FMI: inflação e desigualdade prejudicam a recuperação da economia mundial
Vários fatores pesam na recuperação da economia global, do aumento dos preços dos alimentos até o acesso desigual às vacinas anticovid
A recuperação econômica mundial após o impacto da Covid-19 será prejudicada este ano, em um contexto de aumento de preços, elevado endividamento e recuperações divergentes entre nações ricas e pobres, advertiu nesta terça-feira (5) a diretora gerente do FMI, Kristalina Georgieva.
Georgieva destacou que vários fatores pesam na recuperação da economia global, do aumento dos preços dos alimentos até o acesso desigual às vacinas anticovid.
"Enfrentamos uma recuperação mundial que permanece 'afetada' pela pandemia e seu impacto. Não podemos avançar adequadamente", destaca Georgieva, de acordo com um discurso previsto para a Universidade Bocconi, em Milão, publicado pelo FMI.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgará novas previsões de crescimento na próxima semana, mas Georgieva alertou, após a previsão de 6% de alta para 2021 anunciada em julho, agora se espera uma "leve moderação" do resultado este ano.
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"As pedras em nossos sapatos ficaram mais dolorosas", expressou, ao destacar "riscos e obstáculos mais importantes", que incluem uma divergência cada vez maior entre países ricos e países pobres nas trajetórias de recuperação após a pandemia.
"Projetamos que a produção nas economias avançadas retorne às tendências pré-pandemia em 2022. Mas a maioria dos países emergentes e em desenvolvimento devem demorar muitos anos a mais para a recuperação", alertou Georgieva.
"Esta recuperação atrasada deixará ainda mais difícil evitar as cicatrizes econômicas a longo prazo, incluindo as perdas de emprego, que afetam especialmente os jovens, as mulheres e os trabalhadores informais", disse.
Durante a reunião anual do FMI e do Banco Mundial na próxima semana, o Fundo divulgará "Perspectiva da Economia Mundial" (WEO em inglês), que apresenta previsões de crescimento econômica e outros índices.
Desde a última atualização das previsões do FMI em julho, o conjunto de ferramentas do organismo para enfrentar as crises globais foi muito ampliado, com um aumento de 650 bilhões de dólares em reservas para os países membros, conhecido como Direitos Especiais de Crédito.
Cerca de 275 bilhões bilhões de dólares das reservas foram destinados a nações emergentes e em desenvolvimento. Georgieva pediu aos países que não precisam da ajuda que a repassem para os programas de combate à pobreza do organismo.
Em seu discurso em Milão, a diretora do FMI destacou que a recuperação global corre o risco de desvio.
Ela disse que Estados Unidos e China, as duas maiores potências mundiais, continuam a impulsionar o crescimento. E algumas economias avançadas, incluindo as europeias, continuam ganhando força.
"Porém, em muitos outros países, o crescimento continua piorando, prejudicado por um acesso reduzido às vacinas e uma resposta política limitada, especialmente em algumas nações de baixa renda", explicou Georgieva, acrescentando que este fenômeno "está se tornando mais persistente".
Uma das razões das dificuldades é a inflação, que disparou em todo o mundo.
Os preços dos alimentos aumentaram 30% no ano passado. Os preços da energia também registraram alta.
Além disso, a dívida pública mundial alcançou quase 100% do Produto Interno Bruto (PIB).
Fechar as brechas exigirá medidas que incluem aumentar a disponibilidade das vacinas contra a Covid-19, mas Georgieva disse que é necessário "um maior impulso" para cumprir com a meta máxima do FMI e do Banco Mundial de 40% de vacinação em todo o mundo até o fim do ano e de 70% até o fim de 2022.
Também pediu aos países que aproveitem a oportunidade para fazer reformas econômicas destinadas a reduzir as emissões de carbono, desenvolver a infraestrutura digital e estabelecer um imposto mínimo global para frear a transferência dos impostos corporativos.