Em meio a sucessivos recordes do dólar, Banco Central vê maior repasse para preços
Moeda americana bateu R$ 6,16 nesta manhã e BC fez nova intervenção no mercado cambial
O Banco Central sinalizou, na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) da semana passada, que a escalada do dólar observada atualmente pode ter um efeito mais negativo sobre os preços de produtos e serviços no Brasil.
No documento, o colegiado afirmou que o repasse do câmbio para os preços domésticos aumenta em momentos como o atual, em que a economia está forte, as expectativas de inflação, longe da meta e alta do dólar é persistente - exatamente como acontece hoje. Na manhã desta terça-feira, o dólar chegou a bater R$ 6,16 e o BC fez nova intervenção no mercado cambial, com a venda de US$ 1,272 bilhão.
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"Lembrou-se que o repasse do câmbio para os preços aumenta quando a demanda está mais forte, as expectativas estão desancoradas ou o movimento cambial é considerado mais persistente. Desse modo, o Comitê deve acompanhar de forma mais detida como se dará a transmissão da taxa de câmbio e das condições financeiras para preços e atividade", disse o BC na ata.
Como mostrou o Globo, setores da indústria, como de eletrônicos e de higiene pessoal, já preparam reajustes em suas tabelas na virada do ano para cobrir o aumento dos custos de produção. Em média, 25% dos insumos são importados. Além disso, como a economia está aquecida, há pouco espaço para fabricar mais produtos e ganhar no volume. Como disse o BC, o hiato do produto está positivo, ou seja, a economia está operando acima do nível permitido por sua estrutura produtiva.
A cotação do dólar vem renovando recordes desde a apresentação do pacote de contenção de gastos pelo governo federal, que frustrou o mercado financeiro. Era esperado que o "choque de juros" contratado pelo Banco Central contivesse a disparada da moeda americana, uma vez que, por exemplo, atrai investidores estrangeiros em busca de retornos maiores do que em economias consideradas mais seguras, como a dos Estados Unidos.
Mas só produziu um alívio rápido diante das preocupações fiscais. Nesta segunda-feira, o dólar fechou em R$ 5,09, recorde nominal de fechamento, mesmo após sucessivas intervenções do BC no mercado cambial. Nesta terça, o dólar chegou a bater R$ 6,16 e provocou nova entrada da autoridade monetária, com a venda de US$ 1,272 bilhão no mercado à vista. Desde quinta-feira, o BC já injeitou cerca de US$ 10,7 bilhões em recursos extras no mercado.
Na ata, o BC também alertou que a "conjunção de uma taxa de câmbio mais depreciada com a elevação das curvas de juros nominal e real torna o ambiente mais complexo".
Na reunião da semana passada, o Copom, com o apoio de seus nove membros, decidiu acelerar o ritmo de alta de juros para 1 ponto percentual, de 0,50 ponto em novembro, elevando a taxa Selic de 11,25% para 12,25% ao ano.
Além disso, contratou mais dois aumentos da mesma magnitude para os encontros de janeiro e março, um "choque de juros" em meio à forte deterioração do cenário de inflação que surpreendeu as expectativas mais conservadoras do mercado financeiro. Caso cumpra o prometido, a Selic chegará a 14,25% no fim do primeiro trimestre de 2025, o maior patamar desde a crise do governo de Dilma Rousseff, que culminou no impeachment da presidente.