FMI vê 2023 como "ponto de inflexão" para a economia global; Brasil deve crescer mais que o previsto
Fundo revisa expansão econômica para cima pela 1ª vez em um ano. Previsão é de avanço de 2,9%, mas abaixo do registrado em 2022
O Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou nesta terça-feira (31) suas projeções para a economia global e vê 2023 como um “ponto de inflexão” ao elevar sua perspectiva de crescimento pela primeira vez em um ano, com gastos resilientes dos Estados Unidos e a reabertura da China reforçando a demanda contra uma série de riscos.
De acordo com o Fundo, o Produto Interno Bruto (PIB) deverá crescer 2,9% este ano, 0,2 ponto percentual a mais do que os 2,7% previsto na edição de outubro de seu relatório trimestral de monitoramento da economia global, o World Economic Outlook.
Embora seja uma desaceleração em relação à expansão de 3,4% em 2022, o FMI disse que espera que o crescimento chegue ao fundo do poço este ano antes de acelerar para 3,1% em 2024.
Para o Brasil, a estimativa do Fundo é que a economia brasileira vai crescer 1,2% neste ano, um aumento de 0,2 ponto percentual em relação à edição de outubro do relatório, quando o órgão previu um crescimento de apenas 1% em 2023.
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Para 2024, a projeção é de crescimento de 1,5%, uma diminuição de 0,4 ponto contra sua projeção anterior. O FMI melhorou sua estimativa para 2022, com uma expansão de 3,1% do PIB brasileiro. No relatório de outubro, a previsão era de crescimento de 2,8%.
Entre os integrantes do G7, o Reino Unido será a única economia a entrar em recessão em 2023. E, mesmo em guerra e sob sanções, a Rússia vai voltar a crescer.
Os aumentos das taxas de juros dos bancos centrais e a invasão da Ucrânia pela Rússia continuarão a pesar sobre a atividade econômica este ano em meio a uma prolongada crise de inflação, disse a instituição com sede em Washington.
Inflação global menor em 2023
Embora as pequenas atualizações não sejam motivo de comemoração, as últimas mensagens do FMI sinalizam uma mudança de tom, já que as principais autoridades do Fundo passaram grande parte do ano passado alertando sobre os riscos de uma recessão generalizada.
O Fundo vê a inflação mundial desacelerando para 6,6% este ano, 0,1 ponto percentual acima da projeção de outubro, mas abaixo dos 8,8% em 2022. Em 2024, o órgão prevê uma nova desaceleração para 4,3%.
As perspectivas não pioraram desta vez, o que em si é uma boa notícia. Mas não é o suficiente. Ainda existem alguns desafios para caminharmos rumo a uma recuperação sustentável, ampla e duradoura, disse o economista-chefe do FMI, Pierre-Olivier Gourinchas.
Segundo Gourinchas, a luta contra a inflação ainda não está vencida: a política monetária precisará permanecer contracionista, e alguns países precisarão apertar ainda mais antes que haja uma desaceleração nas medidas amplas de aumento do custo de vida.
Os riscos negativos incluem a estagnação da recuperação da China, a escalada da guerra na Ucrânia e mais economias emergentes e em desenvolvimento entrando em dificuldades de endividamento.
A inflação também pode se mostrar mais persistente. Os mercados financeiros podem se tornar voláteis e as tensões internacionais estimuladas pela agressão da Rússia podem causar a fragmentação do sistema global, dificultando a cooperação entre as nações, destaca o Fundo.
No entanto, os riscos são mais equilibrados do que em outubro, ressalta Gourinchas. Um risco positivo é o consumo mais forte, principalmente em serviços, alimentado pela demanda reprimida dos mercados de trabalho apertados e pelo apoio fiscal pandêmico do governo. Por outro lado, a inflação pode cair mais rápido do que o esperado em meio à mudança nos gastos com serviços, permitindo que os bancos centrais apertem menos.
Estamos longe de ter vencido a luta contra a inflação. Tivemos algumas boas impressões. É encorajador. Está na direção certa, afirmou Gourinchas em entrevista a Rishaad Salamat, da Bloomberg Television, nesta terça-feira.
Gourinchas acrescentou que ''estamos bem longe de qualquer tipo de marcador de recessão global”, embora os riscos de materialização possam mudar isso.
O FMI aumentou sua previsão para mercados emergentes e economias em desenvolvimento, dizendo que crescerão 4%, uma atualização de 0,3 ponto percentual em relação a outubro e em comparação com os 3,9% estimados para 2022. O órgão elevou a estimativa para a expansão da China em 0,8 ponto percentual, para 5,2%. Segundo Gourinchas, China e Índia serão responsáveis por cerca de metade do crescimento mundial em 2023.
Banco Mundial tem visão mais pessimista
O tom um pouco mais otimista do FMI contrasta com uma visão mais pessimista de sua instituição irmã de Bretton Woods, o Banco Mundial (Bird). Em 10 de janeiro, o Bird reduziu suas previsões de crescimento para a maioria dos países e regiões e alertou que novos choques adversos poderiam levar a economia global a uma recessão.
Gourinchas ressaltou que parte da diferença é explicada pelo uso do FMI de pesos de paridade de poder de compra, que dão maior ênfase às economias de mercados emergentes, diferindo do uso do Banco Mundial de taxas de câmbio baseadas no mercado.
O Banco Mundial também é mais pessimista do que o FMI sobre o crescimento nas economias avançadas e nas economias europeias, disse ele.
Destaques do relatório do FMI
O fundo elevou sua previsão de crescimento de 2023 para os países avançados marginalmente para 1,2%, 0,1 ponto percentual acima do previsto anteriormente e menos da metade da expansão de 2,7% em 2022.
Nesse grupo, a economia britânica é um "ponto fora da curva", devendo contrair 0,6%.
Espera-se que os EUA cresçam 1,4%, 0,4 ponto percentual a mais do que na projeção anterior, em meio a uma demanda doméstica resiliente.
O FMI vê um “caminho estreito” onde uma recessão nos EUA pode ser evitada em 2023, apesar da taxa de desemprego subindo de 3,7% neste ano para cerca de 5,2% em 2024, disse Gourinchas.
A maior atualização foi para a economia russa, que o FMI agora prevê que crescerá 0,3% em comparação com uma contração de 2,3% observada no relatório de outubro.
Não se espera que o nível atual do teto do preço do petróleo estabelecido pelos países do Grupo dos Sete afete significativamente os volumes de exportação de petróleo bruto russo, com o comércio continuando a ser redirecionado de países sancionados para países não sancionados, disse o FMI. A nação também está sendo ajudada por suas medidas de estímulo fiscal, acrescentou Gourinchas.