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TECNOLOGIA

Dois anos depois de implementação, 5G representa só 11% das conexões no Brasil

Ciclo de adoção da quinta geração da internet avança em ritmo mais lento que o 4G no mesmo período, segundo consultoria

Conexão 5G ainda é considerada baixa no paísConexão 5G ainda é considerada baixa no país - Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Pouco mais de dois anos após o início da implementação de internet 5G no Brasil, a rede de quinta geração representa apenas 11% de todas as conexões feitas no país. Entre os brasileiros, somente 13,5% estão conectados a partir da tecnologia, mostra estudo da consultoria britânica Omdia.

O levantamento, apresentado nesta quarta-feira, em São Paulo, durante o evento de tecnologia Futurecom, mostra que a conexão 5G chega a 666 municípios brasileiros, com 33,2 milhões de conexões. A meta da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que consta no edital de que regulamenta a expansão da rede, é de que todas as cidades do país tenham sinal 5G até 2029.

Neste início, a curva de adoção do 5G é inferior ao que aconteceu com o 4G, aponta a consultoria. Esse padrão quebra uma tendência vista nas atualizações tecnológicas anteriores, em que cada nova geração era expandida em um ritmo mais rápido que a anterior

Apesar da penetração ainda baixa entre a população brasileira, a expectativa da consultoria é que as conexões da quinta geração superem as do 4G no Brasil em dois anos. Até 2028, a projeção é que 69% das conexões móveis devem ser feitas com o 5G, aponta a Omdia.

O aumento da disponibilidade da rede, o custo mais baixo de aparelhos que são compatíveis com o 5G e o ciclo de renovação desses celulares são fatores que contribuem com essa perspectiva da consultoria. Lopes ressalta que o ciclo de adoção está apenas "ligeiramente" mais baixo que o do 4G. Para ele, parte da frustração vem das altas expectativas geradas pela chegada da rede:

— Eu acho que uma questão é de quais eram as expectativas. Elas eram muito altas. Então quando você compara com o que era esperado, há uma frustração. Apesar da distância do 4G não ser tão grande, esperava-se que o ritmo de adoção foi mais acelerado do que aconteceu com a tecnologia anterior — analisa Ari Lopes, gerente sênior para Américas e especialista em estratégia de operadoras da Omdia.

Crescimento 'desigual e discreto'
A Anatel costuma destacar que a expansão da infraestrutura está mais avançada do que determinado no cronograma do edital que regulamenta as diretrizes de implementação da tecnologia, apesar do ritmo de adoção pelo consumidor ainda ser baixo. A licitação previa, por exemplo, a instalação de 6,4 mil antenas em capitais, na faixa de 3,5 GHz, até o segundo semestre deste ano. O número chegou a 21,3 mil, segundo a agência.

Marcio Kanamaru, sócio-líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da KPMG no Brasil e na América do Sul, discorda que o mais de 70% das metas para 2025 foram antecipadas, mas pondera que o 5G demanda de 5 a 10 vezes mais quantidade de antenas para prestar o mesmo adensamento equivalente ao 4G, o que eleva a complexidade da expansão.

— A atividade de instalação e configuração dos equipamentos com testes, e ainda a necessidade de atualização da lei das antenas em algumas localidades, são fatores que contribuem para os desafios do setor — afirma o analista, que acrescenta que as operadoras investiram R$ 166 bilhões entre 2021 e 2023.

O leilão prioriza a instalação da infraestrutura nas cidades mais populosas, para a expansão posterior nos municípios menores. Com isso, o quadro atual do 5G no Brasil é desigual. Sul e Sudeste concentram 71,3% das localidades atendidas, somando 475 cidades. Em contrapartida, o Norte e o Centro-Oeste são as regiões menos conectadas, com apenas 53 e 57 municípios, respectivamente, enquanto o Nordeste conta com 81 cidades com acesso ao 5G.

Apesar da ainda baixa penetração, o Brasil lidera o mercado na região, que é um dos menos avançados do mundo. Junto com o México, o país abocanha 79% das conexões 5G na região. Argentina, Peru e Colômbia são os que aparecem mais atrás na adoção da tecnologia, enquanto Porto Rico (37%) e Chile (26%) lideram em termos de população que acessa a rede.

Entre economias maiores e que começaram a migração das redes antes, o percentual de adoção do 5G chega a 81,9%, caso da China, e 68%, percentual dos Estados Unidos, líderes globais. A África e Europa Oriental são as únicas regiões do mundo em que a implantação do 5G está menos avançada que a América Latina.

A avaliação da Omdia é que os primeiros anos do 5G nos países latino-americanos é caracterizada por um crescimento desigual e discreto. "No geral, a história recente do 5G na América Latina é de passos hesitantes, uma primeira onda com poucos países, um hiato devido à pandemia, depois uma segunda onda quando os leilões foram realizados na República Dominicana, Chile e Brasil em 2021", aponta a consultoria.

Redes privadas são oportunidade
Lopes ressalta que a monetização do serviço, a ponto de compensar os investimentos necessários em infraestrutura, é um dos desafios para as operados. A avaliação dele é que aplicações empresarias podem ser um caminho para geração de ganhos. Nesse caso, o desafio é o ciclo de venda, que costuma ser mais longo.

— As novas possibilidades que o 5G traz têm mais apelo no setor corporativo. A baixa latência, a velocidade, a flexibilidade de ter várias casos de uso na mesma rede é um atrativo — pontua o analista, que cita a possibilidade de conexão de sensores em linhas de fábricas e softwares, por exemplo.

Um exemplo parceria, afirma ele, é a parceria entre Claro e a Nestlé, em que a implementação do 5G na fábrica de Caçapava, no interior de São Paulo, permite conectar câmeras de altíssima definição com softwares que monitoram em tempo real a qualidade de produtos na linha de produção.

Em contrapartida, o Omdia avalia que as operadoras ainda não tiveram sucesso em convencer o consumidor de que o 5G pode trazer benefícios suficientes que incentivassem uma troca de aparelho, por exemplo. Uma pesquisa feita pela consultoria mostra para 92% dos consumidores 5G significa simplesmente velocidade mais alta, e não possibilidade de aumentar qualidade de transmissões de streaming, por exemplo, ou de jogos em nuvem.

“A pesquisa demonstra que essa falta de inovação é refletida na maneira como os consumidores avaliam a tecnologia”, pontua a consultoria. “Não há grandes apostas em aplicações inovadoras, pelo menos no segmento de consumo, e as operadoras não podem esperar obter um ROI (retorno sobre investimento) maior se não estiverem dispostas a correr riscos”.

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