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RECURSOS

Fila de espera para financiar casa própria na Caixa chega a R$ 20 bilhões e banco busca alternativas

Instituição tem apenas R$ 3 bilhões para disponibilizar este ano; validade dos contratos pré-aprovados está sendo ampliada

Sede da Caixa Econômica FederalSede da Caixa Econômica Federal - Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A Caixa tem contratos pré-aprovados de R$ 20 bilhões para financiamento da casa própria com recursos da poupança, mas o total disponível dessa fonte de financiamento para distribuir soma R$ 3 bilhões.

Para 'proteger' esses interessados em financiar imóveis com taxas de juros mais baixas que as de mercado, a instituição está prorrogando esses contratos pré-aprovados até o final do prazo de validade, chegando até fevereiro e março de 2025.

— A Caixa estabeleceu novos limites de financiamento. Como medida de proteção às pessoas (que tem contratos pré-aprovados) está dando prazo de validade maior para concretizar seus contratos. Não queremos derrubar as operações em curso — explicou Inês da Silva Magalhães, vice-presidente de Habitação da instituição.

No mercado, clientes têm reclamado de atrasos para a concretização dos contratos de financiamento com taxa de juros de 12% dos recursos da poupança. A Caixa praticamente esgotou a meta de contratações de R$ 70 bilhões desses recursos para 2024.

Desde o início de novembro, a Caixa endureceu as regras de financiamento por conta disso. Os recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que utiliza os depósitos da poupança, por exemplo, só podem ser usados para financiar imóveis com valor de até R$ 1,5 milhão.

O valor de entrada exigido do comprador ficou maior do que antes. O banco só financiará até 70% do valor do imóvel pelo Sistema de Amortização Constante (SAC).

Até outubro, a cota era de até 80% do valor do imóvel. Já pelo sistema Price, o banco passará a financiar até 50% do valor do imóvel, ante 70%. O cliente também agora só pode ter um financiamento ativo pelo banco público.

O banco anunciou as alterações em meados de outubro, com a crescente demanda por imóveis no mercado brasileiro e ao maior volume de saques da caderneta de poupança.

A vice-presidente de Habitação ponderou que os R$ 20 bilhões de contratos pré-aprovados através de simulação não necessariamente se materializam em financiamentos, já que é preciso avaliação do imóvel, se está compatível com a garantia, por exemplo.

Segundo Marcos Brasiliano Rosa, vice-presidente de finanças da Caixa, cria-se a percepção de que é a Caixa que tem que dar uma solução para isso usando os recursos do SBPE, dada sua relevância no financiamento imobiliário (quase 70% de participação). Ele lembrou que outros bancos também tem esse problema por conta da limitação dos recursos da poupança.

Brasiliano observou que o funding (captação de recursos) da Caixa cresceu 18% em 12 meses e 5,6% no trimestre na comparação com o trimestre anterior, atingindo R$ 1,6 trilhão. O saldo da poupança se recuperou no trimestre, com alta de 8,1% chegando a R$ 381 bilhões. A Caixa tem 37,4% do share de poupança.

Alternativas de funding
A Caixa continua buscando alternativas para captar recursos para financiar a casa própria, entre elas redução do depósito compulsório (parte dos recursos que os bancos recolhem no Banco Central). A caixa defende uma redução de 5%, percentual que segundo o banco não impactaria na inflação e teria efeito imediato.

Mas a decisão não é simples e depende de aprovação do Conselho Monetário Nacional (CMN). Outras alternativas de captação no mercado tendem a encarecer o financiamento.

Outras opções, como criar um papel incentivado para trazer os investidores institucionais, como fundos de pensão, para o financiamento habitacional também estão na mesa.

— Não tem bala de prata. O SBPE e o FGTS são duas fontes de financiamento importante, mas dão sinais de esgotamento. Mas temos que buscar outras alternativas para diversificar o funding — disse a vice-presidente de Habitação.

Brasiliano afirmou que para 2025 a Caixa espera repetir o crescimento da carteira de habitação deste ano. Ele disse que a instituição depende de recursos do Orçamento da União, cuja previsão já foi fechada, mas será revisada em janeiro.

— Os recursos para habitação social serão 100% executados — garantiu.

O presidente da Caixa, Carlos Vieira, disse que a população de baixa renda é bem atendida pelo FGTS e SBPE, mas também defendeu que é preciso buscar outras alternativas de financiamento para a população de 'média renda'.

— Os recursos estão assegurados no limite do orçamento para a baixa renda. O crédito direcionado, via compulsório, é um alternativa. A Caixa faria muito bem isso. Aumentou a renda das famílias e o apetite para habitação — disse Vieira.

Lucro de R$ 3,3 bilhões
O lucro líquido recorrente da Caixa foi de R$ 3,3 bilhões no terceiro trimestre, uma alta de 0,7% na comparação anual e redução de 0,7% em relação ao segundo trimestre. Nos nove meses acumulados, o lucro da instituição chega a R$ 9,4 bilhões, crescimento de 21,6% quando comparado aos nove meses de 2023.

A carteira de crédito encerrou setembro com saldo de R$ 1,209 trilhão, crescimento de 10,8% em relação a setembro de 2023 e 3% em relação ao trimestre anterior. Destaque para os aumentos em doze meses de 14,7% no setor imobiliário, 13,8% em agronegócio e 3,9% no saneamento e infraestrutura.

No terceiro trimestre foram concedidos R$ 163,4 bilhões em crédito total, aumento de 12,8% em comparação com o mesmo período do ano anterior e 2,7% em comparação com o segundo trimestre. No acumulado dos nove meses até setembro, foram R$ 465,5 bilhões concedidos, aumento de 15,3% na comparação com o mesmo período do ano passado.

O índice de inadimplência da carteira de crédito total encerrou setembro em 2,27%, redução de 0,40 ponto percentual em relação a setembro de 2023 e aumento de 0,07 ponto percentual na comparação a junho de 2024.

A carteira de crédito total da Caixa possui 92,4% de seu saldo com garantias, principalmente por conta da carteira imobiliária, que corresponde a 67,2% da carteira total. O crédito imobiliário é o mais representativo na composição do crédito total, com saldo de R$ 812,2 bilhões, crescimento de 14,7% em comparação a setembro de 2023 e de 3,6% em relação a junho de 2024.

Desse saldo, R$ 474,9 bilhões utilizaram recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviços (FGTS), aumento de 17,3% em comparação a setembro de 2023 e de 4% quando comparado a junho de 2024; e R$ 337,3 bilhões utilizaram recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), crescimento de 11,3% em comparação a setembro de 2023 e de 3,1% em relação a junho de 2024.

No terceiro trimestre, foram R$ 63,4 bilhões em contratações (considerando recursos SBPE e FGTS), aumento de 23,4% na comparação anual e de 3,5% em comparação ao segundo trimestre.

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