Logo Folha de Pernambuco

Indústria

Exportações de armas crescem mais de 30% sob Bolsonaro, diz relatório

Comparado a 2018, em 2019 houve um aumento de 16% no número de Empresas de Defesa

Bolsonaro fazendo sinal de arma com as mãosBolsonaro fazendo sinal de arma com as mãos - Foto: Allan Santos/PR

Relatório da consultoria Omega Research Foundation, do Reino Unido, afirma que exportações de armas cresceram 30% no primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), saltando de US$ 915 milhões em 2018 para US$ 1,3 bilhão em 2019.

Segundo o documento, a percepção da indústria de armas como estrategicamente importante tem incentivado sucessivos governos brasileiros a fornecer apoio financeiro ao setor por meio de uma série de concessões e empréstimos a juros baixos.

O relatório diz então que, "mais recentemente, o setor de defesa foi ainda mais fortalecido pela eleição do presidente conservador Jair Bolsonaro, cujas políticas pró-militares ajudaram a garantir o apoio contínuo ao setor de defesa e criaram um ambiente político sensível às demandas do setor".


Elaborado com o apoio da Justiça Global e do Instituto Sou da Paz, o relatório afirma que, de acordo com levantamento da Secretaria de Produtos de Defesa (Seprod), só em 2019 houve um aumento de 16% no número de empresas credenciadas para comercialização de armas em comparação com o ano anterior.

"No mesmo período, houve um aumento de 21,8% no número de empresas que se beneficiam do regime Retid (Regime Especial de Tributação para a Indústria de Defesa)", acrescenta.

Entitulado "a fabricação, comércio e regulamentação de armas e equipamentos de segurança no Brasil", o documento retrata a produção e comercialização, no Brasil, de irritantes químicos (como as bombas de gás lacrimogêneo), armas de eletrochoque, armas de impacto cinético (bastões, porretes, cassetetes), projéteis de impacto cinético (balas de borracha) e instrumento de contenção (algemas), além de armas de fogo e munições reais e granadas de efeito moral.

Além de mencionar incetivos fiscais e flexibilização de regras como amostra de apoio institucional, o relatório afirma que nos últimos anos os exportadores brasileiros de equipamentos de segurança e aplicação da lei também se beneficiaram do "aparente endosso do Executivo do país".

O relatório cita como exemplo a participação de empresários do setor nas comitivas que acompanharam Bolsonaro em viagens oficiais à Índia e aos Emirados Árabes. O documento aponta ainda para o risco de emprego de armas em desacordo com os princípios dos direitos humanos, bem como a exportação para países onde a democracia está ameaçada.

No relatório, a Omega Research Foundation também faz uma série de recomendações sobre a legislação que regulamenta o setor, em especial no que se refere ao aumento do controle do uso de equipamentos de segurança.

Um dos responsáveis pelo relatório, o pesquisador Matthew McEvoy explica que um dos objetivos da Omega é monitorar a expansão da indústria das armas no Brasil e no mundo. Para ele, a presença de executivos dessas empresas nas comitivas presidenciais evidencia a priorização do setor pelo governo Bolsonaro.

Segundo McEvoy, o estudo -que lista casos de uso abusivo de equipamentos de segurança no Brasil- será encaminhado a entidades internacionais de defesa de direitos humanos, além de apresentado, por exemplo, ao Ministério Público e CNJ.

O estudo foi realizado durante o final de 2019 e início de 2020, produzido como parte de um projeto cofinanciado pela União Europeia. O conjunto de dados sobre empresas envolvidas na fabricação e comercialização de equipamentos de segurança em que se baseia é mantido e atualizado pela Omega, que pesquisa o mercado global de equipamentos policiais e de segurança desde 1990.

Ao explicar a metodologia aplicada na elaboração do relatório, a Omega afirma conduzir pesquisas de mercado de forma contínua.

As fontes incluem informações de sites e panfletos de empresas, publicações do setor industrial, publicações governamentais, informações financeiras e empresariais de juntas comerciais nacionais, estatísticas comerciais produzidas pelo governo e pelo mercado, organizações de mídia e relatórios e publicações confiáveis de organizações não governamentais (ONGs) e organizações governamentais internacionais (IGOs).

A Omega afirma que os estudos de caso do uso abusivo de equipamentos de segurança no Brasil e internacionalmente foram extraídos de uma ampla gama de fontes, incluindo notícias, relatórios de órgãos de monitoramento de direitos humanos e relatórios publicados por organizações de direitos humanos nacionais e internacionais.

"Salvo disposição em contrário, não se pretende inferir irregularidades por parte dessas empresas e nenhuma inferência nesse sentido deve ser feita. Todas as empresas incluídas neste relatório foram contatadas para comentários antes da publicação", ressalva.

- Em 2019, o Brasil registrou um aumento de 30% no total de autorizações para exportação de produtos de defesa, de US$ 915 milhões no ano anterior para US$ 1,3 bilhão.

- Brasil é o quarto maior exportador de armas de fogo e munições reais do mundo, atrás dos EUA, Itália e Alemanha.

- Os armamentos brasileiros correspondem, em média, a apenas 0,2% das exportações globais a cada ano.
Entre 2014 e 2018, o Brasil importou mais armas fabricadas no exterior do que qualquer outro país da América Latina, o equivalente a 27% do total das importações de armas da região.

- Comparado a 2018, em 2019 houve um aumento de 16% no número de Empresas de Defesa (ED) e 11% no de Empresas Estratégicas de Defesa (EED) credenciadas no Brasil.

- No primeiro ano do governo Bolsonaro, houve um aumento de 21,8% no número de empresas que se beneficiam do regime de tributação do governo.

- A Omega identificou 16 empresas brasileiras envolvidas na fabricação de armas e equipamentos de segurança.

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter