Copom considerou alta de juros na decisão passada, diz ata da reunião
A decisão foi de esperar a publicação de indicadores econômicos mais recentes para definir os próximos passos
Alguns membros do Copom (Comitê de Política Monetária), do Banco Central, consideraram subir a taxa básica de juros (Selic) já na reunião da última quarta-feira (20), sob o risco inflacionário. A maioria, no entanto, decidiu esperar a publicação de indicadores econômicos mais recentes para definir os próximos passos, de acordo com a ata do encontro divulgada nesta terça-feira (26).
Na ocasião, o BC manteve a taxa a 2% ao ano, renovando a mínima histórica, mas abandonou o compromisso de não subir juros, chamado de "forward guidance".
Segundo o documento, as projeções para inflação estão ao redor da meta fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional), de 4%, mas dentro da tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. Além disso, "os riscos fiscais geram um viés de alta nessas projeções".
"Os membros do Copom discutiram o impacto dessa assimetria no balanço de riscos [de alta na inflação] no grau apropriado de estímulo monetário. Em particular, alguns membros questionaram se ainda seria adequado manter o grau de estímulo extraordinariamente elevado [Selic baixa], frente à normalização do funcionamento da economia observada nos últimos meses", diz o texto. Com a pandemia do novo coronavírus, a autoridade monetária teve que cortar juros para estimular a economia e conter o movimento de deflação (queda nos preços) gerado especialmente pela queda no consumo. Nos últimos meses, contudo, os preços voltaram a subir e as expectativas do mercado para a inflação de 2021 e 2022 também se elevaram.
"Desde a reunião do Copom de maio de 2020, quando se passou a caracterizar o grau de estímulo monetário desejado como 'extraordinário', observou-se a inversão do choque desinflacionário [de queda nos preços] ocorrido nos primeiros meses do ano, a reversão da trajetória de queda das expectativas de inflação e a redução da ociosidade econômica [baixa atividade], aproximando a projeção do cenário básico da meta de inflação no horizonte relevante", argumentou o documento.
Com a retirada do "forward guidance", que é um instrumento adicional de política monetária, o Copom voltará a analisar o cenário econômico geral a cada reunião e poderá elevar a Selic, mas não especificou quando. No mercado, estima-se que os juros possam subir ainda no primeiro semestre e que terminem o ano pouco acima de 3%.
Desde setembro, o Copom afirma que a alta nos preços, principalmente de alimentos e combustíveis, é temporária e deverá arrefecer no primeiro trimestre. Na última decisão, porém, o BC admitiu que o movimento tem se prolongado além do esperado.
"Esses membros julgam que o Copom deveria considerar o início de um processo de normalização parcial, reduzindo o grau 'extraordinário' dos estímulos monetários", detalhou.
Por fim, o comitê concluiu que, apesar da flexibilização do isolamento e da normalização no funcionamento de alguns setores, ainda há incertezas na evolução de alguns indicadores.
"As próximas divulgações serão muito informativas sobre a evolução da pandemia, da atividade econômica e da política fiscal. Sendo assim, os benefícios de se aguardar essas divulgações para decidir os próximos passos da política monetária se sobrepõem aos custos. Por isso, o Copom julgou apropriado manter, neste momento, o grau extraordinariamente elevado de estímulo monetário", justificou a ata.
O texto traz ainda a preocupação do BC com a retomada da atividade econômica brasileira. Para o Copom, a evolução da pandemia e o fim do auxílio emergencial podem gerar um crescimento ainda mais gradual ou "até uma reversão temporária da retomada econômica".
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Alguns membros argumentaram que dados do mercado de trabalho formal sugerem que a atividade tenha recuperação mais rápida do que o previsto, mas a maioria considerou que "outros dados do mercado de trabalho não avalizam essa conclusão".
O controle da inflação é a principal atribuição da autoridade monetária. Para isso, o BC define a meta da taxa básica de juros.
Quando a inflação está alta, o Copom sobe os juros com o objetivo de reduzir o estímulo na atividade econômica, o que diminui o consumo e equilibra os preços. Caso contrário, o BC pode reduzir juros para estimular a economia.