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ELEIÇÕES 2020

Dinheiro privado nas eleições supera R$ 1 bilhão, puxado por senador e fundadores de Localiza e Cosa

No topo do ranking das doações, com R$ 3,5 milhões, estão os irmãos José Salim Mattar Jr. e Eugenio Pacelli Mattar

DinheiroDinheiro - Foto: Agência Brasil

O dinheiro privado nas eleições de 2020 já chegou a R$ 1,2 bilhão, de acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral, superando o patamar de 2018, que ficou de R$ 1,1 bilhão, em valores já corrigidos. Na lista dos maiores financiadores da campanha, destacam-se os irmãos Mattar, da Localiza, Rubens Ometto, da Cosan, e o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).

Apesar da proibição de que empresas banquem os candidatos, decisão tomada há cinco anos, o poderio empresarial continua influente, já que donos e executivos das empresas podem fazer doações, limitadas a 10% de seus rendimentos.

Se até 2015 o mapa do financiamento eleitoral dos políticos era formado por grandes bancos, empreiteiras e outras gigantes nacionais, agora figuram no topo da lista fundadores e dirigentes de empresas de grande e médio porte, além de expoentes do meio agropecuário.

De acordo com o TSE, doações de pessoas físicas -aí incluídos os empresários, pessoas comuns e vaquinhas virtuais- somam R$ 830 milhões, já descontados dessa conta erros de declaração de candidatos do interior que, ao digitarem erroneamente zeros a mais, acabam aparecendo vez ou outra como líderes dos rankings de doadores.

Já os candidatos que se autofinanciaram são responsáveis pela aplicação de R$ 370 milhões, também já descontados dessa conta os erros de declaração mais evidentes.

No topo do ranking das doações, com R$ 3,5 milhões, estão os irmãos José Salim Mattar Jr. -fundador da empresa de aluguel de veículos Localiza e secretário de Desestatização do governo Jair Bolsonaro até agosto- e Eugenio Pacelli Mattar, diretor-presidente da empresa.

Apesar de terem feitos doações para políticos de vários partidos, em especial de centro e de direita, os principais nomes apoiados pelos irmãos naufragaram nas urnas.

Mendonça Filho (DEM), ex-ministro da Educação, ficou em terceiro e acabou de fora do segundo turno da disputa pela Prefeitura do Recife. O candidato do governador Romeu Zema (Novo) à Prefeitura de Belo Horizonte, Rodrigo Paiva (Novo), teve um desempenho bem pior, ficando na quinta colocação com apenas 3,63% dos votos válidos.

Há quatro anos, Salim Mattar fez doações no total de R$ 370 mil. Em 2018, ano de eleições gerais, saltou para R$ 2,9 milhões, com destaque para Zema, que recebeu R$ 700 mil. Maior empresa de locação de veículos do país, a Localiza é sediada em Belo Horizonte.

Em nota encaminhada por sua assessoria, Eugênio Mattar afirmou que "o voto e o envolvimento na política são importantes vias de mudança de realidade e crescimento de um povo", que a democracia se pauta pela atuação cidadã das pessoas e que seu apoio individual a candidatos é uma forma de participação legítima no desenvolvimento de uma sociedade democrática e plural.

"Representa o apoio cidadão a causas consideradas relevantes e que devem ser debatidas pela sociedade. E isso independe do resultado das eleições", disse, ressaltando que seu maior investimento para a transformação da realidade brasileira é destinado à filantropia", que classifica como sua maior paixão.

"Esse investimento tem gerado benefícios na educação e no fomento ao empreendedorismo de muitas comunidades. O investimento na política é uma ação complementar, por meio da qual podemos impactar a vida de milhões de pessoas de forma mais abrangente e estruturante." Salim Mattar não se manifestou.

O segundo no ranking dos maiores doadoras é o empresário Rubens Ometto Silveira Mello, presidente do conselho de administração da Cosan, uma das maiores empresas do país, que atua no setor de energia e combustíveis, entre outros. Ele doou R$ 2,3 milhões, também a vários candidatos, em especial a Bruno Covas (PSDB), que foi para o segundo turno em São Paulo, ao Cidadania de São Paulo, que está na coligação de Covas, e a Mendonça Filho (DEM).

