REDES SOCIAIS

Ex-CEO do Twitter, Jack Dorsey critica Elon Musk em outras redes sociais que ajudou a criar

Cofundador da plataforma agora comandada pelo bilionário sul-africano tem usado os apps Nostr e Bluesky para reprovar atitudes do atual proprietário da empresa

Jack DorseyJack Dorsey - Foto: Jim Watson/AFP

Cofundador do Twitter, o empresário americano Jack Dorsey mal tem postado na rede social que ajudou a criar. Em seus últimos tuítes, publicados em janeiro deste ano, o executivo promoveu o aplicativo "Nostr". Esta é a nova plataforma na qual investiu dinheiro. Desde então, o desenvolvedor de software tem publicado uma média de 59 vezes por dia — incluindo mensagens que atacam o Twitter e seu atual proprietário, Elon Musk.

Grande parte do que Dorsey posta está alinhado com seus interesses em criptomoedas e tecnologia no modelo descentralizado de código aberto, onde o código fica público para que as pessoas possam modificá-lo e reutilizá-lo. Mas o ex-chefe do Twitter também criticou abertamente a propriedade de Musk, tornando-se o mais recente de uma longa linha de fundadores do Vale do Silício que expressam decepção com aqueles que assumem suas empresas.

Dorsey pareceu sumir da vista do público depois que Musk comprou o serviço de microbolog no ano passado, por US$ 44 bilhões. À época, ele pagou cerca de R$ 235 bilhões. No entanto, a atividade recente e abundante de Dorsey no Nostr e Bluesky, redes criadas por ele após o Twitter, indica que o empresário ainda tem muito a dizer.

No início deste mês, em resposta à pergunta de um usuário que questionou se Musk era o melhor administrador para o Twitter, Dorsey respondeu secamente: “Não. Deu tudo deu errado”, afirmou. “Mas aconteceu e tudo o que podemos fazer agora é construir algo para evitar que isso aconteça novamente", acrescentou ele.

 

O programador também está investindo seu dinheiro onde estão suas postagens, apoiando os novos concorrentes do Twitter. Em 2019, enquanto Dorsey era CEO do Twitter, ele financiou o Bluesky como um projeto que permitiria a descentralização de todas as redes sociais, compartilhando facilmente postagens e usuários.

Em dezembro do mesmo ano, ele doou 14 Bitcoins, no valor de cerca de US$ 250 mil na época, para o criador anônimo do Nostr, que usa o apelido “fiatjaf”.

— Não me surpreenderia se ele estivesse retendo sua voz no Twitter por algum princípio — disse Jason Goldman, membro da equipe fundadora do Twitter que também atuou em seu conselho, sobre as recentes ações de Dorsey. Ele acrescentou que, em seus últimos comentários, Dorsey “reconhece o quão mal as coisas correram para o Twitter sob Elon Musk.”

Retrospecto
Dorsey, que ajudou a fundar o Twitter em 2006, foi CEO da empresa por oito anos em dois períodos diferentes. E, embora o sucesso da rede social o tenha tornado bilionário, ele parece ter se desiludido nos últimos anos com a direção do Twitter. Entre outras coisas, o empresário, que apoia a liberdade de expressão, lamentou que o Twitter tenha se tornado poderoso demais como árbitro do tipo de postagens que deveriam permanecer online e de quais deveriam ser retiradas.

Ele também culpou Wall Street por desviar o Twitter de seu papel principal como plataforma de comunicação, pressionando-o a ganhar dinheiro e, eventualmente, se vender ao maior lance. Em novembro de 2021, Dorsey, que também lidera a startup de pagamentos Block (anteriormente conhecida como Square), renunciou como CEO do Twitter. Ele deixou o conselho da empresa no ano passado após a oferta de Musk pela companhia.

