Reforma Tributária

Estados chamam novo texto da reforma tributária de atentado e o rejeitam integralmente

A oposição dos estados é mais um capítulo das dificuldades do governo

Reforma TributáriaReforma Tributária - Foto: Pixabay

O comitê de secretários estaduais de Fazenda considerou a nova versão da reforma no Imposto de Renda um "atentado" contra as contas públicas por retirar R$ 27,4 bilhões em receitas dos governos regionais. Em carta, eles rejeitaram integralmente a proposta.

A oposição coloca em xeque a tentativa elaborada pelo ministro Paulo Guedes (Economia) em parceria com o relator, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), de aprovar as novas regras neste ano para que elas comecem a valer em 2022.

O Comsefaz (Comitê Nacional de Secretários de Fazenda, Finanças, Receita ou Tributação dos Estados e do Distrito Federal) afirma que o buraco nas contas públicas será observado quase integralmente nos números de estados e municípios.


De acordo com a entidade, a perda devido ao menor recolhimento de receitas a serem obtidas com o Imposto de Renda. A Constituição determina que parte dessa arrecadação, feita pela União, seja repassada aos entes.

A proposta de Sabino corta em R$ 98 bilhões ao ano a cobrança no IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica). As medidas compensatórias são feitas por meio de tributos que ficam com a União e não são repartidos com os entes subnacionais.

"O relatório atenta contra o equilíbrio fiscal da União, estados e munícipios, que vêm lutando para equalizar suas contas desde a crise de 2015 e que foi agravada pela pandemia que se iniciou no ano passado, sem um horizonte concreto de desfecho", afirma carta assinada por Rafael Fonteles, presidente do Comsefaz.

"A técnica inepta é agravada pelo desconhecimento da existência de um pacto federativo na Constituição do país, dado o flagrante atentado a este, ao se propor que mais de 95% do desequilíbrio fiscal pretendido pelo substitutivo seja quase que inteiramente suportado pelos entes subnacionais", afirma.

 



Para os estados, a proposta caminha em sentido contrário a todas as recomendações internacionais que endossam a progressividade dos tributos. "Postulamos a rejeição integral do substitutivo", afirma o texto.
De acordo com o Comsefaz, houve maioria entre os secretários para a publicação da carta. Não houve votos contrários e nem todos se manifestaram até agora, mas a previsão da presidência é que haja unanimidade.


Cristiane Alkmin, secretária de Fazenda de Goiás, afirma que a proposta deveria trazer uma compensação para estados e municípios — o que não foi previsto no texto. "Os estados e municípios estão fazendo uma reclamação muito genuína. Eles têm uma programação orçamentária e financeira de acordo com o que arrecadam e também com os repasses [que recebem]", disse à Folha.


"Na hora que agente modifica essa base tributária, a gente tem que pensar em compensações", afirmou. Segundo ela, o interesse original dos estados é buscar uma reforma tributária ampla que gere uma fusão de impostos que inclua o estadual ICMS e o municipal ISS.

A oposição dos estados é mais um capítulo das dificuldades do governo em implementar a reforma no Imposto de Renda.

Guedes enviou ao Congresso em 25 de junho uma primeira proposta atacada por empresários, que enxergaram aumento da carga. Nesta semana, após reuniões com o relator, foi apresentada a nova versão, que corta drasticamente o imposto para empresas, mas deixa um buraco de R$ 30 bilhões nas contas públicas.

O governo tem pressa para que o projeto seja aprovado ainda neste ano, para valer no ano que vem e para gerar respaldo jurídico para turbinar em R$ 20 bilhões o Bolsa Família em ano eleitoral (graças às medidas de aumento de arrecadação dentro da proposta).

Veja também

Morre Gustavo Perez Queiroz, aos 81 anos
Falecimento

Morre Gustavo Perez Queiroz, aos 81 anos

Raízen enfrenta incêndios em áreas de produção e mobiliza recursos para minimizar danos
SÃO PAULO

Raízen enfrenta incêndios em áreas de produção e mobiliza recursos para minimizar danos

Newsletter