Esteves, do BTG, sobre crise no SVB: "qualquer estagiário" da América Latina evitaria o colapso
Segundo executivo, atual geração de operadores do mercado financeiro só conhece a inflação "pelos livros didáticos"
O bilionário André Esteves, CEO e sócio sênior do BTG Pactual, afirmou que “qualquer analista júnior” da América Latina saberia administrar o risco de taxa de juros no balanço do banco americano Silicon Valley Bank (SVB) para evitar seu colapso.
O SVB quebrou após a recente alta na taxa básica de juros dos EUA ter criado um descompasso no seu balanço financeiro, já que o banco tinha posições díspares em títulos de longo e curto prazo.
"É uma gestão de ativos e passivos muito básica que qualquer analista júnior trabalhando em um banco no Chile, Brasil ou Colômbia ou qualquer outro país que apresente um pouco mais de volatilidade saberia" disse Esteves durante um evento na capital chilena, Santiago, na última terça-feira (28).
Leia também
• O banco americano First Citizens vai comprar o falido Silicon Valley Bank
• O que se sabe sobre a crise do Silicon Valley Bank, o banco das startups, e quais seus efeitos
Segundo ele, o SVB cometeu um erro "grosseiro":
- Foi uma má administração grosseira de sua incompatibilidade de taxas de juros e qualquer estagiário do BTG ou do Banco do Chile ou de qualquer outro grande banco chileno aprendeu, logo nos primeiros três meses de trabalho, que você não deve fazer isso - mas aparentemente eles não aprenderam.
Para Esteves, a atual volatilidade nos mercados reflete o fim de um período de 15 anos de taxas básicas de juros perto de zero em vários países ricos, que levou a excessos. Os operadores do mercado não tinham se preparado para uma alta repentina dos juros porque, na avaliação de Esteves, não têm a vivência de como administrar esses riscos.
- Após 15 anos de juros perto de zero, você tem toda uma geração de operadores, gestores de carteira, economistas e analistas que não conhecem esses conceitos básicos. Eles só conhecem a inflação pelos livros didáticos, as pessoas nunca viram um banco central hawkish (ou seja, com postura mais contundente de alta de juros) ou taxas reais positivas, e é com esse descolamento que estamos lidando.
Esteves, que detém cerca de 25% do BTG, tem um patrimônio líquido de US$ 5,4 bilhões, de acordo com o Índice de Bilionários da Bloomberg.
Na sua avaliação, as taxas de juros globais vão permanecer altas por mais tempo já que reduzir a inflação para 2% ao ano será uma tarefa difícil. Ele criticou a recente inflexão do Federal Reserve (Fed, banco central americano), que moderou o discurso e sinalizou, após sua última reunião, que poderá ser mais brando na alta de juros.
Para Esteves, o Fed deveria manter o curso do aperto monetário, mesmo que isso leve a economia americana à recessão. .
- Isso significa que o avião está voando, mas o piloto não está necessariamente no comando - disse ele, sobre o Fed.
O banqueiro disse que o colapso do Credit Suisse foi um evento isolado e que o “plano C” dos reguladores conseguiu conter as consequências.
- Outro dia, um regulador me perguntou por que Credit Suisse faliu e eu disse "antes lentamente do que repentinamente". Houve vários sinais ao longo de muitos anos e, de repente, você não consegue sustentar essa situação - afirmou.