O atual prefeito de São Paulo tem até o momento a campanha mais cara do país, com R$ 18,4 milhões de receita, 82% dela de origem pública e 18%, privada. Entre seus doadores, uma lista de empresários, entre eles Jorge Mitre, fundador do Hospital de Olhos, com R$ 230 mil, e Ometto, com R$ 200 mil.

O executivo da Cosan foi o principal financiador privado da campanha de 2018, com R$ 7,5 milhões. Em resposta às perguntas enviadas, Ometto afirmou apenas, em nota, que "as doações eleitorais foram realizadas em caráter pessoal e seguem as regras estabelecidas pelo Tribunal Superior Eleitoral e demais normas aplicáveis".

O terceiro da lista dos grandes doadores é o senador e empresário Eduardo Girão (Podemos-CE), com R$ 1,7 milhões, que injetou recursos principalmente na campanha de Capitão Wagner (PROS) a prefeito de Fortaleza -o candidato disputa o segundo turno- e na campanha de Emilia Pessoa (PSDB), que chegou em terceiro e está fora da disputa pela Prefeitura de Caucaia (CE).

Também em nota, o senador afimou que fez doações por acreditar que a política é um dos principais caminhos para a transformação social com justiça, paz e progresso, e que segue o limite de doação de até 10% da renda bruta anual. "Escolhi doar para candidatos que convergem nas causas que acredito e abraço há tempos, bandeiras que também motivaram a minha entrada na vida pública, como, por exemplo, a defesa da vida desde a concepção, contra o aborto, por uma vida saudável, contra a liberação das drogas, contra a liberação dos jogos de azar, pela defesa da prisão em segunda instância e da Operação Lava Jato", afirmou.

Até as eleições de 2014, bancos, empreiteiras e outros pesos-pesados do PIB nacional respondiam pela maior parte do financiamento empresarial. Naquela eleição, o gasto declarado pelos candidatos ficou em torno de R$ 5 bilhões (valor da época), com cerca de 60% saídos dos cofres de empresas como JBS, Odebrecht e Bradesco.

As duas primeiras se tornaram pivôs dos principais escândalos de corrupção no Brasil, nos últimos anos, sob suspeita de repassar propina a políticos em troca de benesses na máquina pública. Em 2015, o STF (Supremo Tribunal Federal) proibiu o financiamento empresarial das campanhas sob o argumento de que a prática desequilibrava a disputa e representava a captura da política pelo poderio econômico.

"A influência do poder econômico culmina em transformar o processo eleitoral em jogo político de cartas marcadas e o processo eleitoral em odiosa pantomima, que faz do eleitor um fantoche", afirmou a ministra Rosa Weber, durante o julgamento. Além de o limite de 10% dos rendimentos do doador permitir que cidadãos com altos ganhos direcionarem volumes consideráveis para as campanhas, não há impedimento para executivos de uma mesma empresa façam doações em conjunto, prática verificada em 2016, 2018 e também neste ano.

Após a proibição do STF, em 2016 os gastos eleitorais no país ainda foram predominantemente privados, mas em menor volume –R$ 1,13 bilhão de autofinanciamento e R$ 1,35 bilhão de doações de pessoas físicas, em especial empresários. Naquela disputa municipal, os doadores campeões foram os irmãos Alexandre e Pedro Grendene, com R$ 6,6 milhões, em valores da época, para vários partidos e candidatos.

Eles também fizeram expressivas doações em 2018 (R$ 2,1 milhões) e, na atual disputa municipal, já fizeram repasses que somam R$ 1,2 milhão. Em 2018, nas eleições para presidente, congressistas, governadores e deputados estaduais, o dinheiro privado deixou, pela primeira vez, de ser a principal fonte dos candidatos, já que o Congresso criou o Fundo eleitoral, que, ao lado do Fundo Partidário, se tornou a principal fonte de receita. Os dois fundos somam, atualmente, cerca de R$ 3 bilhões de orçamento.

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