Em oito pontos, os pensamentos de Simone Tebet sobre economia que divergem do PT
Apontada como futura ministra do Planejamento, senadora tem em seu histórico a defesa do teto de gastos e privatizações
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Convidada para assumir o cargo de ministra do Planejamento no governo eleito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a senadora Simone Tebet (MDB) tem pensamentos econômicos que divergem das propostas do PT. No passado, em ao menos oito temas, a emedebista assumiu posicionamentos que desagradam a esquerda brasileira. Assumidamente liberal, apesar de ser contrária às privatizações da Petrobras e Eletrobras, a futura ministra de uma pasta que tem como objetivo planejar e coordenar a administração pública federal não promove a agenda apresentada pelo petista durante a campanha.
Em declarações ao longo do mandato e durante as eleições, a política demonstrou não estar alinhada com os pensamentos econômicos e foi oposição ao PT em uma série de votações. Enquanto candidata ao Palácio do Planalto, em seu plano de governo, Tebet apontava para um mandato de concessões, parcerias público-privadas, privatizações e desestatização.
Teto de gastos
Até mesmo em uma das propostas mais caras do plano de governo de Lula, Tebet aderiu uma postura contrária. Desde que a PEC do Teto de Gastos começou a tramitar no Congresso Nacional, a emedebista sempre foi a favor. Além da votação em 2016, ela reassumiu seu posicionamento ao longo do período eleitoral, enquanto o petista afirmava sua vontade em revogar a medida. Em agosto deste ano, em sabatina promovida pelo jornal O Globo, Tebet reafirmou seu compromisso com o que apelidou de "âncora fiscal".
— Eu garanto a vocês, se não fosse o teto, mesmo ele sendo completamente furado, o orçamento secreto não seria só de R$ 19 bilhões, seria muito mais que isso. É a única âncora fiscal que sobrou. Precisa ser melhorada, pode ser aprimorada sim, mas é a âncora que nós temos — disse a senadora à época.
Marco Legal do Saneamento
Apesar de ser contrária a algumas privatizações, Tebet votou em uma série de projetos que defendiam a iniciativa privada. É o caso do Novo Marco Legal do Saneamento, que abria o setor para empresários, e foi amplamente criticado pela oposição, liderada pelo Partido dos Trabalhadores.
— Saneamento não pode mais permanecer inerte nas prateleiras das nossas prioridades. Metade do Brasil, 100 milhões de caminhantes a céu aberto em esgoto não tratado, infectados por pés descalços ou água contaminada. Dos 1.000 nascidos, 14 morrem por falta de saneamento básico. Mortes que podem ser evitadas — defendeu em agosto de 2020.
Autonomia do BC e Lei da Liberdade Econômica
Alinhada às propostas dos parlamentares do governo de Jair Bolsonaro (PL), ela também foi a favor da Lei da Liberdade Econômica, que tem como intuito flexibilizar o livre mercado, e da autonomia do Banco Central.
Quando aprovada, PT e PSOL protocolaram uma ação no Supremo Tribunal Federal sob o argumento de que feria a Constituição Federal. As siglas alegam que a proposta prevê a estruturação do sistema financeiro nacional “em base no interesse do mercado, exclusivamente”.
Iniciativas público-privadas e privatizações de estatais
Em diversas ocasiões, ela defendeu a redução do estado e as iniciativas público-privadas, pontos que sempre foram duramente criticados pelo PT.
— É preciso parcerias público-privadas, concessões e agilizar e flexibilizar esse marco regulatório para termos ferrovias, hidrovias, portos, aeroportos, cabotagem e estradas duplicadas nas mãos da iniciativa privada, porque não cabe dinheiro público em asfalto — declarou em entrevista coletiva em maio deste ano.
Reforma da Previdência
Aprovada em 2019, a Reforma da Previdência foi um dos pontos mais críticos do mandato que se encerra em 2023. No relatório final, o Grupo de Transição de Lula elegeu dois pontos a serem revistos — pensão por morte e aposentadoria por invalidez.
Durante todos os trâmites da PEC, Tebet defendeu a aprovação, que celebrou nas redes sociais: "Uma enorme janela de saída para a crise. A Reforma da Previdência já é fato consumado. O Texto aprovado vai gerar economia de R$ 800 bi em 10 anos", escreveu.
Taxação de grandes fortunas
Em menor frequência, Lula e Tebet também discordam sobre a taxação de grandes fortunas, tema que também foi apontado por Lula como essencial em diversas entrevistas. No Jornal Nacional, a então candidata disse ser mais favorável aos impostos sob lucros e dividendos.
Os desconfortos para além da economia
Em outros temas, a presença de Tebet incomoda o Partido dos Trabalhadores. Isso porque a senadora votou a favor do impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Em um interrogatório na Casa, ela afirmou que durante os meses na comissão do impeachment constatou que os decretos e as pedaladas não foram atos isolados, mas “consequências da irresponsabilidade fiscal do governo” da petista.
Também pesa o fato de Tebet já ter defendido a Operação Lava-Jato publicamente e ser autora do PL 494/15, que tinha como intuito impedir a demarcação de terras indígenas em áreas de conflito.
De acordo com o colunista Cláudio Humberto, em seu mandato, Tebet esteve alinhada à base de Bolsonaro em 85% das votações na Casa. O índice é maior que a média da base governista no Senado, 83%, e supera também a fidelidade da Câmara de 74%.