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América Latina

FMI: América Latina pode 'demorar muitos anos' para superar impacto da Covid-19

Antes da pandemia, o crescimento da América Latina e do Caribe já tinha sido tachado de "anêmico", com uma expansão do PIB de apenas 0,1% em 2019

Sede do FMI em Washington, nos Estados UnidosSede do FMI em Washington, nos Estados Unidos - Foto: Zach Gibson/AFP

Na América Latina e Caribe, os efeitos negativos da pandemia de Covid-19 em termos de produtividade, emprego e capital humano podem "demorar muitos anos para serem revertidos", alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) nesta quinta-feira (21).

"Vemos que levará algum tempo, talvez nem mesmo no nosso horizonte de prognóstico de cinco anos, para que o PIB da região volte à tendência anterior à crise", disse o diretor-interino do Departamento das Américas do FMI, Nigel Chalk, ao revelar as perspectivas econômicas para a região.

O FMI aumentou sua previsão de crescimento para 2021 para os países latino-americanos e caribenhos para 6,3%, 0,5 ponto percentual a mais do que o estimado em julho. No entanto, revisou para baixo sua projeção para 2022, em 3% (-0,2 ponto).

Embora a recuperação tenha se mantido este ano, não foi suficiente para apagar a recessão histórica de 2020 na região, que levou a uma contração do PIB de 7%, muito acima do -3,1% em nível mundial.

E antes da pandemia, o crescimento da América Latina e do Caribe já tinha sido tachado de "anêmico", com uma expansão do PIB de apenas 0,1% em 2019 e de 1,2% em 2018.

"Os países devem se preparar para a possibilidade de essa recuperação não ser um caminho linear. Na verdade, devem antecipar um caminho longo e sinuoso", disse Chalk.

O panorama atual mostra uma recuperação desigual do emprego, com impacto maior nos jovens, em quem tem menor grau de escolaridade e nas mulheres. Além disso, também menciona incertezas sobre a produtividade e um "dano significativo" ao capital humano pelo fechamento prolongado das escolas, segundo o relatório.

Também persistem "desafios" no setor do turismo, especialmente no Caribe, onde "é provável que a quantidade de visitantes este ano alcance apenas cerca de 60% dos níveis anteriores à Covid-19".

Para Chalk, isto não representa "necessariamente" uma estagnação, mas ele destacou que o "muito forte" impacto da pandemia na região, com "aumentos substanciais" da pobreza, a classe média "em uma situação cada vez mais precárias" e "muitas tensões sociais".

"Não penso que esteja predeterminado que a economia vá mal, mas serão necessários alguns esforços de políticas para reverter o dano causado pela covid-19", avaliou.

Pressões inflacionárias

O FMI alertou também sobre o impacto na região do aumento dos preços das matérias-primas e dos alimentos, das interrupções na cadeia de abastecimento e dos aumentos globais dos preços dos bens, que impulsionam a alta dos preços ao consumidor.

"A inflação é definitivamente uma preocupação na região", disse Chalk.

No entanto, ele afirmou que o contexto institucional é "muito diferente" do que em ciclos inflacionários anteriores, com muitos bancos centrais reagindo "corretamente" a estas pressões com altas das taxas de juros e compromissos com as metas de inflação.

Chalk previu que estes aumentos "vão continuar em muitos países nos próximos meses".

Para América Latina e Caribe, o FMI projeta uma inflação de 9,7% para 2021 e de 6,9% para 2022. Na América do Sul, a projeção é particularmente alta em relação ao restante da região: de 12% para 2021 e 8,9% para 2022.

Neste contexto, o FMI recomenda o lançamento de "políticas ambiciosas", melhorar a eficiência do gasto público, promover "um sistema tributário progressivo e propício ao crescimento", ou até investir mais em projetos de combate ao aquecimento global.

Também recomendou prudência ao retirar os subsídios públicos extraordinários que foram disponibilizados para contra-atacar o impacto da pandemia sobre famílias e empresas. Pediu para considerar a necessidade de "voltar a colocar a dívida em queda".

Vulnerável à mudança climática

Em um relatório separado sobre a mudança climática, também publicado nesta quinta-feira, o Fundo aponta que essa região é uma das mais diversas em termos de riscos relacionados ao clima. 

No nível mundial, a região da América Latina e Caribe produz emissões de gases de efeito estufa proporcionais ao seu tamanho econômico e população, que representam 8,4% das emissões globais para um peso de 8% do PIB mundial. 

Mas os volumes são muito diferentes, com Brasil, México e Argentina como os maiores emissores e as economias do Caribe com uma participação marginal.

Embora os países latino-americanos e caribenhos sejam geralmente menos vulneráveis à mudança climática, "há focos de grande vulnerabilidade".

No Caribe, os danos causados por desastres naturais representam 2,5% do PIB anual, "afetando grandes segmentos da economia e da população", o que pesa fortemente sobre as finanças públicas. 

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