Logo Folha de Pernambuco

NEGÓCIOS

Entenda o que vai acontecer com a Americanas com a recuperação judicial

Empresa tem R$ 43 bilhões em dívidas e 16.300 credores, que preveem uma oferta de descnto de até 90%

Fachada das Lojas AmericanasFachada das Lojas Americanas - Foto: Arthur Mota/Folha de Pernambuco

Com caixa esvaziado e sem acordo com bancos, a Americanas entrou em recuperação judicial ontem no Rio, com um pedido em caráter de urgência, que foi aceito no mesmo dia. Com R$ 43 bilhões em dívidas e 16.300 credores, o processo da empresa será o quarto maior já registrado no país.

De acordo com levantamento feito pelos escritórios Lara Martins Advogados e Mingrone e Brandariz, a recuperação judicial da Americanas, considerando o endividamento, só fica atrás dos casos de Odebrecht (R$ 80 bilhões), Oi (R$ 65 bilhões) e Samarco (R$ 55 bilhões).

De início, a empresa tem 60 dias para apresentar seu plano de recuperação à Justiça. Já na tarde de ontem, contudo, diversos credores afirmavam esperar que a Americanas acene com uma proposta de corte de 80% a 90% do valor da dívida. O cenário é de negociações tensas, diz uma fonte a par das conversas.

Só R$ 250 milhões no caixa
Na manhã de quinta-feira, a empresa havia alertado, por meio de fato relevante divulgado ao mercado, que devido a um tombo em seu caixa — reduzido de R$ 8 bilhões para R$ 800 milhões em menos de uma semana —, poderia pedir recuperação em dias ou mesmo em horas.

Mergulhada em uma crise iniciada há uma semana, após a divulgação de “inconsistências contábeis” no valor de R$ 20 bilhões no balanço de 2022 e anos anteriores, com direito a troca no comando da companhia, desvalorização das ações, batalha na Justiça com credores e restrições de caixa, a Americanas acabou pedindo recuperação judicial.

Ainda na quinta, a empresa informou ter apenas R$ 250 milhões disponíveis em caixa, bem menos que os R$ 800 milhões revelados na véspera. O recuo foi causado por bloqueios de recursos feitos pelos bancos nos últimos dias, como BTG Pactual, Bradesco, Safra, Votorantim e Itaú. Na petição à Justiça, a varejista solicitou que esses valores sejam desbloqueados, argumentando que foram resgatados de “forma ilícita, arbitrária e ilegítima.”

Dos R$ 800 milhões que restavam no caixa, o Banco Safra bloqueou quase R$ 100 milhões; o Bradesco, cerca de R$ 474 milhões; e o Banco Itaú, quase R$ 50 milhões.

Sem esses recursos, justificou a companhia, “as lojas do Grupo Americanas, portanto, correm o risco concreto de fechar as portas”, pela falta de capital para manter a atividade empresarial.
 

Diante do risco, a empresa optou pela recuperação, com seu pedido acolhido horas depois pela Justiça. Em sua decisão, o juiz Paulo Assed Estefan, da 4ª Vara Empresarial da Justiça do Rio, disse que “a eventual quebra do Grupo Americanas pode acarretar o colapso da cadeia de produção do Brasil, com prejuízos em relevantes setores econômicos, afetando mais de 50 milhões de consumidores, colocando em risco dezenas de milhares de empregos.”

Mas o que isso significa? A recuperação judicial é feita com o objetivo de assegurar a continuidade da empresa e evitar que ela quebre.

A Lei de Recuperação de Empresas e Falências foi criada em 2005 e passou por uma última atualização em 2020. Ela leva em conta a função social da empresa e visa a continuidade dos negócios e a preservação de empregos.

Plano de recuperação
Ao recorrer à Justiça, a companhia consegue blindar seu caixa da cobrança dos credores por um período de 180 dias (que podem ser prorrogados pelo juiz da recuperação). Nesta etapa, a empresa deve iniciar negociação com os credores para formular um plano de recuperação, que precisa ser aprovado em assembleia por eles.

Os credores são divididos em categorias, e há ordem de prioridade no pagamento das dívidas. Os primeiros a receber são os trabalhadores. Na sequência, estão os credores com dívidas com garantia e, por fim, os sem garantia.

No último dia 13, a Americanas já havia obtido na Justiça uma medida que a protegia contra a cobrança de dívidas antecipadas por um período de 30 dias. Neste prazo, ela deveria preparar o pedido de recuperação judicial.

Mas um dos pontos da decisão azedou o clima com os bancos. Ela previa que a proibição de resgatar recursos valia a partir do dia 11, quando a Americanas divulgou o rombo bilionário nas contas.

Isso levou a uma grande disputa entre Americanas e credores pelo caixa da empresa. É que cobranças já efetivadas nesse intervalo teriam de ser desfeitas. BTG Pactual, Banco Votorantim, Bank of America, Goldman Sachs, Safra, Bradesco e Itaú entraram na Justiça contra a decisão.

No pedido de recuperação, a Americanas diz que a queda no valor das ações, de quase 80% em menos de uma semana e desde a divulgação do problema financeiro, e o rebaixamento de suas notas de crédito pelas agências de classificação de risco deixaram os credores financeiros “em polvorosa”.

Isso foi determinante para que os bancos se recusassem a celebrar operações de adiantamento de pagamentos de cartão de crédito, o que poderia gerar caixa adicional superior a R$ 3 bilhões, montante necessário para manter a operação da varejista no curto prazo. Ou seja, dos R$ 8 bilhões em caixa antes da crise, R$ 3 bilhões viriam dessas operações.

Efeito até no ovo de Páscoa
A Americanas cita a vitória na Justiça do BTG Pactual, que conseguiu reaver R$ 1,2 bilhão, como um dos estopins para que decidisse pedir a recuperação judicial. Ela diz que “a situação de caixa da companhia, que já era sensível, foi drasticamente afetada”.

A varejista lembrou que “o bloqueio indevido de quase R$ 1,5 bilhão numa situação periclitante como a atual faz com que a manutenção dos negócios do Grupo Americanas seja impossível sem a proteção da recuperação judicial.” Deste total, R$ 1,2 bilhão estão com o BTG.

Ao falar sobre o efeito no varejo, a empresa diz que a crise do grupo “pode afetar até mesmo o preço do ovo de Páscoa, pois se trata da maior varejista de ovos de Páscoa do mundo!”

Na lista de argumentos, citou ainda o Big Brother Brasil: “Tamanha é a magnitude da companhia que se tornou, nos últimos anos, o principal parceiro dos maiores programas de entretenimento do país, dentre eles o Big Brother Brasil – BBB, ‘entrando’ na casa de dezenas de milhões de brasileiros com suas propagandas e ativações no horário nobre dos canais mais assistidos da televisão brasileira.”

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter