Custo dos incêndios na Califórnia deve ser o maior na História dos EUA, acima de US$ 50 bi
Considerando apenas as seguradoras, prejuízo deve somar até US$ 20 bilhões se fogo não for controlado logo, o que vem sendo apontado como a maior crise do setor no país
Incêndios florestais que estão consumindo grandes áreas de Los Angeles devem se tornar um dos desastres naturais mais caros do país, com prejuízo entre US$ 10 bilhões e US$ 20 bilhões apenas para as seguradoras. A perda econômica total, incluindo danos com perdas de mercadorias e imóveis por exemplo, deve ultrapassar US$ 50 bilhões, diz a imprensa americana.
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Embora uma estimativa preliminar da Morningstar DBRS aponte perdas seguradas superiores a US$ 8 bilhões, alguns cenários podem elevar os custos. Estimatimas da Bloomberg apontam para uma dezena de bilhões de dólares, enquanto o jornal americano Wall Street Journal cita até US$ 20 bilhões se o fogo não for controlado logo.
Os incêndios florestais aumentam a pressão sobre o mercado de seguros residenciais da Califórnia, que enfrenta uma crise crescente nos últimos anos. As seguradoras tradicionais têm reduzido suas operações no estado, culpando o aumento dos custos de catástrofes naturais e as rigorosas regulamentações de preços.
A State Farm General Insurance e o Farmers Group, uma unidade do Zurich Insurance Group, são os principais provedores de seguros residenciais na Califórnia. A State Farm anunciou no ano passado que cortaria cerca de 72 mil apólices de residências, apartamentos e negócios no estado, citando a inflação e a exposição a catástrofes.
— Eu sei que não deveria estar aqui, mas esta é a casa dos meus pais, e eles acabaram de perder — tiveram o seguro contra incêndios cancelado. Então, estão lidando com isso — disse Lynne Levin-Guzman à afiliada da CNN, a KABC.
Ela tentava proteger a casa de seus pais no condado de Los Angeles, na Califórnia, com uma mangueira de jardim, porque a seguradora contratada por eles não o faria mais:
— Eles vivem nesta casa há 75 anos e sempre tiveram o mesmo seguro, mas essas empresas decidiram cancelar o seguro contra incêndios.
A experiência de Lynne e seus pais está se tornando cada vez mais comum. Entre 2020 e 2022, as seguradoras se recusaram a renovar 2,8 milhões de apólices residenciais no estado, de acordo com os dados mais recentes do Departamento de Seguros da Califórnia citados em reportagem da CNN. Isso inclui 531 mil no condado de Los Angeles, afetada por devastadores incêndios florestais.
Nos últimos anos, o problema vem se agravando, reportou o Comissário de Seguros do Estado, Ricardo Lara, e grupos de consumidores. Isso porque as seguradoras da Califórnia têm se recusado a emitir novas apólices em áreas que consideram de alto risco de incêndios florestais, que correspondem a uma grande parte do estado da Califórnia.
O problema das apólices canceladas forçou alguns proprietários de imóveis a ficarem sem seguro contra incêndios ou a recorrerem ao plano California Fair — programa criado pelo estado mas sem apoio de contribuintes. As apólices do California Fair têm prêmios mais altos que os seguros privados tradicionais e oferecem menos cobertura, frequentemente exigindo que os proprietários comprem cobertura adicional a custos ainda mais elevados.
E embora o Fair seja uma provedora de último recurso, a demanda por suas apólices disparou. De acordo com a CNN, sua exposição para residências em setembro aumentou 61%, alcançando US$ 458 bilhões em comparação ao ano anterior, e triplicou nos últimos quatro anos. A exposição para apólices comerciais cresceu ainda mais rapidamente, quase dobrando para US$ 26,6 bilhões em setembro, um aumento de 464% nos últimos quatro anos.
Já a exposição do plano ao Pacific Palisades, um subúrbio de Los Angeles cobiçado por celebridades e estrelas de Hollywood, e um dos mais afetados pelos incêndios desta semana, é hoje de cerca de US$ 5,9 bilhões.
Em comunicado divulgado na quarta-feira, o California Fair tentou tranquilizar os proprietários preocupados, afirmando estar preparado para lidar com as reivindicações decorrentes dos grandes incêndios desta semana.
"O Fair Plan, que é principalmente um seguro contra catástrofes, está preparado para isso e está ativamente atendendo aos clientes que fizeram reivindicações. O Fair Plan tem mecanismos de pagamento em vigor, incluindo resseguros, para garantir que todas as reivindicações cobertas sejam pagas", diz o comunicado.
Alternativa ao California Fair
O Departamento de Seguros da Califórnia anunciou há duas semanas novas regulamentações para incentivar seguradoras privadas a emitir apólices em áreas propensas a incêndios, uma alternativa ao California Fair. Pelas novas regras, as seguradoras devem oferecer apólices em áreas de alto risco equivalentes a pelo menos 85% de sua participação de mercado em todo o estado.
Mas, ressalta a CNN, a nova política permite que seja incluído o custo de resseguros — apólices compradas de outras empresas para dividir os riscos — no cálculo das taxas, algo que as seguradoras buscavam há anos. A Califórnia era o único estado que não permitia que o custo dos resseguros fosse incluído nesses cálculos.
Os custos de resseguros têm aumentado devido aos riscos das mudanças climáticas e ao aumento dos custos de mão de obra, madeira e outros materiais. Como resultado, é provável que as taxas cobradas pelas seguradoras privadas aumentem ainda mais. Grupos como o Consumer Watchdog criticaram duramente a nova política, argumentando que ela pode elevar as taxas em 40% a 50%.
Danos crescentes
Os danos totais e as perdas econômicas causados pelos incêndios em Los Angeles — que incluem prejuízos não segurados e impactos econômicos indiretos, como salários perdidos e interrupções na cadeia de suprimentos — devem ficar entre US$ 52 bilhões e US$ 57 bilhões, os mais caros da história da Califórnia e dos EUA, segundo uma estimativa preliminar da Accuweather Inc.
Espera-se que seguradoras globais paguem mais de US$ 135 bilhões por catástrofes naturais em 2024, de acordo com um relatório do Swiss Re Institute publicado no mês passado.