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MERCOSUL

Entenda por que a incorporação da Bolívia ao Mercosul é importante para o Brasil e para o bloco

Os estados de Mato Grosso, Rondônia e Acre ganharão acesso ao oceano Pacífico através de portos no Chile e Peru; comércio pode crescer e vida nas cidades de fronteira ficará mais fácil

O presidente Lula e o presidente da Bolívia Luis Arce, durante a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados O presidente Lula e o presidente da Bolívia Luis Arce, durante a Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados  - Foto: Ricardo Stuckert

Na cúpula de chefes de Estado do Mercosul, nesta segunda-feira em Assunção, no Paraguai, o presidente da Bolívia, Luis Arce, entregou a ata de ratificação da adesão plena de seu país ao Mercosul.

Na véspera da visita oficial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seu país, Arce comemorou com os demais chefes de Estado do bloco — com exceção do argentino Javier Milei, que não participou do encontro — a incorporação da Bolívia como quinto sócio.

A Bolívia tem muito a oferecer a Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai em matéria comercial, econômica, logística, de acesso a minérios como lítio, e de qualidade de vida para os cidadãos de países vizinhos que moram em território boliviano.

 

Segundo trabalho realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), divulgado semana passada e coordenado pelo economista Pedro Silva Barros, a relação bilateral tem grande potencial para trazer benefícios a ambos os países.

No caso do Brasil, os estados que mais poderão ganhar com a entrada da Bolívia ao Mercosul são Mato Grosso, Rondônia e Acre. Isso explica, em grande medida, porque setores bolsonaristas apoiaram em massa o protocolo de incorporação do país vizinho no Congresso.

O chamado Quadrante Rondon, formado pelos estados mencionados, terão, através da Bolívia e de seus acordos com Chile e Peru, acesso ao oceano Pacífico. Os portos de Arica, no Chile, e Ilo e Matari, no Peru, são usados pela Bolívia e poderão, a partir de agora, entrar na rota das exportações brasileiras.

— Os portos deverão ser adaptados aos tipos de cargas brasileiras. Também será necessário melhorar as estradas, muitos trechos na Bolívia precisam ser pavimentados — explica Silva Barros.

O economista destacada que a entrada da Bolívia será positiva para “cidades que estão mais próximas do Pacífico do que do Atlântico, como Porto Velho, capital de Rondônia”.

— Fora do Sul e do Sudeste, outras regiões do Brasil não se sentem tão parte do Mercosul. A incorporação da Bolívia é, também, a entrada ao bloco do Mato Grosso, Rondônia e Acre, a faixa oeste do Brasil — afirma o economista.

Essa nova dinâmica, acrescenta Silva Barros, permitirá aprofundar relações, gerar integração produtiva em setores como fertilizantes e no complexo agroindustrial. A Bolívia tem grandes reservas de insumos que o Brasil precisa para produzir fertilizantes, entre outros, potássio, fosfato e uréia. Hoje, esses insumos são importados de países distantes como Bielorrúsia, Egito, Marrocos e Rússia.

“O gás natural foi de 2001 a 2020 o principal produto da pauta de exportação boliviana para o Brasil. Com o início das vendas de gás natural boliviano para o mercado brasileiro, as relações comerciais começaram a ganhar outra dimensão em termos de escala, consolidando o Brasil como o principal destino das vendas do país vizinho, fato que perdurou até 2020 e em 2023. Foi somente nos anos mais recentes de 2021 e 2022 que a posição brasileira de principal importador de bens bolivianos foi superada”, aponta o trabalho do Ipea, lembrando que hoje o principal produto exportado pela Bolívia para o Brasil é ouro.

Em matéria de gás, a parceria com a Bolívia no Mercosul poderá facilitar o transporte do gás natural argentino das jazidas de Vaca Muerta, “pois a infraestrutura dutoviária já existente entre ambas nações, que permitia as exportações bolivianas de gás natural à Argentina, será fundamental para viabilizar o fluxo contrário do recurso entre os países, ou seja, da Argentina para a Bolívia, e dela para o Brasil. O incremento no fluxo gasífero através da Bolívia, preferencialmente via contratos de longo prazo, significa estar menos dependente das importações de gás natural liquefeito (GNL) realizadas no exterior e, consequentemente, menos exposto à volatilidade dos preços”, diz a pesquisa do Ipea.

As reservas de lítio bolivianas também são atraentes para o Brasil. No primeiro semestre deste ano, a Bolívia foi o país com maiores recursos de lítio descobertos em seu território, alcançando 23 milhões de toneladas. A Argentina ficou em segundo lugar com 22 milhões, Estados Unidos em terceiro com 14 milhões, Chile em quarto com 11 milhões, Austrália em quinto com 8,7 milhões e China em sexto com 6,8 milhões, de acordo com dados do governo brasileiro.

A adesão da Bolívia também é importante, destaca Daniel Falcon Lins, chefe da divisão de Bolívia, Equador, Paraguai e Peru na Secretaria de América do Sul no Itamaraty, “por outros aspectos relevantes do Mercosul em matéria de direitos sociais e compromisso com a democracia”.

— No caso dos estudantes brasileiros na Bolívia, por exemplo, teremos mais garantias e facilidades para a vida no país vizinho. Em geral, a vida nas cidades de fronteira vai melhorar, teremos menos burocracia e mais agilidade em vários sentidos — acrescenta o diplomata, que também destaca a oportunidade de aumento do comércio bilateral e a importância desse aumento para o mercado de trabalho brasileiro.

— Exportamos produtos de valor agregado para o mercado boliviano, o que representa empregos de qualidade em nosso mercado — afirma o diplomata.

Um dos projetos na pauta bilateral, já aprovado no novo PAC, é a construção de uma ponte entre as cidades de Guajará-Mirim, em Rondônia, e Guayaramerín, na Bolívia. Hoje, afirma Falcon, muitas famílias e até mesmo crianças em idade escolar atravessam o rio de barco diariamente.

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