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Carnaval 2025

Empreendedorismo no Carnaval: como transformar a folia em oportunidade de renda

Artesãos e produtores locais investem em serviços temáticos e na produção de acessórios, impulsionando a economia criativa e aproveitando a alta demanda do período

Empreendedorismo no Carnaval: como transformar a folia em oportunidade de rendaEmpreendedorismo no Carnaval: como transformar a folia em oportunidade de renda - Foto: Divulgação
 
 

Se em Pernambuco, nessa época, se respira Carnaval, para muitos a festa de Momo vai muito além da folia. Pequenos empreendedores encaram o Carnaval como uma oportunidade valiosa de crescimento e geração de renda.

Artesãos e produtores locais investem em serviços temáticos e na produção de acessórios, como tiaras, colares, brincos, pochetes, fantasias e abadás personalizadas, impulsionando a economia criativa e aproveitando a alta demanda do período. 

De acordo com levantamento da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil), a estimativa é que cada folião gaste, em média, R$ 805, entre fantasias, alimentação, transporte e itens relacionados ao Carnaval, com destaque para o mercado de moda e acessórios.

Segundo levantamento da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de Pernambuco (Fecomércio-PE), o Carnaval deve movimentar R$ 348,71 milhões no Estado, além de projetar 889 novas vagas temporárias, um crescimento de 24% em relação ao ano anterior. 

Para Eduardo Maciel, gerente de projetos de Economia Criativa do Sebrae, o impacto do Carnaval nos pequenos negócios ocorre antes, durante e depois da festa.

“As possibilidades de geração de ocupação e renda vão desde a venda de tecidos até o desfile de um bloco. Isso sem falarmos da área de alimentação, das festas fechadas, das passagens aéreas, hotéis e traslados locais”, destacou. Para a Região Metropolitana do Recife, ele afirma que o Carnaval é, sem dúvida, o melhor momento para a economia criativa. 

Eduardo Maciel, analista do Sebrae/PE Eduardo Maciel, analista do Sebrae/PE | Foto: Maysa Rodrigues / Divulgação

Amanda Miranda, proprietária da marca Vamo Brilhar, começou a produzir acessórios para o Carnaval em 2018, quando fundou uma troça. Para cobrir os custos do bloco, vendeu kits com glitter, porta-cerveja e fantasia, o que despertou seu interesse em expandir as criações.

“Percebi que poderia ampliar as peças e, despretensiosamente, abri uma conta no Instagram. Desde então, fui adicionando novos produtos ao catálogo e estudando maneiras de melhorar a qualidade das matérias-primas”, contou. Hoje, a Vamo Brilhar se consolidou no mercado carnavalesco, com peças como ombreiras e brincos de paetês que fazem sucesso entre os foliões. 

Amanda Miranda, proprietária da marca Vamo Brilhar Amanda Miranda, proprietária da marca Vamo Brilhar | Foto: Divulgação

Vendas
A movimentação dos blocos é um fator importante para as vendas. Segundo Amanda, neste ano, o aquecimento na comercialização começou na segunda quinzena de janeiro, quando iniciaram prévias e bailes das maiores agremiações.

“Apesar desse início um pouco mais demorado, nas duas últimas semanas de janeiro de 2025, o volume de vendas superou todo o mês de janeiro de 2024 em aproximadamente 25%. Em fevereiro, também já tenho um resultado melhor, com um aumento de 50%. A expectativa é de que o pico de vendas seja nesse final de mês, com as compras de última hora”, destacou.

Sazonalidade
A empreendedora destaca que a sazonalidade da festa exige planejamento antecipado. “Já no primeiro semestre do ano anterior, começo a planejar os materiais e a produção. Além disso, vejo um crescimento na valorização de produtos artesanais e locais. A cada ano, mais marcas lançam coleções autorais, o que fortalece todo o setor”, afirma Amanda. 

Já Cláudia Patrício, sócia da marca Purpurina, o trabalho sazonal impõe desafios financeiros e logísticos. "O maior desafio é iniciar a produção cedo, em outubro, e ver o retorno apenas em um mês antes do Carnaval. O investimento é alto: alugar espaços, pagar um bom fotógrafo, manter redes sociais ativas, contratar maquiadores e vendedoras. Tudo isso para um período curto e intenso", ressalta. A empreendedora contou que o investimento deste ano foi de R$ 35 mil, enquanto em 2024 foi menor. Cláudia espera um retorno estimado em R$ 85 mil, mesmo sabendo que toda a mercadoria não é vendida por completo.

