Expansão da rede de saneamento demanda R$ 498 bi em investimentos até 2033
O valor das tarifas é uma das principais questões levantadas por críticos da maior participação privada no setor
A expansão da rede de saneamento para cobertura de todo território nacional vai demandar R$ 498 bilhões em investimentos, previstos para serem feitos até 2033, prazo para a universalização do sistema, segundo estudo feito pela Abcon (associação das concessionários privadas do setor).
Desse montante, R$ 144 bilhões são previstos para a rede de água e R$ 354 bilhões para a de esgoto. A entidade calcula que outros R$ 255 bilhões sejam necessários para a troca de redes antigas, já obsoletas. No total, a previsão é de R$ 753 bilhões em investimentos.
Um novo marco legal que facilita a participação de empresas privadas em serviços de saneamento básico foi recentemente aprovado pelo Congresso. Atualmente, apenas 5,2% dos municípios brasileiros são atendidos pela iniciativa privada. O financiamento ao setor tem sido um dos itens prioritários na agenda do BNDES.
Segundo Percy Soares, presidente da Abcon, o banco tem cerca de R$ 55 bilhões em sua carteira de investimentos para saneamento, que devem levar entre três e quatro anos para entrarem em fluxo.
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O estudo mostra que as tarifas médias praticadas pelas empresas privadas gira em torno de R$ 4,29, valor acima da média nacional (R$ 3,97) e a cobrada por serviços municipais (R$ 2,76), mas abaixo da praticada por serviços estaduais (R$ 4,36).
O valor das tarifas é uma das principais questões levantadas por críticos da maior participação privada no setor. Soares, no entanto, defende que a cobrança deve ser analisada tendo em vista também os investimentos feitos, critério no qual o setor privado lidera no país.
Em 2018, a média de investimento por ligação de água e esgoto feito por empresas privadas ficou em R$ 232,70. Já nas companhias estaduais, esse valor cai para R4 180, 78 e nas municipais, para R$ 55,49. "Cobrar da população e não fazer investimento que é o problema. Se eu consigo ter uma tarifa robusta e justa o suficiente para garantir o ritmo de investimento para levar o serviço a quem não tem, é isso o que se quer", diz Soares.
O ritmo de entrada de empresas privadas também vem crescendo com o aumento do número de editais para a contratação de concessionárias. Em 2019, foram 23 editais lançados, segundo a Abcon. A expectativa da entidade é que a oferta continue se acelerando, aumentando a cobertura para 7% dos municípios brasileiros.
Com a aprovação do marco, as prioridades das empresas privadas agora é a sua regulamentação. Os principais temas são o decreto que regulamenta a exigência de comprovação de capacidade financeira do operador privado para contratar com o poder público, atualmente em consulta pública, e a estruturação da Agência Nacional de Águas (Ana).
"Quando há assinatura de contrato de programa sem nenhuma concorrência, a população atendida não tem garantia de que o operador vai ter balanço para fazer os investimentos necessários", alerta Soares. Em relação à Ana, o presidente da Abcon defende uma reestruturação da agência, sobretudo em relação ao seu corpo técnico, para que seja cumprido o novo papel dela esperado a partir do marco do saneamento.