Falas de Bolsonaro sobre Brasil 'quebrado' criam instabilidade, avalia Décio Padilha
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) voltou a afirmar, nesta quinta-feira (7), que "o Brasil está quebrado na questão pública". A insistência do mandatário em qualificar o país dessa forma tem efeitos diretos sobre a confiança dos investidores internacionais e cria um clima de instabilidade na economia, assim avaliou o secretário da Fazenda de Pernambuco, Décio Padilha, em entrevista ao Portal Folha de Pernambuco.
"Respondi anteontem uma pergunta aqui sobre a tabela do Imposto de Renda. Falei durante a campanha que queria corrigir a tabela, só que veio esta desgraça da pandemia, mais ou menos R$ 700 bilhões de endividamento. Não deu para fazer isso. E falei que o Brasil estava quebrado. E está quebrado na questão pública", disse Bolsonaro a apoiadores no jardim do Palácio da Alvorada.
Desta vez, o presidente citou a situação de prefeituras pelo país para sustentar seu discurso. "Vê se os prefeitos não estão quebrados. Estão. Estão no limite, pagando suas despesas, pagando suas despesas obrigatórias. Está no limite", afirmou, responsabilizando os governos anteriores e a imprensa pela crise.
Para Décio Padilha, a classificação dada pelo presidente é contraditória. "Do ponto de vista das empresas, o quebrado tem um sentido, é de uma forma. Do ponto de vista de uma entidade nacional, sub-nacional e dos municípios, quebrar só se configura - pela legislação atual -quando você perde a capacidade de pagar suas dívidas, quando a União não tiver mais condições de rolar sua dívida e pagar os juros da dívida e a amortização", avaliou, citando a última vez que o país esteve nessa situação, em 1987, quando decretou moratória.
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"Agora o que você tem é um grande défict um resultado primário negativo que pode chegar entre R$ 800 e R$ 850 bilhões. Então, o que o Brasil hoje tem é dificuldade financeira, mas quebrado ele não está", pontuou Décio. Segundo o secretário, essas declarações criam um clima adverso para a economia brasileira. "Criou muita instabilidade, porque os investidores aumentam seu prêmio de risco. Eles só compram títulos se você aumentar os juros", explicou.
"Quem é o acionista majoritário do Governo Federal é o presidente da República, se você fizer uma analogia com uma empresa. Ele é o comandante e se ele diz que a instituição que ele toma conta está quebrada, quem são os outros para dizer que não está? Então, por mais que a gente ache que foi uma declaração só infeliz, isso repercute muito no mercado. Não são declarações que podem ser dadas, pois cria uma instabilidade grande", concluiu Décio.
Declarações
Na terça-feira (5), Bolsonaro já havia dito a seus apoiadores que o Brasil está quebrado e que ele não consegue fazer nada. "Chefe, o Brasil está quebrado, e eu não consigo fazer nada. Eu queria mexer na tabela do Imposto de Renda, teve esse vírus, potencializado por essa mídia que nós temos. Essa mídia sem caráter. É um trabalho incessante de tentar desgastar para tirar a gente daqui e atender interesses escusos da mídia", disse em live transmitida por canal bolsonarista.