Diretor do FMI criticado por Milei abandona negociações do Fundo com a Argentina
Presidente argentino criticou indiretamente economista chileno, que foi ministro do governo de esquerda da presidente Bachelet, insinuando que ele teria participado do Foro de São Paulo
O diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a América Latina e o Caribe, Rodrigo Valdés, "abandonou plenamente as negociações" com a Argentina, após ter sido criticado pelo presidente argentino Javier Milei, informou nesta quinta-feira uma porta-voz do FMI.
Valdés delegou as negociações com a Argentina para outros funcionários "para apoiar melhor o atual compromisso construtivo com as autoridades argentinas", disse Julie Kozack, diretora de comunicações do Fundo, durante uma coletiva de imprensa em Washington.
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A partir de agora, os encarregados de negociar com o país sul-americano serão Luis Cubeddu, diretor adjunto para a região, e Ashvin Ahuja, chefe da missão Argentina, acrescentou.
De acordo com Julie, o trabalho deles será "supervisionado diretamente pela administração do Fundo".
A relação entre o FMI e o governo argentino tem sido mais fluida desde que Milei chegou ao poder em dezembro passado, mas nunca houve uma boa sintonia entre o presidente ultraliberal e Valdés.
Em junho passado, Milei criticou o economista chileno de forma implícita, sem nomeá-lo, considerando-o um representante do Foro de São Paulo, uma coalizão de partidos de esquerda, por ter sido ministro da Economia do Chile durante o governo de Michelle Bachelet.
Segundo meios de comunicação argentinos, mais tarde Milei o acusou de ter "má intenção manifesta".
"Ele não quer que a Argentina se saia bem", afirmou a imprensa local.
Em julho, a diretora-geral do FMI, Kristalina Georgieva, expressou seu apoio ao economista chileno, que finalmente se afastou das negociações.
Julie Kozack reiterou que, até meados de 2024, "os objetivos fiscais e de reservas" incluídos no programa de crédito de US$ 44 bilhões que o país tem com o FMI foram cumpridos. Em abril, ela admitiu que o progresso alcançado pelo governo do presidente argentino é "impressionante", mas "o caminho para a estabilização nunca é fácil".
"A implementação do programa resultou em uma redução considerável da inflação e há sinais de uma incipiente recuperação da atividade econômica e dos salários reais", enfatizou a diretora da Comunicação do FMI.
A Argentina está imersa em uma forte recessão econômica, com metade da população na pobreza.
No primeiro semestre deste ano, o país obteve o primeiro superávit fiscal desde 2008, por meio de um drástico corte de gastos, que resultou em milhares de demissões, na paralisação de obras públicas, na redução do orçamento para universidades, pesquisa e subsídios para tarifas de serviços públicos.