Apesar da periodicidade da festa, especialistas apontam que o pós-venda é essencial para fortalecer os negócios ao longo do ano. “Quem compra para o Carnaval está focado nos festejos de Momo, mas é possível construir uma carteira de clientes e ofertar outras linhas de produtos para diferentes ocasiões”, explica o gerente do Sebrae, Eduardo Maciel. Ele sugere que os empreendedores adaptem seus produtos para outros períodos, como acessórios de moda para o dia a dia e itens para eventos como formaturas, batizados e festas temáticas. 

A qualidade criativa é um diferencial competitivo fundamental. “A concorrência no setor é grande, por isso, inovar nos materiais e nos designs dos produtos pode ser um dos maiores trunfos para vender mais e melhor”, reforça o gerente do Sebrae. Além disso, ele aponta que a presença digital é indispensável para alcançar novos públicos e facilitar a comercialização.

Redes sociais
Plataformas de e-commerce e redes sociais se tornaram canais estratégicos para os pequenos produtores, embora ainda algumas lojas não tenham aderido por completo este tipo de venda. Como a Purpurina, que comercializa seus produtos de forma direta, com presença em lojas colaborativas e feiras. "Trabalhamos em parceria com a Me Poupe Loja Colaborativa, temos um ponto na Ferreira Costa e também venderemos na Casa Zero, na Rua do Bom Jesus, na semana que antecede o Carnaval", detalha Cláudia. 

A comercialização online ainda não é a principal fonte de receita, mas a marca está investindo para fortalecer esse canal. "A rede social ainda não é nosso principal meio de venda, mas estamos batalhando para mudar isso", comenta.

Já Amanda, da Vamo Brilhar, ressaltou a ampliação do público de outras regiões por meio da presença digital, mencionando que, tanto no Instagram — onde houve um crescimento de 1000% nas atividades do perfil nos últimos três meses — quanto no site, o número de acessos vindos de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro já representava 70% do público local. 

“O ambiente virtual precisa sempre ser levado em conta. Criar um mailing de clientes e investir em estratégias de fidelização são iniciativas que ajudam a manter as vendas ativas mesmo após o Carnaval”, orienta Eduardo Maciel. Ele ressalta que o Sebrae oferece cursos e oficinas – muitos deles gratuitos – para auxiliar empreendedores na divulgação e comercialização online de seus produtos.

A produtora de conteúdo, Camila Valentim, usa suas redes sociais para divulgar “achadinhos” e, nesse período, seu público recorre sempre a pedidos a respeito de lojas e peças de carnaval.

“Existem as grandes marcas, mas costumo também mostrar pequenos produtores. Amo feirinhas nessa época para garimpar acessórios diferentes. Além de ajudar no trabalho deles, eu consigo achar mais rápido o que eu procuro e mostrar aos meus seguidores”, citou Camila.

Camila Valentim garimpa produtos e serviços e indica aos seus seguidoresCamila Valentim garimpa produtos de carnaval e indica aos seus seguidores na sua rede social (@no.precinho) | Foto: Divulgação

Apoio
Para aqueles que desejam profissionalizar ainda mais seus negócios, há incentivos específicos. “O Sebrae trabalha em duas frentes: formação e acesso ao mercado. Oferecemos consultorias, oficinas e a Jornada Criativa, que capacita os empreendedores desde a gestão até a criação de novas linhas de produtos”, explica Maciel. Além disso, o Sebrae promove eventos e facilita a participação de empreendedores em feiras e exposições dentro e fora de Pernambuco. 

Entre as iniciativas destacadas, está a Mostra Carnaval de Oportunidades, que acontecerá de 25 a 27 de fevereiro, na sede do Sebrae, na Ilha do Retiro, em Recife. O evento é gratuito e reúne criativos que já participaram de soluções oferecidas pela instituição, permitindo a exposição e venda de produtos e serviços. 

Empreendedores interessados em integrar o grupo de criativos do Sebrae podem entrar em contato pelo WhatsApp (81) 9.9615-9197 ou pelo e-mail emaciel@pe.sebrae.com.br.

Info Folha

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