Mulheres que seguem derrubando barreiras no trabalho
No Dia Internacional da Mulher, revelamos trabalhadoras que conquistaram seu espaço na profissão que escolheram
As mulheres por muito tempo sofreram com estereótipos e foram relegadas a determinadas funções na sociedade. Eram consideradas aptas apenas aos trabalhos domésticos e cuidado dos filhos. Com muita luta, essa realidade foi sendo transformada e hoje as mulheres realizam as atividades que querem, onde cada uma se vale de suas habilidades e talento. Neste Dia Internacional da Mulher, a Folha de Pernambuco buscou três mulheres que atuam em profissões consideradas masculinas, marcando presença em todo o mercado de trabalho.
A aviação, por exemplo, é um mercado historicamente masculino, onde as mulheres correspondem a 3% do total de licenças para comandar voos comerciais, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Mesmo com uma taxa tão baixa, o número de mulheres com licença para voar como piloto comercial de avião subiu 64% de 2015 a 2018.
Uma dessas mulheres é a copiloto da companhia aérea Gol, Ana Laysa, de 30 anos. Nordestina, natural de Campina Grande, na Paraíba, ela conta que a identificação pela profissão existe desde a juventude. “Desde criança sempre fui muito apaixonada pela aviação, meus pais viajavam muito, cresci indo para o aeroporto. Isso foi despertando meu interesse e com 17 anos fui pra essa área, fiz um curso prático e faculdade de aviação civil. Nunca trabalhei em outra área, sempre estive no meio da aviação”, disse.
Ana afirma que o preconceito nesse mercado atualmente é menor, e uma forma de ter mais mulheres no meio são os cursos de graduação. “Já não existe mais aquele preconceito direto. As tripulações estão mais maduras. Poderia ter mais mulheres, mas o importante é que quando a gente quer muito algo, não devemos deixar que ninguém diga que o lugar não é pra nós. Quem não tem conhecimento deve fazer os cursos, pode ser que venha a ser uma exigência, e conhecer bem a língua inglesa”, aconselha.
Ana Laysa é copiloto de avião da Gol. Para ela, graduação é melhor caminho para realizar um sonho
Outro setor ainda com poucas mulheres atuando é o de barbearia, profissão de Renata Porfírio. Com 39 anos, ela mudou de profissão aos 36.
“Na adolescência trabalhei no salão de uma tia, mas não me interessava. Me formei em publicidade e ajudava ela aos sábados, até que chegou um período em que tive problemas de saúde. Eu quis fazer tudo diferente, fiz teatro, um musical e foi aí onde quebrei um bloqueio, um preconceito intelectual. Fiz curso de barbearia no Senac e um curso internacional de beleza, fui pra uma barbearia clássica e tenho quase três anos no emprego atual”, contou a barbeira.
Renata destaca ainda que a presença feminina na área é pequena, mas as pessoas respeitam o seu trabalho. “Até hoje tem pessoas com preconceito, mas também tem clientes que preferem mulher. Quando fiz o curso, praticamente só tinha eu. Vou fazer 40 anos, e decidi mudar de carreira quando tinha 36. Não existe idade para uma nova profissão, se você se dedicar pode fazer qualquer coisa. Na minha cabeça, determinar se é competente ou não pelo gênero é arcaico”, afirmou.
A engenheira de rede da operadora TIM, Gleyse Kelly é mais uma mulher que atua em uma profissão com mais homens no mercado. Com 29 anos, ingressou na empresa como jovem aprendiz e foi buscando novos cargos, até ter a função de verificar a qualidade das antenas da operadora.
Segundo Gleyse, as mulheres encontram dificuldades para ocupar cargos de gestão. “Não apenas por ser mulher, mas por ser uma mulher negra. Logo no começo da minha vida profissional percebi como era grande essa disparidade de gênero. Hoje em dia ainda vejo uma barreira para mulheres em cargos de liderança na área de Engenharia. Mas acredito que podemos alcançar esses cargos. As iniciativas das empresas neste sentido, a fim de promover ambientes mais equilibrados, também contam muito. É muito importante essa representatividade”, contou.
Pode melhorar
Apesar da evolução que a presença feminina no mercado de trabalho apresentou nos últimos anos, especialistas da área afirmam que mudanças ainda precisam acontecer para se ter uma igualdade de gênero maior no mercado.
A diretora de Diversidade e Inclusão da EY no Brasil, Adriana Carvalho, conta que com a pandemia o cenário mudou pelo fato de muitas mulheres terem perdido o emprego, reforçando a desigualdade. “Nos últimos 50 anos houve uma evolução muito grande, mulheres atuando em profissões tradicionalmente masculinas, coisa que não existia. Tem que fazer esforço na base para atrair mulheres como a gente gostaria. É preciso realizar campanhas que mostrem que as mulheres estão na tecnologia, na indústria, em cursos profissionalizantes com homens como referência. Isso ajuda a formar a imagem de que a mulher pode estar onde quiser”, contou.
Na avaliação da procuradora-chefe da Procuradoria da Fazenda Estadual (PFE), Fernanda Braga, deve existir um trabalho para mudar a cultura patriarcal da sociedade. “Aqui ainda temos essa cultura patriarcal, de menosprezar o trabalho feminino doméstico. São muitas dificuldades de liderança. As mulheres têm interesse, só não têm tempo e oportunidade para isso. Não é somente discutir as pautas relevantes, não queremos ficar nesse nicho, temos vontade de outros debates, tem um bom caminho a ser galgado”, declarou.