia romperam e não se falam mais. Até mesmo o principal negociador de Guedes no Congresso, Esteves Colnago, cuja articulação é elogiada pelos parlamentares, foi forçado pelo chefe a abandonar a interlocução. A estratégia de isolamento de Guedes ganhou mais força com a chegada do deputado Ricardo Barros (PP-PR) à função de líder do governo na Câmara dos Deputados. Barros é respeitado pelos colegas porque tem experiência política.

Com bom trânsito na ala militar do governo, reforça o trabalho político em defesa da agenda de Bolsonaro, que já contava com Marinho e Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura. Ambos se juntaram na elaboração de um programa de obras de estímulo à retomada, que foi batizado de Pró-Brasil, e divulgado sem que Guedes tivesse participado das discussões.
Bolsonaro, que deve lançar o programa nas próximas semanas, o adotou como guarda-chuva de medidas pelo reaquecimento da economia, que segue estagnada no pós-pandemia da Covid-19.

Guedes chamou o plano de "PAC da Dilma" e trocou críticas com Marinho, a quem chamou de traidor por conhecer a situação fiscal do país e, mesmo assim, pilotar um programa que incentiva gastos e poderá levar o governo ao descumprimento do teto, regra que corrige despesas pela inflação do ano anterior.

O plano, no entanto, é uma ferramenta importante para que Bolsonaro consiga retribuir aos deputados e senadores com verbas em troca de apoio a seus projetos no Congresso. Na quinta-feira (11), Guedes tomou outro corte depois de sua pasta enviar uma notificação ao Ministério da Justiça para saber os motivos que levaram a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor) a obrigar 65 redes de supermercados e cooperativas a apresentarem explicações sobre a alta do preço do arroz.

Em resposta, o próprio presidente Bolsonaro afirmou ter autorizado o ministro da Justiça e Segurança Pública, André Mendonça, a abrir investigação. A Economia queria saber se, com a notificação, a Senacon vai apurar se houve aumentos abusivos de preços ou se pretende criar mecanismos de controle de preços.

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