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Elon Musk e corte de gastos: os desafios do bilionário escolhido por Trump para comandar a Nasa

Especialistas indicam que o empreendedor e astronauta pode cancelar o atual foguete construído pela agência para ir à Lua, privilegiar contratantes privados e mudar o foco da agência

Jared Isaacman viajou para a órbita em setembro pela segunda vez em uma cápsula SpaceX Crew Dragon Jared Isaacman viajou para a órbita em setembro pela segunda vez em uma cápsula SpaceX Crew Dragon  - Foto: Programa Polaris/SpaceX, via Agence France-Presse

O presidente eleito Donald J. Trump nomeará Jared Isaacman, um empresário bilionário que liderou duas missões privadas em órbita com foguetes da SpaceX, como o próximo administrador da Nasa. Uma das principais questões para o próximo administrador da Nasa será como colocar o programa Artemis, carro-chefe da agência, de volta nos trilhos para enviar astronautas à Lua.

O primeiro pouso de astronautas está previsto para ocorrer na missão Artemis III, atualmente programada para o final de 2026. No entanto, componentes essenciais estão atrasados, o programa extrapolou limites de gastos e enfrenta diversos problemas técnicos, fatores que já estimulam discussões sobre um possível cancelamento do programa.

 

Isaacman deverá lidar com atrasos no desenvolvimento de componentes críticos, como o módulo lunar da SpaceX, e resolver questões técnicas, como os danos ao escudo térmico da cápsula Orion observados na missão Artemis I.

Na visão geral, quem mais está ameaçado é o foguete SLS, que tem fornecedores espalhados pelos Estados Unidos e contratantes principais trabalhando sob acordos de custo mais lucro com a agência espacial, o que significa que o governo está na obrigação de pagar por quaisquer atrasos ou estouros de custos.

Outro grande desafio será equilibrar as prioridades entre o programa lunar Artemis e a possível expansão para Marte, alinhando-se à visão de Elon Musk, apoiador de Trump e aliado de Isaacman. O administrador também precisará gerir o orçamento de US$ 25 bilhões da NASA, promovendo avanços em ciência e tecnologia espacial, enquanto enfrenta pressões para cortar custos e reduzir o número de funcionários federais.

Ampliar colaborações com o setor privado, como as parcerias com a SpaceX, deverá estar na pauta de Isaacman, que considera os programas comerciais como essenciais para integrar novas tecnologias que possam acelerar o progresso nas missões interplanetárias.

Além disso, o futuro administrador terá que garantir a segurança em missões tripuladas, especialmente nas planejadas para Marte, enquanto mantém o apoio público e político necessário para sustentar os programas da agência.

Especialistas já apontam que a administração Trump pode buscar mudanças muito maiores na Nasa, incluindo possivelmente reduzir o programa Artemis e direcionar esforços para o destino preferido de Musk: Marte. A Nasa também pode ser incluída em esforços mais amplos para reduzir o número de funcionários federais.

Lori Garver, que foi administradora adjunta da NASA durante o governo Obama, elogiou a escolha de Isaacman. Apesar de seus laços estreitos com a SpaceX devido às suas duas missões espaciais, ela destacou que ele é inteligente, tecnicamente competente e entusiasmado. “Ele também não me parece uma pessoa que age antes de pensar”, disse Garver.

Quem é Isaacman?
Isaacman, diretor-executivo da empresa de processamento de pagamentos Shift4 Payments, é um amigo próximo de Elon Musk, fundador da SpaceX. Isaacman fundou a Shift4 em 1999 após abandonar o ensino médio. Em 2012, fundou a Draken International, que possui caças e oferece treinamento para pilotos das forças armadas dos Estados Unidos. Ele vendeu essa empresa em 2019.

O bilionário de 41 anos entrou no mundo espacial em fevereiro de 2021, quando anunciou que financiaria uma missão privada chamada Inspiration4. Usando uma cápsula Crew Dragon da SpaceX, a missão foi a primeira em que nenhum dos tripulantes era astronauta profissional.

Em vez de levar alguns amigos, ele abriu os outros três assentos para desconhecidos. Dois lugares foram dados ao Hospital de Pesquisa Infantil St. Jude, em Memphis, que trata jovens pacientes com câncer. Um lugar foi destinado a um funcionário do hospital, e o outro foi sorteado para arrecadar fundos para o St. Jude. Isaacman doou pessoalmente US$ 100 milhões para o hospital.

O quarto assento da Crew Dragon foi para o vencedor de um concurso semelhante ao “Shark Tank” promovido pela Shift4. A tripulação foi lançada à órbita em setembro de 2021, passando quatro dias no espaço.

Isaacman seguiu este ano com outra viagem orbital chamada Polaris Dawn. Essa missão — uma colaboração com a SpaceX — visava testar novas tecnologias necessárias para concretizar o sonho de Musk de, eventualmente, enviar pessoas a Marte.

A missão Polaris Dawn incluiu a primeira caminhada espacial realizada por astronautas privados. Isaacman planeja realizar mais duas missões Polaris, incluindo aquela que seria o primeiro voo tripulado do Starship, o novo foguete gigante atualmente em desenvolvimento pela SpaceX.

Se confirmado pelo Senado, ele trará uma perspectiva externa à agência espacial e ao seu orçamento de US$ 25 bilhões. “Jared impulsionará a missão de descoberta e inspiração da Nasa, abrindo caminho para realizações revolucionárias na ciência, tecnologia e exploração espaciais”, disse Trump em uma postagem na sua plataforma Truth Social.

Isaacman substituirá o atual administrador, Bill Nelson, ex-senador democrata da Flórida, que também viajou ao espaço como parte de uma missão do ônibus espacial em 1986.

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