Destituição do presidente da Fiesp foi golpe, diz Miguel Reale
Para jurista, decisão da assembleia foi reação à assinatura de manifesto pela democracia
O advogado Miguel Reale Júnior classificou como "um golpe" a destituição do empresário Josué Gomes da Silva da presidência da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo ele, a assembleia que decidiu retirar o dirigente do cargo foi clandestina, já que não houve qualquer acusação formal contra ele. O presidente da Fiesp foi destituído do cargo nessa segunda-feira (16) por 47 votos a um a favor de sua permanência no cargo, com duas abstenções.
O jurista afirmou, no entanto, que Josué ainda não decidiu pela disputa judicial.
— Foi um golpe, uma afronta absoluta às normas estatutárias. Nunca houve acusação formal e, se houvesse, ele teria dez dias para apresentar sua posição. Ele foi destituído porque fez um manifesto a favor da democracia — afirmou Reali Junior.
O manifesto da Fiesp a favor da democracia foi lançado em agosto passado, antes da eleição, e foi assinado por cerca de 90 entidades. Internamente, porém, a adesão foi baixa. Apenas 18 dos 131 sindicatos que formam a entidade assinaram o documento. Na ocasião, o então presidente Jair Bolsonaro reclamou do documento em uma live. Afirmou que ele era, na realidade, um manifesto a favor do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.
Leia também
• Entenda o que é e o que faz a Fiesp
• Por que Josué Gomes foi destituído do comando da Fiesp? Entenda
• Fiesp decide destituir Josué Gomes da presidência, mas votação será questionada
A destituição de Gomes ocorreu após uma assembleia na qual ele respondeu 12 perguntas apresentadas pelo grupo opositor. Na primeira assembleia, os sindicatos reprovaram, por 62 a 24, os argumentos apresentados por ele aos questionamentos sobre sua atuação no cargo. Gomes deixou a sede da Fiesp depois do término desta votação.
Na sequência, porém, os que permaneceram no local abriram uma segunda assembleia, com quórum menor, e aprovaram a destituição do presidente. Os argumentos foram "grave violação do estatuto" e "conduta incompatível com a ética".
Para Reale Junior, as perguntas apresentadas a Gomes eram "inodoras" e foram todas respondidas. O jurista afirma que muitos dos sindicatos que votaram pela destituição são entidades de "gaveta", sem representação efetiva, e que os grandes setores industriais do estado manifestaram apoio a Gomes.
Caso o empresário decida ir à Justiça contra sua destituição, o jurista afirmou que será buscada a nulidade da segunda assembleia, aberta depois do término da primeira.