Desde então, Dorsey disse que o Twitter deveria ter sido construído como um tipo diferente de rede social: uma descentralizada. Ao contrário das plataformas sociais convencionais, que executam um código privado que controlam, as redes sociais descentralizadas tornam seus sistemas públicos para que os usuários possam criar seus próprios aplicativos e comunidades. Dessa forma, nenhuma entidade única pode impor regras sobre o que pode ou não ser dito nessas redes e os usuários podem personalizar suas experiências.

O fundador do Twitter se interessou pelas plataformas sociais descentralizadas pelo menos desde 2019, quando começou a trabalhar no Bluesky, e tem um interesse de longa data no Bitcoin, uma criptomoeda popular. Ele ingressou no Nostr - o acrônimo significa “notas e outras coisas transmitidas por relés” - em dezembro do ano passado.

O Nostr permite que os usuários enviem pequenos pagamentos em criptomoeda uns aos outros, chamados de “zaps”. Fiatjaf, o criador do Nostr, disse em um e-mail que o apoio de Dorsey “foi um divisor de águas, mas muito menos em termos de financiamento do que na quantidade de conscientização e entusiasmo que ele gerou sobre o Nostr”.

Estrada tortuosa
Dorsey e Musk tiveram um relacionamento cheio de altos e baixos. Quando Musk fez uma oferta pelo Twitter no ano passado, Dorsey apoiou o esforço. “Em princípio, não acredito que alguém deva possuir ou administrar o Twitter”, escreveu Dorsey no Twitter na época. “Resolvendo o problema de ser uma empresa, no entanto, Elon é a única solução em que confio. Confio em sua missão de expandir a luz da consciência.”

Mas Musk comprou o Twitter em outubro de 2022 e imediatamente demitiu muitos dos executivos escolhidos a dedo por Dorsey. Desde então, o dono da Tesla já demitiu cerca de 75% da força de trabalho do Twitter, recusou-se a pagar aluguel por alguns de seus escritórios e fez mudanças abrangentes e às vezes contraditórias em suas políticas de moderação de conteúdo. Musk e Dorsey foram procurados pela reportagem, mas não quiseram comentar sobre o assunto.

À medida que Dorsey postava no Nostr e no Bluesky, suas críticas a Musk e ao Twitter se acumularam. Em algumas postagens, Dorsey repreendeu o Twitter por suas repetidas interrupções no serviço. No mês passado, ele insinuou que os usuários do Twitter poderiam deixar a plataforma se quisessem. Ele também zombou da decisão de Musk de cobrar US$ 8 por mês dos usuários do Twitter por um símbolo de verificação, uma marca que antes denotava uma identidade verificada na plataforma.

A avaliação mais contundente de Dorsey sobre a liderança de Musk veio no início de maio, no Bluesky, onde Dorsey tem mais de 11 mil seguidores. (Ele tem mais de 6 milhões de seguidores no Twitter.) Dorsey respondeu a vários usuários do Bluesky que perguntaram sobre a venda do Twitter e as mudanças que a empresa passou nos últimos meses. Ele disse que as redes sociais descentralizadas eram a melhor defesa contra invasores corporativos e acrescentou que Musk “deveria ter desistido” de comprar o Twitter.

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Dorsey também postou críticas no Nostr, onde tem 134 mil seguidores. Ele disse que se arrependeu de tornar o Twitter público e transformá-lo em uma empresa em primeiro lugar. Ele também amenizou suas críticas a Musk, elogiando os esforços do proprietário do Twitter para tornar o site menos dependente da publicidade de marcas, que compõe a maior parte da receita da empresa.

E ele encorajou Musk a considerar tornar o Twitter mais aberto, usando tecnologia descentralizada ou “protocolo aberto”. “Entendo a urgência e as decisões apressadas”, escreveu Dorsey. “Espero que ele perceba, eventualmente, que basear-se em um protocolo aberto como este resolve muitos dos problemas e possibilita um negócio bastante incrível. Veremos.”

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