Efeitos das chuvas no RS na economia brasileira serão sentidos no PIB e nos preços, diz secretário
No entanto, para Guilherme Mello, da Secretaria de Política Econômica da Fazenda, as medidas do governo podem compensar queda inicial da produção no estado afetado pelas chuvas
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À frente de um grupo de trabalho para calcular o impacto das inundações no Rio Grande do Sul na economia brasileira, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, afirmou que os efeitos serão sentidos no PIB e sobre os preços. Ele ponderou, no entanto, que ainda é cedo para dimensionar o efeito sobre as projeções, considerando que as informações são pouco precisas diante da tragédia ainda em andamento e que as medidas anunciadas pelo governo podem minimizar os impactos. O secretário garantiu, porém, que não haverá problemas de desabastecimento no país.
— É evidente que uma catástrofe dessa dimensão, que não tem paralelo na História brasileira, tem impactos econômicos, tanto na atividade como nos preços. No momento atual, as informações que temos ainda são muito pouco precisas, o que nos leva a ter muita cautela — disse o secretário ao GLOBO.
Mello ressaltou que não haverá problema de abastecimento no país, “mas teremos problemas de preços.”
Atualização de projeções
Na semana que vem, a Secretaria de Política Econômica (SPE) vai atualizar suas projeções para o PIB e a inflação, mas os números não vão incorporar os efeitos da destruição no Rio Grande do Sul. Para o PIB de 2024, a estimativa atual é de 2,2%, e para o IPCA, de 3,5%.
Em relatório, no entanto, Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, avalia que o impacto da tragédia no estado pode chegar a 0,4 ponto percentual do PIB. “A MB já espera 2% de PIB este ano e, se havia chance de revisão para cima, a tragédia gaúcha diminui essa possibilidade.”
Em relação aos alimentos, por exemplo, Mello pontuou que ainda não se sabe ao certo se os estoques foram afetados e se as lavouras que ainda não foram colhidas poderão ser aproveitadas. Há também questões logísticas sobre como escoar a produção com as estradas destruídas.
Por outro lado, o secretário ressaltou que o governo já vem tomando medidas para reduzir os impactos e ainda pode anunciar novas ações.
Em relação à atividade econômica, ele argumentou que, em um primeiro momento, os negócios param, mas que o socorro dado pelo governo federal pode, ao longo do tempo, compensar essa queda inicial da produção. Além das medidas de crédito para os agricultores, o governo facilitou empréstimos para empresas em geral e antecipou parcelas de benefícios para a população.
Ações de crédito
Antes da catástrofe, os dados de atividade econômica traziam motivos para comemorar. Segundo Mello, o primeiro trimestre deve se mostrar bastante aquecido, de forma mais disseminada entre os setores. Há ainda expectativa de que a atividade tenha um bom desempenho no segundo semestre, impulsionada pelas ações de crédito do programa “Acredita”, que inclui crédito para pequenas e médias empresas.
Apesar da queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em pesquisas recentes, Mello confia que essa avaliação tende a se fortalecer, à medida que se consolidar um período mais longo de boas notícias na economia. Mesmo reconhecendo que ainda há muito a ser feito, o secretário avalia que bons resultados já aparecem e que ainda “há muito para colher”.
Expectativa com juros
Assim como seu chefe, o ministro Fernando Haddad, Mello considera que não houve componente político na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC nesta semana. Em votação apertada, de 5 votos a 4, o Copom decidiu pisar no freio e reduzir a Taxa Selic em 0,25 ponto porcentual, para 10,50%. Todos os diretores que entraram no BC na gestão Lula queriam corte de 0,50 ponto.
Segundo o secretário da Fazenda, aparentemente, a divergência ocorreu em relação ao procedimento de comunicação do BC, que havia sinalizado, em março, um corte de 0,50 ponto para maio. Mello, no entanto, diz que ainda há bastante espaço para corte de juros nos próximos meses.
— Não consigo enxergar nenhum tipo de orientação política naquela discussão. Se houvesse, não se teria conseguido chegar aos consensos de avaliação de cenário apresentados no comunicado — avaliou. — Quando você olha para os dados e informações que temos disponíveis, nós acreditamos que tem espaço para novos cortes de taxa de juros, para um nível bem menor do que a gente tem hoje.