Justiça

Fiesp tem dois presidentes declarados, e disputa pode ir para a Justiça

Miguel Reale Junior, advogado e empresário, afirma que os questionamentos são insuficientes para a destituição, que deveria ter sido decidida numa assembleia

Josué Gomes Josué Gomes  - Foto: Divulgação/Governo de São Paulo

Dirigentes e funcionários da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) receberam dois comunicados opostos nesta terça-feira. Por e-mail, o vice-presidente Elias Miguel Haddad informou ter assumido a presidência da entidade, dando continuidade à destituição do empresário Josué Gomes do cargo, ocorrida na última segunda-feira.

Poucas horas depois, Gomes, que esteve em Brasília para um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgou uma notificação extrajudicial endereçada a Haddad e outros dirigentes da entidade, informando que permanece no cargo.

Na notificação extrajudicial, Gomes afirma ter recebido com surpresa a informação sobre o e-mail assinado por Haddad, diz que torna sem efeito qualquer deliberação tomada na sua ausência e classifica a atitude como "isolada, desproporcional e irresponsável", ferindo o estatuto da entidade.

"Não será uma assembleia clandestina, que sequer tinha itens para deliberar que colocará nossa entidade em riscos econômicos, jurídicos e de credibilidade", afirma o empresário no documento, acrescentando que nenhum ato está autorizado pela presidência, incluindo eventual e abusiva demissão de funcionários", diz o empresário.

Gomes advertiu que os responsáveis sofrerão consequências administrativas, trabalhistas e "eventualmente em outras esferas".

A notificação extrajudicial apenas dá ciência aos envolvidos sobre a posição de Gomes, que considera ilegais os atos desta sexta-feira. No texto, o empresário afirma que os atos comprovam "a ambição de a qualquer modo ocupar indevidamente a presidência" da entidade.

A notificação ressalta que a destituição do presidente eleito é um propósito escuso, uma vez que não foi feita acusação formal e específica em assembleia.

Gomes foi destituído da presidência da Fiesp na última segunda-feira. Na primeira assembleia, ele respondeu a questionamentos apresentados por dirigentes de sindicatos filiados à entidade. As respostas foram rejeitadas por maioria dos votos. Assim que Gomes deixou a sede da Fiesp foi aberta uma segunda assembleia, com quórum menor, onde foi votada a destituição do presidente.

O advogado do empresário, Miguel Reale Junior, afirma que os questionamentos são insuficientes para a destituição, que deveria ter sido decidida numa assembleia marcada com esse fim e ser precedida de acusação formal. Na avaliação dele, a destituição foi um golpe engendrado por sindicatos que discordaram do manifesto pela democracia feito por Gomes em agosto do ano passado, antes da eleição.

O ex-presidente da Fiesp, Paulo Skaf, é bolsonarista. Após a divulgação do manifesto, o então presidente Jair Bolsonaro afirmou que o documento era um apoio ao então candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva.

A notificação extrajudicial assinada por Gomes foi dirigida a diretores, funcionários e colaboradores da Fiesp e divulgada no início da noite desta sexta-feira, depois do e-mail em que Haddad informou ter assumido a presidência da entidade. Pelo estatuto, em caso de destituição do presidente, assume o mais velho entre os 24 vice-presidentes. Haddad tem 5 anos.

Mais cedo, outra mensagem foi enviada pelo segundo diretor-secretário da Fiesp, Ronaldo Koloszuk Rodrigues, a funcionários, em que também afirma que o vice-presidente assumiu a presidência após a alegada destituição de Josué Gomes da Silva do posto.

Com a notificação, na prática, a Fiesp tem dois presidentes declarados.

Gomes questiona a validade jurídica da assembleia que votou sua destituição do cargo e pode ir à Justiça para anulá-la. Nesta sexta-feira, na condição de presidente da Fiesp, ele esteve em Brasília e se encontrou com o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O empresário tem usado sua proximidade com o novo governo para reverter sua situação na entidade.

Veja também

iFood lança portal de dados e diz que entregadores trabalham 31,1 horas mensais pelo app
trabalhadores

iFood lança portal de dados e diz que entregadores trabalham 31,1 horas mensais pelo app

Desenvolvimento da IA não pode depender de "caprichos"do mercado, alertam especialistas da ONU
Inteligência Artificial

Desenvolvimento da IA não pode depender de "caprichos"do mercado, alertam especialistas da ONU

Newsletter