Economistas brasileiros veem EUA com aumento de inflação e redução no crescimento
Economista-chefe do C6 Bank apontou que as medidas deTrump pressionarão o mercado consumidor, aumentando a inflação e reduzindo o crescimento do PIB do país
As tarifas anunciadas recentemente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (Republicanos), podem ter impacto duplamente negativo sobre a economia americana — aumento da inflação, com redução no crescimento. Em evento no Banco Central, em São Paulo, economistas disseram que o Federal Reserve, o Fed, equivalente do BC no país, pode não ter espaço para reduzir as taxas de juros.
Na semana passada, o presidente americano assinou um decreto impondo tarifas a quase todos os países. O anúncio levou a uma derrocada nos mercados, que chegaram a se recuperar parcialmente nesta segunda-feira após rumores de que a medida seria suspensa por 90 dias.
No entanto, a Casa Branca logo negou a suspensão, levando a uma nova queda nos índices. A guerra comercial do republicano deve se agravar na próxima quarta-feira, dia 9, quando entram em vigor impostos ainda mais elevados para outros países, como a China.
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Para Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, as medidas do governo Trump devem reduzir as vendas de produtos para os Estados Unidos, o que pressionaria o mercado consumidor, aumentando a inflação e reduzindo o crescimento do PIB.
Impacto sobre o câmbio é incerto
O impacto sobre o câmbio é incerto, diz o economista, mas uma economia americana muito fraca pode provocar uma aversão global ao risco — cenário que tende a fortalecer o dólar e pressionar as moedas de países emergentes.
— Normalmente uma economia americana forte significa um dólar forte. Uma economia americana fraca significa um dólar fraco. Uma economia americana muito fraca não significa um dólar muito fraco, mas um dólar forte. Por quê? Porque uma economia americana muito fraca começa a gerar uma aversão ao risco global — afirmou Salles.
O economista afirma ainda que já há sinais iniciais de que as expectativas de inflação nos Estados Unidos começam a desancorar — ou seja, investidores começam a considerar que a inflação pode estar saindo do controle. E, segundo ele, há motivos para acreditar que esse movimento deve ganhar força.
Se as expectativas de inflação permanecerem sob controle, ele diz que o Fed poderá cortar os juros para estimular a economia. Agora, se as expectativas realmente se desancorarem, o Fed teria que manter os juros altos, mesmo com a economia fraca, para tentar conter a inflação.
Fernando de Paula Rocha, economista-chefe e sócio da JGP, avalia que as tarifas devem provocar um aumento de preços nos Estados Unidos, já que haverá menos produtos chegando ao país. Com isso, a demanda tende a cair.
— Se a gente vier a pensar assim nos países produtores, nos asiáticos principalmente, eles não vão conseguir vender mais para os Estados Unidos na mesma magnitude que eles vendiam, eles vão tentar desovar no resto do mundo.
Como os EUA vão comprar menos, o que se espalha globalmente é um choque de demanda negativa — uma freada no comércio e na economia. Rocha entende que, num primeiro momento, haverá impacto desinflacionário devido à reconfiguração das cadeias globais de comércio. No entanto, ele ressalta que um real mais desvalorizado poderia atenuar esse efeito.
— Acho que poderia ter, eventualmente, falando de emergentes, um primeiro momento de menos inflação, com queda de commodity, queda de gasolina, combustível. Mas, num segundo momento, talvez o câmbio desvalorizado afete isso, quer dizer, mitigar esse efeito, talvez neutralizar até esse efeito.