É cedo para dizer se haverá depreciação de carros da Ford após fechamento de fábricas
Anúncio do fechamento das fábricas no Brasil foi feito nesta semana
Basta uma busca rápida em sites de compra e venda de veículos para encontrar nacionais da Ford zero-quilômetro com grandes descontos. Uma concessionária de São Paulo oferece um Ka 2020/2021 com câmbio automático por R$ 62.990. São R$ 5.100 a menos do que o sugerido no site da montadora.
Em uma loja da zona oeste, o EcoSport Storm 2021/2021, que é anunciado por R$ 115.990 na página da fabricante, é comercializado por R$ 109.990. O desconto de R$ 6.000 pode ser até maior, pois os revendedores ainda ajustam os preços.
Trata-se de um dos últimos lotes produzidos em Camaçari (BA), na fábrica que encerrou suas atividades na segunda (11). A Ford não divulgou se houve produção em 2021 -parte do mês de janeiro é dedicada às férias coletivas.
Leia também
• Ford investe mais na Argentina, onde está há 107 anos
• Infelizmente, vão sentir na pele o que nós sentimos, dizem ex-funcionários da Ford de São Bernardo
• Ford anunciou investimento de US$ 580 milhões para ampliar produção na Argentina
Há, entretanto, uma diferença entre descontos e depreciação. É comum a todas as montadoras praticar preços mais baixos e oferecer bônus às concessionárias para reduzir os estoques de carros que deixam de ser produzidos ou que passarão por remodelação.
Isso, por si só, já influencia na perda de valor de modelos usados, principalmente os adquiridos um pouco antes de as reduções na linha de novos serem implementadas.
O caso da Ford tem uma especificidade: a marca já vinha dando descontos mais agressivos no varejo diante da concorrência, algo possibilitado, em parte, pelos benefícios tributários disponíveis para fabricantes instaladas no Nordeste.
Além disso, grande parte da produção ao longo de 2020 vinha sendo direcionada para frotistas, como as locadoras. É um tipo de venda direta, modalidade que respondeu por 35,7% dos emplacamentos do Ka no ano passado. Isso no ano em que a indústria focou o varejo para recuperar um pouco do prejuízo aumentado pela pandemia, gerando protestos das empresas de locação, que ficaram sem carros.
Se os carros já eram vendidos com desconto e ainda não há uma estimativa concreta do estoque disponível e se haverá mais reduções no preço, é cedo para calcular qual será a depreciação dos modelos Ka e EcoSport a partir de agora no mercado de usados -e se haverá depreciação.
A Ford diz que manterá todos os serviços de pós-venda, e a rede de fornecedores, por questão de sobrevivência, vai continuar produzindo peças de reposição por muitos anos. A frota circulante é gigantesca, e há muitos componentes intercambiáveis entre modelos produzidos desde 2012.
Há um outro fator, que é o momento do mercado. A disparada nos preços dos modelos zero faz consumidores desse segmento migrarem para carros com até três anos de uso –os seminovos, segundo o jargão dos revendedores.
Esse movimento leva à falta de modelos usados nas lojas, o que também força a alta dos preços em cadeia, atingindo modelos mais antigos. Com isso, é provável que a depreciação do Ka e do EcoSport seja atenuada por esse fator, apesar do fim da produção.
Será preciso mais tempo para verificar se as perdas ficarão acima ou abaixo das médias históricas dos modelos nos anos anteriores.