Elevação dos juros é fator de risco para a retomada, diz Ministério da Economia
Análise é feita na semana em que o Copom se reúne para decidir sobre o percentual da Selic
A Secretaria de Política Econômica (a SPE) do Ministério da Economia considera que empresas e famílias sairão da crise mais endividadas, o que é um fator de risco para a retomada da atividade principalmente se houver elevação dos juros.
O comentário é feito na semana em que o Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) se reúne para decidir sobre o percentual da taxa básica (a Selic), atualmente no mínimo histórico de 2%. Analistas apostam em elevação.
O mais recente boletim Focus, do BC, que reúne estimativas do mercado sobre indicadores econômicos, mostra que a expectativa sobre a Selic ao fim de 2021 passou de 3,75% há quatro semanas para 4,5% nesta segunda-feira (15).
Os comentários da SPE estão em uma nota informativa que buscou comparar dados observados em 2020 com os de crises econômicas anteriores.
Leia também
• Mercado financeiro eleva projeção da inflação para 4,60% este ano
• Retomada ganha força e economia cresce 1,04% em janeiro, diz BC
• BC adia novamente implementação do Pix Cobrança
Entre as particularidades vistas durante a pandemia de Covid-19, esteve a expansão do crédito, principalmente após medidas adotadas pelo governo (como corte do IOF e garantias do Tesouro para empréstimos).
"Tais indicadores sugerem que a política econômica adotada não apenas amenizou a profundidade da crise, como proveu condições para uma recuperação mais consistente. Combinadas essas informações, temos que do ponto de vista econômico a crise atual apresenta melhores condições de retomada do que crises passadas", afirma a SPE.
Se por um lado o mercado de crédito preservou empresas e a capacidade instalada da economia, por outro a SPE diz que isso significa pessoas físicas e jurídicas mais endividadas.
"Empresas e famílias sairão da crise mais endividadas, o que é um fator de risco para a retomada, principalmente se houver aumento dos juros", afirma. Diante do cenário, a pasta defende o controle dos gastos públicos por considerar o cenário fiscal determinante para o nível das taxas.
Além da expansão do crédito, a SPE viu outros dois diferenciais da crise econômica em 2020: a taxa de poupança aumentou e o impacto no mercado de trabalho ocorreu principalmente no setor informal.
Essas características sugerem, na visão da SPE, que a retomada pode acontecer de forma rápida. Isso porque a taxa de poupança permitiria ao setor privado ter recursos. Já o impacto no emprego informal tenderia a se recuperar mais rapidamente por ser mais flexível do que empregos com carteira assinada.
Apesar disso, a SPE avalia que somente a vacinação será capaz de resolver definitivamente a crise econômica.
Segundo a secretaria, a crise tem origem em um conjunto de reduções de oferta de trabalho e demanda decorrentes do próprio receio de infecção causada pela doença e da interrupção de diversas atividades econômicas.
"As próprias fontes da crise enunciadas acima têm em sua origem a própria doença, de forma que só serão sanadas de forma definitiva com a vacinação em massa da população, em especial a dos mais vulneráveis à doença", afirma o texto.
A secretaria afirma que, com a redução do número de casos e a abertura gradativa das atividades, a economia apresentou rápida recuperação no segundo semestre de 2020. Porém, com o crescimento de casos em 2021 e as consequentes restrições, interrupções ou paralisações de atividades, a economia encontrou um freio na sua recuperação.
"Entretanto, é razoável se esperar que, quando essa nova onda for contida, e uma parcela substancial da população tiver sido vacinada, a economia retomará a sua recuperação de forma acelerada", afirma o texto.