Empresas aumentam investimento social, que já chega a R$ 4 bilhões por ano
Painel de seminário da FGV Conhecimento discute avanços e práticas adotadas pelas companhias
Mudança climática, pobreza, desigualdade social, falta de acesso à saneamento e à educação de qualidade. Estes e outros desafios globais exigem investimento social estratégico, e as empresas devem chamar para si a responsabilidade social por meio de práticas concretas. No Brasil, a destinação de recursos para essa agenda já chega a R$ 4 bilhões, mas é preciso acelerar processos para uma ampla transformação social. Essa foi a visão compartilhada por executivos nesta segunda-feira durante seminário sobre responsabilidade social na sede da Fundação Getúlio Vargas (FGV) em Botafogo, no Rio.
O evento discutiu os desafios enfrentados por instituições, públicas e privadas, que tem como foco aplicar e disseminar práticas de responsabilidade social. O seminário dá continuidade aos encontros realizados a partir de discussões iniciadas no Fórum Jurídico de Lisboa, em junho deste ano.
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A iniciativa foi realizada pelo Fórum Permanente de Responsabilidade Social da FGV, com apoio das Organizações Globo e da Aegea.
R$ 4 bi em investimentos sociais
Antonio Claudio Ferreira Netto, diretor jurídico do grupo Globo, destacou o crescimento da pauta social na agenda corporativa. Ele citou dados do Benchmarking do Investimento Social Corporativo (BISC), da Comunitas, que mostram que o investimento social corporativo vem crescendo no país.
As principais empresas brasileiras destinaram 0,8% do seu lucro bruto para investimento social corporativo em 2022, o que representa R$ 4 bilhões. O patamar é superior ao investido em 2021, cuja mediana ficou em 0,69% do lucro bruto. O indicador mede a importância relativa da agenda social nas empresas.
— Esse número revela a importância do investimento privado, mas a necessidade de ações como essa e de multiplicação de ações desse gênero. É um círculo virtuoso que faz com que você faça o bem e tenha resultados positivos sobre o seu investimento.
Netto mencionou ainda iniciativas do grupo Globo voltadas para a agenda social, como o tempo de conteúdo de jornalismo e entretenimento dedicado às causas sociais em prol dos direitos das mulheres, combate ao racismo e respeito à comunidade LGBTQIA+ e o aumento da diversidade nas contratações, com até 70% das vagas preenchidas por grupos minoritários.
Por fim, citou a conquista da Globo na categoria ‘Melhor Relatório de Sustentabilidade’ Melhor Relatório de Sustentabilidade (Best ESG Report) do prêmio internacional de sustentabilidade Corporate Star Awards, que reúne a indústria global de mídia.
— Vamos entregar tudo ao presente. É o dever moral de cada um de nós e o dever social das empresas.
"Vamos entregar a Baía de Guanabara ao carioca"
Já Alexandre Bianchini, presidente da Águas do Rio, destacou o potencial de transformação da qualidade de vida das pessoas a partir da ampliação do saneamento básico. Segundo o executivo, ainda há uma lacuna quando se fala em acesso à água e coleta de esgoto: apenas 25% da população brasileira tem acesso ao ciclo completo de tratamento da água. Mas essa realidade vem mudando:
— Quando nós assumimos, em torno de 1,2 milhão de pessoas no Rio de Janeiro não tinham acesso à água tratada. No primeiro ano de concessão, conseguimos levar água tratada a 250 mil pessoas. (...) Temos que ter muita responsabilidade nesse momento de tentar virar esse jogo, apesar da dificuldade que sabemos que vamos encontrar.
Segundo Bianchini, os projetos de responsabilidade social devem refletir o DNA das empresas de preocupação com a agenda social e com o meio ambiente. Ele destacou ainda o compromisso da companhia com o plano de recuperação da Baía de Guanabara, o que arrancou aplausos da plateia:
— Nós vamos entregar a Baía de Guanabara de volta ao carioca e ao fluminense. Vamos mudar essa história com apoio da sociedade.
"Objetivos são profundos e sérios"
Paula Benevides, diretora presidente da Fundação Raízen e diretora de pessoas e comunicação na Cosan, destacou a série de iniciativas que o grupo Cosan realiza. Dentre elas, citou a a agenda de impacto social positivo promovida pela Fundação Raízen e Instituto Rumo, a assinatura da carta de compromisso do Movimento Transparência 100% pela Cosan e o esforço de descarbonização das cadeias de atuação para combater a mudança climática. Além disso, destacou o projeto
A executiva comentou ainda sobre o projeto educacional de combate à evasão escolar de crianças e adolescentes através do projeto Ativa Juventude, em parceria com o BNDES, no valor de R$ 16,2 milhões.
— Queremos ampliar essas iniciativas. A gente busca uma conexão com as ODS da ONU porque entendemos que os objetivos são profundos e sérios. A gente checa a consistência do que acontece no mundo e como podemos aplicar a cada contexto que estamos inseridos. (...) A gente acredita que o poder público e privado, as organizações não governamentais e todo indivíduo ativo são importantes nesse processo de progresso.
Conselho do Prêmio FGV de Responsabilidade Social
O seminário marcou ainda a criação do Conselho do Prêmio FGV de Responsabilidade Social, que visa selecionar boas práticas voltadas para a melhoria da qualidade de vida das populações urbanas, em especial as vulneráveis, com foco em 4 eixos: educação e cultura, saúde e saneamento, sustentabilidade e segurança pública.
Fazem parte do Conselho do Prêmio FGV dez personalidades, sendo eles: o bispo Abner Ferreira, teólogo e escritor; André Esteves, fundador do BTG Pactual; Antonio Carlos Ferreira, ministro do STJ; Antonio Cláudio Ferreira Neto, diretor jurídico da Globo, responsável pela gestão do Prêmio Innovare, que inspirou o prêmio da FGV; José Marinho Paulo Junior, titular da Promotoria de Fundações do MPRJ; Lucília Diniz, empresária e ativista em temas de saúde e bem-estar; Luiza Brunet, atriz, modelo e ativista; Dom Odilo Scherer, arcebispo e cardeal de São Paulo; Radamés Casseb, CEO da Aegea e Robson Andrade, presidente da CNI.