Divergências sobre taxação mundial dos super-ricos marcam reunião do G20
A iniciativa de taxar os super-ricos é impulsionada no G20 pelo presidente Lula
Os Estados Unidos se opuseram nesta quinta-feira (25) à criação de um imposto global sobre as grandes fortunas, mas o Brasil comemorou que a reunião de ministros do G20 no Rio de Janeiro tenha marcado "o primeiro passo" para materializar a ideia ambiciosa.
A iniciativa de taxar os super-ricos é impulsionada no G20 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que este ano preside o grupo das maiores economias do planeta.
A secretária do Tesouro americana, Janet Yellen, afirmou em coletiva de imprensa durante as reuniões do G20 que os Estados Unidos se opõem a um imposto coordenado.
"Não vemos a necessidade nem acreditamos que seja desejável tentar negociar um acordo global sobre esse tema", disse a secretária. "Os Estados Unidos apoiam firmemente um sistema tributário progressivo, que garanta que indivíduos muito ricos e de alta renda paguem sua parte justa", acrescentou.
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Embora não haja consenso sobre esse ponto, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comemorou as discussões e disse que a declaração que será emitida nesta sexta-feira representa um primeiro passo reconhecido pelos 20 membros do grupo.
O texto final contemplará "a proposta brasileira de começar a pensar a tributação internacional, não apenas do ponto de vista das empresas, mas também do ponto de vista dos indivíduos chamados super-ricos", afirmou Haddad após o primeiro dia de reuniões, nesta quinta-feira. "É uma conquista de natureza moral", reforçou.
Ministro da Fazenda, Fernando Haddad - Foto: Pablo Porciuncula/AFP
'Primeiras etapas'
Um participante das reuniões disse à AFP que atualmente "não há consenso para criar um imposto global sobre o capital dos bilionários", mas o objetivo é "que o tema esteja na ordem do dia e discutir as primeiras etapas", acrescentou a fonte.
A proposta de impulsionar do G20 um imposto global aos mais ricos surgiu no começo do ano e pouco a pouco obteve o apoio de vários países, como França, Espanha e África do Sul.
O economista francês Gabriel Zucman estima que a taxa de impostos que os bilionários pagam seja de apenas 0,3% de sua riqueza. Em um relatório recente elaborado a pedido do Brasil, Zucman propôs criar um imposto de 2% sobre as fortunas de cerca de três mil bilionários.
Mas não apenas os Estados Unidos rejeitam esta proposta. Às vésperas do G20, o Ministério das Finanças alemão considerou a ideia "pouco pertinente".
As desigualdades continuaram aumentando nos últimos anos, segundo um estudo da ONG Oxfam publicado nesta quinta-feira: o 1% mais rico do mundo viu sua riqueza crescer em mais de US$ 40 trilhões (R$ 225 trilhões, na cotação atual), mas sua tributação é "historicamente" baixa.
Situação geopolítica
Além de um sistema tributário internacional, nesta reunião de ministros anterior à cúpula de chefes de Estado e governo, em 18 e 19 de novembro, também no Rio, discute-se a situação econômica mundial e o financiamento da transição climática e a dívida.
As divisões internacionais devido às guerras na Ucrânia e em Gaza tornaram as declarações conjuntas do G20 um tema também delicado.
Durante o último encontro de ministros das Finanças, em fevereiro, em São Paulo, estes temas levaram a um "impasse". Desta vez, a solução idealizada pelo Brasil é a redação de três textos, segundo as autoridades.
Por um lado, um dedicado exclusivamente à questão tributária. Por outro, um comunicado final mais amplo e, por último, uma "declaração" publicada separadamente pela presidência brasileira, a única que faria referência às crises geopolíticas.
Esse modelo já foi colocado em prática esta semana. A presidência brasileira do G20 emitiu na quarta-feira uma "declaração" afirmando que alguns membros do G20 "expressaram suas perspectivas" sobre a situação na Ucrânia e em Gaza durante os debates da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Alguns países veem o G20 como um fórum relevante para debater esses temas, enquanto outros pensam o contrário.
Fundado em 1999, o G20 reúne a maioria das principais economias mundiais, assim como a União Europeia e a União Africana. No início, sua vocação era principalmente econômica, mas cada vez mais se envolveu nos temas quentes da atualidade internacional.