Como driblar a alta dos preços dos alimentos e manter a despensa cheia
Com inflação elevada e preços em alta, especialistas orientam sobre planejamento financeiro, compras estratégicas e alternativas para economizar sem abrir mão da qualidade na alimentação
A alta no preço dos alimentos tem sido uma das principais queixas dos consumidores brasileiros. No início do ano, o IBGE divulgou que a inflação de 2024 ficou em 4,83%. Entre os nove grupos monitorados pelo instituto, o de alimentos e bebidas teve um aumento expressivo de 7,69%, considerado muito acima da alta de 1,03% registrada em 2023. Para este ano, a expectativa do mercado é que a inflação chegue a 5,51%, segundo o Boletim Focus do Banco Central.
Os números mostram a realidade evidente nos mercados e feiras: o preço dos alimentos continua subindo e pesando no bolso dos brasileiros. E, com a inflação impactando o preço dos alimentos, os consumidores precisam adotar estratégias para manter uma alimentação equilibrada sem comprometer o orçamento.
Recentemente, em entrevista, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, assegurou que o governo “trabalha com afinco” para garantir a redução dos preços desses itens nos supermercados. Para isso, o presidente deve se reunir, ainda esta semana, com produtores de carnes e de arroz para debater medidas para baratear os alimentos.
“Eu não posso fazer congelamento (de preço), eu não posso ter fiscal para ir em fazenda para ver se o gado tá guardado ou não. O que a gente pode fazer é conversar com os empresários”, ressaltou Lula em entrevista a uma rádio baiana.
Impactos
Os impactos dessa alta atingem principalmente as famílias de baixa renda, que destinam uma parcela significativa de seus ganhos para a alimentação.
“Muitas dessas famílias gastam 30% ou mais da renda mensal apenas com alimentos. Com os preços elevados, há uma redução no poder de compra e, consequentemente, uma mudança nos hábitos alimentares, com substituição de produtos e até comprometimento da segurança alimentar”, alerta a professora doutora do Departamento de Ciências do Consumo da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Laurileide Silva.

Vilões
Entre os itens mais afetados pela inflação, destacam-se as carnes, que acumularam alta de 20,84% em 2024, além do café, com um aumento de 39,60%, e o açúcar, também fortemente impactado pela oferta restrita e pela elevação dos custos de produção.
“São diversos fatores que explicam essa escalada nos preços: condições climáticas adversas, a valorização do dólar e o aumento nos custos de produção, como transporte e insumos agrícolas, foram determinantes para esse cenário”, explica.
A professora ressalta que esses aumentos geram um efeito cascata na economia, afetando outros custos como energia, maquinário, combustível e logística, respingando ainda mais nos preços dos alimentos e, consequentemente, no custo de vida.
Pensando em saídas para economizar na hora de garantir os alimentos, a dona de casa Cristiane Soares tem preferido os mercados de bairro e compras semanais para tentar controlar melhor o valor gasto nos itens básicos. Para ela, o aumento dos preços tem sido progressivo.
“Na minha última compra, percebi um aumento bem grande no preço das frutas, verduras, feijão, leite e açúcar e não param de aumentar. O ovo também, comprei uma bandeja de ovos na semana passada por R$ 16,00 e agora já está custando R$ 20,00”, afirmou.
Cristiane ainda comenta que para diminuir o impacto no bolso na hora de abastecer o armário, tem feito substituições. Atenta ao que está em menor oferta, ela tem dado preferência ao frango e ovos no lugar da carne bovina, por exemplo.

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Estratégias
Para enfrentar esse cenário, as estratégias de economia se tornam indispensáveis. Laurileide destaca que o planejamento financeiro é fundamental. “Fazer uma lista de compras, comparar preços, usufruir de cupons de desconto e programas de fidelidade e evitar idas ao supermercado desnecessariamente, são atitudes simples que podem fazer diferença no final do mês”, orienta.
Além disso, ela recomenda que os consumidores busquem alternativas como feiras livres e mercados atacadistas, além de compras coletivas com familiares e vizinhos.
“Esses locais costumam oferecer produtos mais frescos e preços mais acessíveis, principalmente para quem compra em maiores quantidades”, acrescenta.
A professora também ressaltou a importância do programação familiar nas idas ao mercado, destacando que a presença das crianças pode influenciar nas escolhas e aumentar os gastos.
“Muitas vezes, os pais levam as crianças ao supermercado, e elas acabam pedindo produtos que não são essenciais, como salgadinhos e biscoitos”, afirmou. Segundo a professora, essa falta de critério pode gerar um custo extra para a família, tornando o planejamento financeiro ainda mais necessário.
Ela também enfatizou a necessidade do diálogo entre os membros da família, incluindo os adolescentes, para que todos participem da organização das compras.
“É fundamental que conversem e estabeleçam um planejamento que seja razoável para o orçamento e atenda às necessidades de todos”, orientou Laurileide Silva.
Grande Recife
O custo da cesta básica na Região Metropolitana do Recife (RMR) aumentou no primeiro mês de 2025, segundo pesquisa realizada pelo Procon-PE, órgão vinculado à Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Prevenção à Violência (SJDH).
O levantamento, feito no final de janeiro em 26 supermercados, revelou que o valor médio da cesta subiu R$ 5,56 em comparação a dezembro de 2024, chegando a R$ 668,55.
Esse montante compromete 44,04% do salário mínimo vigente, que passou a ser de R$ 1.518,00.
Os produtos de higiene tiveram as maiores variações de preço, com destaque para o absorvente (409,57%) e o sabonete (397,50%).
No setor de limpeza, o sabão em pó subiu 10,26%, enquanto o sabão em barra variou 136,51%. Entre os alimentos, a cebola aumentou 41,75%, enquanto a batata inglesa caiu 10,17%, ambas com diferenças superiores a 230% nos preços.
Já conforme o levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o custo da cesta básica no Recife atingiu R$ 598,72 em janeiro de 2025, registrando um aumento de 1,76% em relação a dezembro de 2024.
O valor da cesta básica comprometeu 42,64% da renda do trabalhador do mês passado, considerando o salário mínimo.
Entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, sete dos doze produtos que compõem a cesta básica apresentaram queda no preço médio: arroz (-3,03%), farinha de mandioca (-2,63%), feijão (-2,55%), leite (-2,14%), açúcar (-1,96%), carne (-0,65%) e banana (-0,40%).
Por outro lado, o tomate liderou os aumentos com alta de 20,68%, seguido pelo café (10,66%), óleo de soja (1,94%), manteiga (1,55%) e pão francês (1,35%).
No acumulado dos últimos 12 meses, o café teve o maior reajuste, com alta de 62,85%, seguido pelo óleo de soja (31,58%), carne (17,89%), tomate (17,67%) e leite (16,79%).
Também registraram aumento a banana (11,26%), manteiga (2,68%), arroz (2,15%), pão francês (1,88%) e açúcar (1,81%). Em contrapartida, o feijão carioca e a farinha de mandioca tiveram quedas expressivas de 22,63% e 21,17%, respectivamente.
