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Embargo indiano e a ameaça de seca disparam o preço do trigo

A Índia anunciou na sexta-feira passada uma proibição geral das exportações de trigo para garantir a segurança alimentar interna

Trabalhadores carregam sacos de produtos de trigo em um caminhão em um moinho em Khanna, no estado indiano de Punjab, em 18 de maio de 2022Trabalhadores carregam sacos de produtos de trigo em um caminhão em um moinho em Khanna, no estado indiano de Punjab, em 18 de maio de 2022 - Foto: Sajjad Hussain / AFP

O mercado de trigo, já sob forte pressão devido à guerra na Ucrânia, é abalado pelo embargo da Índia às suas exportações e em meio a uma reconfiguração do setor com medidas como a autorização do cultivo de trigo geneticamente modificado na Argentina. 

A Índia anunciou na sexta-feira passada uma proibição geral das exportações de trigo para garantir a segurança alimentar de seus 1,4 bilhão de habitantes.

Este embargo do segundo maior produtor mundial, que havia dito que estava disposto a reservar até 10 milhões de toneladas de sua próxima safra, surpreendeu os mercados.

Recorde quebrado

O preço do trigo bateu recorde na segunda-feira, atingindo 438,25 euros (cerca de R$ 2.287,36)  por tonelada no mercado europeu para entrega antecipada. 

Na terça, o HRW (trigo de inverno negociado em Kansas City) atingiu outro recorde após subir 78% desde meados de janeiro. 

Todos os indicadores estão no vermelho e nada parece ser capaz de substituir a produção ucraniana agora desestabilizada pela guerra. 

Em 2021, a Índia exportou quase 20 milhões de toneladas, mas para 2022 as previsões de produção foram reduzidas em um terço, segundo o último relatório mensal do Departamento de Agricultura dos EUA. 

Após o movimento da Índia, todos os analistas preveem "preços altos" em "um mercado tenso até o próximo ano".

"Foi exatamente o que aconteceu em 2008-2009. Os preços dos alimentos subiram e muitos dos grandes países exportadores, incluindo a Argentina, limitaram suas exportações", aponta Wes Peterson, professor de economia agrícola da Universidade de Nebraska-Lincoln. 

"Nos últimos 20 ou 25 anos, os preços [da commodities agrícolas] seguiram uma tendência de alta. Essa tendência, e os picos, são o resultado das mudanças climáticas", disse.

Trigo transgênico na Argentina

As safras deste ano no Oriente Médio, Índia e Marrocos - que perderam metade de sua produção - foram severamente afetadas pelo calor e escassez de água, e há uma preocupação crescente nas planícies centrais dos Estados Unidos e na Europa Ocidental, especialmente na França, onde o governo baixou as previsões para a produtividade do trigo. 

Nesse contexto, a Argentina acaba de autorizar o cultivo comercial de variedades transgênicas de trigo que carregam um gene de girassol que, em tese, as torna mais resistentes à seca.

A decisão, tomada em 2020, foi a última etapa antes do plantio previsto para a próxima campanha, o que torna a Argentina o primeiro país do mundo a permitir a comercialização de trigo transgênico.

"Não sabemos qual o volume esperado, mas a Argentina já recebeu o acordo de seu principal cliente, o Brasil, que autorizou o consumo de trigo transgênico", disse Damien Vercambre, da Inter-Courtage.

Sem esperar pela próxima campanha, a ONU tenta garantir o abastecimento dos países mais frágeis que dependem dos grãos do Mar Negro.

Os Estados Unidos esperam convencer a Índia a "reconsiderar sua decisão" de impor um embargo em uma reunião do Conselho de Segurança na quinta-feira. 

Na Euronext, o trigo estava sendo negociado esta tarde a 436,5 euros a tonelada para entrega em setembro e o milho a € 371,5 para junho. A colza estava sendo negociada a 865,5 euros a tonelada para agosto. 

Na Bolsa de Chicago, pouco antes da abertura, o trigo SRW estava em US$ 12,54 por bushel e o milho em US$ 7,985 para entrega em julho. A soja estava em US$ 16,82.

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