CrowdStrike: como uma empresa pouco conhecida causou um apagão cibernético global? Analistas falam
Falha cibernética causada por atualização da CrowdStrike expôs vulnerabilidades na governança e na segurança da indústria
A falha cibernética global que derrubou sistemas de aeroportos, bancos, emissoras de televisão e até hospitais ao redor do mundo é inédita, na repercussão que tomou, e vai exigir que toda a indústria de software repense seus padrões de governança e de testes de segurança, avaliam especialistas.
A pane, que aconteceu após uma atualização do sistema de segurança da CrowdStrike, afetou milhares de computadores que usam o Windows, sistema operacional da Microsoft que está em mais de 70% dos computadores do mundo.
— A falha escancarou o nível de responsabilidade da indústria. O primeiro impacto para a empresa é o da imagem da CrowdStrike. Também vamos acompanhar agora como serão os debates sobre responsabilidade civil, já que a pane gerou danos para outras empresas, que terão prejuízos — diz Francisco Camargo vice-presidente do conselho da Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES).
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Ainda não está claro quantos computadores, usuários ou empresas foram atingidos pela pane.
Com 29 mil clientes ao redor do mundo, a CrowdStrike pode parecer desconhecida para o público geral, mas é uma das líderes do mercado de proteção cibernética para terminais.
Em 2022, a empresa chegou na liderança no mercado de US$ 8,6 bilhões de de segurança endpoint (que protege os dispositivos finais), com participação de 17,7%.
Desde então, fica entre o segundo e primeiro lugar na liderança da maior fatia desse setor.
A principal solução da companhia é o Falcon Sensor, que fornece detecção e resposta a ameaças cibernéticas de computadores, dispositivos de internet das coisas e até caixas eletrônicos contra atividades maliciosas.
Foi justamente uma falha na atualização desse sistema que gerou o BSOD, a "tela azul da morte" em português, em milhares de computadores que operam com o Windows.
— O software busca proteger os equipamentos que estão na ponta da rede. Para fazer isso, ela instala um agente que fica 100% do tempo atuando com as contramedidas que ele têm dentro do software dele para identificar as ameaças e tomar as ações de forma automática — afirma Geraldo Guazzeli, diretor da empresa de segurança cibernética Netscout.
A falha atingiu o sistema operacional de computadores mais popular do mundo porque foi uma atualização feita especificamente para o Windows, acrescenta Guazzeli.
Por isso o problema não afetou sistemas da Apple ou Linux, por exemplo.
Ele lembra que esse tipo de atualização faz parte da operação das empresas de softwares de cibersegurança, e funcionam para corrigir vulnerabilidades, melhorar o desempenho do sistema de proteção ou incluir novas funcionalidades para garantir a eficácia do software contra ameaças.
— Eles devem ter encontrado alguma vulnerabilidade ou falha no Windows que eles trataram de corrigir, com a atualização do sistema para um camada de proteção contra essa nova ameaça. Foi aí que a falha aconteceu. — acrescenta Camargo, da ABES.
Geralmente, a atualização desses sistemas acontece primeiro em ambientes de testes, em pequena escala, para depois serem levados ao mercado. Nesse caso, a falha poderia ter sido evitada se a empresa tivesse adotado processos mais rigorosos de testes e controles, avaliam especialistas.
O software da CrowdStrike, segundo a própria empresa, é usado por 298 companhias da Fortune 500, uma lista anual compilada e publicada pela revista Fortune, que classifica as 500 maiores empresas dos Estados Unidos.
A empresa é relativamente nova, foi fundada em 2012, mas desde então conseguiu contratos importantes em setores chaves da economia americana, o que ajuda a explicar o tamanho do estrago gerado.
A falha escancara as brechas de governança para empresas de tecnologia, especialmente em segurança digital, avalia Pedro Henrique Ramos, sócio da área de tecnologia do Baptista Luz e professor de direito digital do Ibmec.
— Essa falha mostra que as empresas precisam ter uma visão mais abrangente sobre governança digital, que é mais ampla que a proteção de dados pessoais. Também que as companhias têm de ter um plano de ação de resposta para quando falhas desse tipo acontecerem.
Pelo X, o CEO da CrowdStrike, George Kurtz, afirmou que o problema na atualização já foi identificado, isolado e uma correção havia sido instalada.