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Empreendedorismo

Empresa de uma pessoa só: Pernambuco tem 92% dos empreendedores trabalhando por conta própria

Segundo o Atlas dos Pequenos Negócios, grande parte dos negócios não tem funcionários. A cautela é o principal motivo, mas especialistas acreditam que é possível sim empreender e desenvolver o negócio

Para Ana Tammyres, a decisão de trabalhar por conta própria surgiu após a maternidadePara Ana Tammyres, a decisão de trabalhar por conta própria surgiu após a maternidade - Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Existe uma cultura de que o empreendedorismo é desafiador e que é difícil ganhar dinheiro com essa atividade. Mas, especialistas apontam que as coisas não funcionam bem assim.

Principalmente se existir organização e planejamento por parte do empresário para desenvolver o negócio e trabalhar com o que gosta. O desafio do mundo empreendedor se torna ainda maior para cerca de 92% dos donos de negócios em Pernambuco, que trabalham por conta própria, ou seja, não têm funcionários. Nesse caso, o empreendedor é seu o próprio patrão.
 
De acordo com o analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas em Pernambuco, Luiz Nogueira, o dado foi divulgado no ‘Atlas dos Pequenos Negócios’ da entidade, e o número é a representação da cautela por parte dos empreendedores sobre os passos a tomar quanto ao negócio.
 
“Tem atividade que pode ser desenvolvida por uma pessoa e com um faturamento que atenda a expectativa. Mas existem outras que atingem um determinado faturamento e é preciso saber analisar se vai ser necessário ter mais alguém trabalhando. Empreender traz risco quando não há uma segurança sobre o salário mensal", diz Luiz Nogueira. Mas também é preciso saber a hora de crescer. Segundo avaliação dele, com o tempo, a tendência é evoluir.

Nogueira aponta que no Estado são mais de 440 mil microempreendedores individuais (MEIs) formalizados e mais de 14 milhões no Brasil. “Buscamos trabalhar para que eles tenham uma atividade como o próprio negócio, com uma boa gestão financeira para ter noção de mercado e, de forma estratégica, com inovação constante. E dessa forma poder crescer e se beneficiar do MEI", destacou. 

Segundo ele, para começar a empreender, principalmente por conta própria, é preciso analisar todos os passos e o que envolve a criação do negócio. “É fundamental analisar para saber se é viável ou não ter um funcionário. Depois é preciso analisar a produção para entender se consegue fazer sozinho as entregas dos produtos, ver se um só resolve ou não. O empreendedor deve olhar para o negócio para que ele possa atuar de forma segura e crescer sem problema”, afirmou Nogueira. 

Para o analista, caso a empresa tenha a necessidade de ter mais de um funcionário, deve deixar de ser MEI.

Mudança na rotina
Para Cláudia Couto, empreendedora da Cláudia Couto Artes, a decisão de comandar a própria empresa se deu após participação em um curso. Ela conseguiu deixar o mundo corporativo para se aventurar em um novo voo. “Me senti convidada pelo barro a uma experiência e depois de um curso eu senti a necessidade de aprofundar mais o trabalho. Vi na cerâmica uma oportunidade boa de negócio. Sempre tive essa atração, mas uma mudança na rotina diária me fez despertar para esse momento”, relatou.

Ela destaca que apesar de ter quatro anos em atividade, o principal desafio é administrar o negócio sozinha, mas conta que o foco hoje é direcionado para buscar um espaço próprio para a produção de suas peças. “Dificuldades existem, mas trabalho no meu próprio negócio e posso me dedicar ao que é meu. Como sou só, recebo algumas colaborações, mas quem administra tudo e ainda cuida de rede social, sou eu. Já venho começando a pensar em ter um funcionário, com a proposta de investir no meu nome, prospectando clientes, sendo esse um próximo passo”, contou. Cláudia completa que “empreender requer muita resiliência e vontade de aprender”.

Cláudia Couto trocou o mundo corporativo pela cerâmica. “Dificuldades existem, mas trabalho no meu negócio”, revelou | Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Necessidade e aptidão
Para Germana Zaicaner, empreendedora da Cozinha Zai, o empreendedorismo surgiu da necessidade, no momento em que ela não encontrou mais empregos em sua formação. “Sempre quis ser independente e acreditava nisso, mesmo sem saber o que era empreendedorismo, e que isso leva à independência. Trabalhei como arquiteta e chegou um momento em que me vi sem trabalho. Quando surgiu a ideia de explorar aptidões que já tinha, o empreendedorismo foi o caminho para desenvolver isso (sua aptidão), sendo um reforço para assumir o que gosto de ser, com a culinária e como ceramista”, contou. 

Para ela, ser empreendedora tem suas vantagens, mas acredita que quem trabalha por conta própria precisa de mais apoio, alinhando todos os processos do negócio. “Eu posso criar o que é meu e para mim, buscando crescimento das minhas ideias. Mas tem que sincronizar tudo para dar certo, para poder crescer e chegar ao ponto de ter uma outra pessoa trabalhando comigo. Minha expectativa é poder contar com apoios institucionais e não institucionais, para mostrar os momentos certos e os passos que posso dar”, disse Germana.

Sem emprego em sua área original, Germana Zaicaner decidiu empreender na área gastronômica e pensa em como crescerSem emprego em sua área original, Germana Zaicaner decidiu empreender na área gastronômica e pensa em como crescer | Foto: Ed Machado/Folha de Pernambuco

Da maternidade para a “euquipe”
A empreendedora Ana Tammyres, da Cor e Nós Acessórios, conta que a decisão de empreender por conta própria surgiu após a maternidade, principalmente pela necessidade de ter uma renda e de comandar o próprio negócio.

“Logo aos 13 anos, eu fiz um salão na garagem da minha casa. Com o passar dos anos, continuei empreendendo e durante a licença maternidade quis ter mais tempo para acompanhar o crescimento do meu filho. Foi quando surgiu o curso de colares e cordas. Fiz e decidi que queria empreender, ainda voltei a trabalhar após a licença maternidade, mas resolvi sair do trabalho e ficar em casa com meu filho. Decidi empreender na área de acessórios”, contou Ana.

Ela conta que o empreendimento conseguiu um bom desempenho, e que apesar dos desafios, o empreendedorismo gerou aprendizados. “A maior dificuldade é que existe uma cultura de não ver o empreendimento como um negócio, mas sim como um bico ou tapa buraco. Isso é um obstáculo, pois precisamos fazer com que a pessoa enxergue de fato como uma empresa e leve a sério”, contou. 

Hoje, Tammyres já atua juntamente com o seu marido. E ele se tornou mais que um simples ajudante. “Comecei sozinha e meu marido foi um sócio investidor, mas era uma “euquipe”. Hoje eu fico na produção, na criação, divulgação, sendo a cara da marca, e ele ficando responsável pelas partes mais administrativas. Com isso consegui desafogar um pouco mais. Já penso em como será com mais outra pessoa, e como vai ser para virarmos uma grande empresa”, declarou a empreendedora.

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