Logo Folha de Pernambuco

Orçamento

Congresso pressiona TCU para garantir Orçamento com emendas

Movimento faz parte da estratégia da cúpula do Congresso de enfraquecer o discurso do ministro Paulo Guedes, que defende um amplo veto a emendas parlamentares

Intenção do presidente Arthur Lira é preservar as emendas negociadas de última horaIntenção do presidente Arthur Lira é preservar as emendas negociadas de última hora - Foto: Pablo Valadares/Câmara dos Deputados

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e líderes do centrão têm atuado no TCU (Tribunal de Contas da União) para que o órgão não se posicione contra o Orçamento de 2021, apesar dos valores insuficientes para despesas obrigatórias, como aposentadoria e pensões.

Esse movimento faz parte da estratégia da cúpula do Congresso de enfraquecer o discurso do ministro Paulo Guedes (Economia), que defende um amplo veto a emendas parlamentares.

A intenção do presidente da Câmara é preservar as emendas negociadas de última hora e que destinam dinheiro a obras e projetos para bases eleitorais de congressistas.

Nos bastidores, Lira tem argumentado que o TCU é um órgão de assessoramento do Congresso e, por isso, não deve questionar a decisão do Legislativo, que aprovou o Orçamento no formato atual.

Lira conversou com integrantes do tribunal de contas nesta semana, quando era esperado um parecer da área técnica do órgão sobre o Orçamento de 2021.

O documento, no entanto, não apresentou conclusão sobre o assunto, dando fôlego às negociações do Congresso até o prazo de sanção do Orçamento -dia 22 de abril.

Além disso, a área técnica pode se posicionar de uma maneira, mas os ministros têm liberdade para tomar suas decisões independentemente do parecer de auxiliares.

O ministro da Economia defende o veto parcial do Orçamento e encontra resistência da cúpula do Congresso e de líderes dos principais partidos de centro.

Os congressistas argumentam que Guedes participou da negociação da peça e que age com deslealdade agora quando tenta rever valores combinados anteriormente.

O governo tem usado como argumento para vetar trechos do Orçamento o receio de que o TCU se posicione contra a peça e gere argumentos para reforçar pedidos de impeachment contra Bolsonaro, ao abrir brecha para o entendimento de que o presidente terá cometido crime de responsabilidade.

Dilma Rousseff (PT) foi alvo de impeachment após ter as contas reprovadas pelo TCU e ser acusada de ter praticado pedaladas fiscais.

Lira, por sua vez, já disse em conversas com Guedes e com o ministro da Casa Civil, Luiz Eduardo Ramos, que o responsável por tocar processos de impedimento contra o presidente é o Congresso e não o tribunal de contas.

Segundo relatos de congressistas, o deputado teria dito a Guedes que já tem na gaveta uma série de pedidos para afastar Bolsonaro e que mais um não faria diferença. Aliados de Lira pensam da mesma forma e têm a avaliação de que o Planalto precisa ser estratégico agora e priorizar a relação com os parlamentares.

O governo também teme outra consequência de uma eventual reprovação de contas pelo TCU: caso Bolsonaro seja condenado por um órgão colegiado, ele acaba enquadrado na Lei da Ficha Limpa e, por consequência, impedido de disputar a eleição.

Por causa do impasse, a semana terminou sem um acordo entre governo e Congresso. Bolsonaro ainda tende a vetar parcialmente o Orçamento.

Do outro lado, aliados de Lira e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), dizem que, até esta sexta (9), não havia a menor chance de a cúpula do Congresso ceder.

A queda de braço de Guedes com o Legislativo ampliou o desgaste do ministro com líderes do centrão, grupo formado por partidos como PP, PL, PTB e Republicanos.

Aliados do governo no Congresso reforçaram os pedidos pela saída do titular da Economia. No lugar dele, querem o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Embora tenha afirmado em jantar com empresários que Guedes não será demitido, em privado, Bolsonaro tem dado sinais de descontentamento com o auxiliar.

Segundo pessoas próximas, o presidente é grato ao ministro por ter lhe dado respaldo nas eleições de 2018 e assegurado o apoio de boa parte do mercado e de empresários.

Agora, porém, Bolsonaro reclama dos desgastes políticos que têm caído no colo dele em razão de constantes rusgas de Guedes com parlamentares. E isso num momento em que a popularidade do presidente cai e cresce a articulação na oposição pelo impeachment.

Se, até o fim do ano passado, líderes do centrão eram céticos quanto a uma eventual demissão do ministro, agora eles passaram a achar que Bolsonaro pode, sim, demiti-lo.

Na avaliação deles, seria apenas uma questão de tempo porque o presidente não o demitiria agora para não dar a entender que ele saiu por causa da briga do Orçamento, ou seja, atendendo a um pedido do Congresso.

Como parte da estratégia de garantir a sanção integral do Orçamento, inclusive das emendas parlamentares, congressistas pediram pareceres de consultorias da Câmara e do Senado sobre possíveis efeitos do ato de Bolsonaro em relação ao projeto aprovado.

Técnicos do Congresso concluíram que, se sancionar o Orçamento sem vetos, Bolsonaro não cometerá crime de responsabilidade.

Os documentos devem ser usados pela cúpula do Legislativo para tentar convencer o presidente a não derrubar parte do projeto.

O Congresso aceita ceder em até R$ 13 bilhões de um total de R$ 29 bilhões, mas prefere a sanção integral desta parte do Orçamento. O ajuste nas contas seria feito depois, com a aprovação de proposta de alteração de gastos.

"O presidente estaria adotando todas as medidas necessárias para o ajuste e a execução de todas as despesas obrigatórias, bem como o fiel cumprimento de todas as regras fiscais, inclusive as referentes ao teto de gastos e a meta fiscal, não incorrendo em crime de responsabilidade, salvo melhor juízo", diz uma das notas técnicas do Congresso.

O teto de gastos é uma norma constitucional que impede o crescimento das despesas acima da inflação. A meta fiscal é o alvo do resultado entre receitas e despesas primárias do governo.

A equipe de Guedes, porém, afirma que, se Bolsonaro sancionar um Orçamento com recursos insuficientes, correrá o risco de ser enquadrado em crime de responsabilidade.

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter