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Fortunas da América Latina migram para Miami, e Itaú e Bradesco ganham dinheiro com isso

Bradesco dobrou total de recursos sob gestão desde 2019 e Itaú abriu só este ano mil contas na cidade da Flórida. Banco americano JP Morgan vê alta de 10% e cita "realocação geográfica"

Miami - Para os bancos,  êxodo gerou crescimento de ativos e clientesMiami - Para os bancos, êxodo gerou crescimento de ativos e clientes - Foto: Freepik

Os investidores mais ricos da América Latina estão migrando suas fortunas para Miami em um ritmo acelerado, de forma a escapar de turbulências regionais e buscar rendimentos superiores aos de seus países de origem. Para o JPMorgan Chase e para os maiores bancos do Brasil, como Itaú Unibanco e Bradesco, o êxodo gerou crescimento de ativos e clientes. Para o Morgan Stanley, nem tanto.

O Bradesco aumentou o número de funcionários na área de Miami de 190 para 230, após adquirir um banco em Coral Gables em 2019. O total de fortunas sob custódia dobrou para US$ 4 bilhões desde então.

Já o Itaú viu o total de fortunas sob gestão subir cerca de 10% em Miami neste ano, para US$ 24 bilhões. O banco abriu mais de mil contas em Miami em 2023, bem acima da média histórica. Também contratou Fernando Marques, do Pictet em Zurique, e o transferiu para Miami para se tornar chefe comercial de private banking na cidade.

O valor das fortunas sob gestão de clientes mexicanos em Miami aumentou cerca de 10% este ano no JPMorgan, com crescimento semelhante de ativos provenientes da Argentina, Chile, Peru e vários outros países latino-americanos, de acordo com o banco.

- É incrível o quanto crescemos aqui em Miami. Antes era muito difícil trazer talentos para Miami, e agora, depois da pandemia, é o contrário - disse Marice Brown, chefe de private banking para o México do banco com sede em Nova York, em entrevista.

Ela acrescenta que este ano o banco recrutou pessoas novas suficientes para aumentar em 10% a sua força de trabalho dedicada aos mexicanos, para cerca de 120 funcionários.

O JPMorgan tem cerca de US$ 180 bilhões em fortunas sob gestão de clientes da América Latina em Miami, Houston, Nova York e Genebra. Com o crescimento no total de ativos, o banco de Wall Street planeja expandir seu negócio de private banking servindo a América Latina para outro andar no edifício na avenida Brickell número 1450, em Miami.

O Morgan Stanley tem sido uma exceção. O gigante de Wall Street tem perdido clientes e banqueiros em Miami em meio a uma revisão do Federal Reserve de suas práticas para prevenir potencial lavagem de dinheiro de clientes de fora dos EUA, segundo pessoas familiarizadas com o assunto. O banco fechou algumas contas e parou de abrir novas contas de clientes latino-americanos, disseram as pessoas, que pediram anonimato por discutirem informações que não são públicas.

O Morgan Stanley também está mudando sua política em relação a esses clientes. A partir do segundo semestre de 2024, o mínimo para a abertura de contas exigido para clientes do Panamá e da Bolívia aumentará de US$ 2 milhões para US$ 10 milhões, segundo uma fonte familiarizada com o assunto.

O mínimo para clientes do Brasil, Chile e México cairá pela metade, para US$ 1 milhão, mas o banco não abrirá mais novas contas para pessoas na Venezuela e na Nicarágua, disse a pessoa.

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Um porta-voz do Morgan Stanley confirmou as mudanças, dizendo que o banco continua “comprometido” com o seu negócio de gestão de fortunas internacional, mas desenvolveu modelos novos “que refletem considerações de risco apropriadas”.

Juros dos EUA mais atrativos
Com as taxas de juros ainda altas nos EUA e com a perspectiva de que o Fed possa em breve começar a reduzi-las, muitos investidores estão buscando títulos corporativos em dólar ou títulos do Tesouro americano, disse Brown, do JPMorgan. O crédito privado também está atraindo atenção.

A equipe do JPMorgan em Miami dedicada a clientes da Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai, Peru, Equador e Bolívia cresceu cerca de 10% este ano, para 70 pessoas, segundo Ezequiel Lazcano, chefe da América Latina Sul no private banking do JPMorgan. O banco se concentra em clientes latino-americanos com cerca de US$ 10 milhões ou mais para investir.

- Vimos uma realocação geográfica significativa do portfólio para Miami relacionada ao fato de que nossos clientes encontraram oportunidades mais atraentes para multiplicar sua riqueza nos EUA do que em alguns de seus países - disse Lazcano.

Governos de esquerda
Outro impulso para o fluxo de recursos para Miami foi a vitória de governos de esquerda no Chile, no Peru e na Colômbia, que desencadeou uma fuga de capitais desses países com os investidores buscando refúgios seguros para seus investimentos, disse Carlos Gribel, presidente da corretora do Andbank em Miami.

O Andbank tem atraído US$ 150 milhões por ano para o seu negócio de gestão de fortunas em Miami, de US$ 1,4 bilhão sob gestão, principalmente provenientes desses países.

- O movimento dos brasileiros é mais lento, devido às altas taxas de juros locais e às condições políticas estáveis, mas quando comparado com as saídas históricas vemos que eles também estão aumentando a fatia de investimentos offshore em suas carteiras - disse Gribel.

Para outros bancos, a demanda dos brasileiros tem sido extraordinária.

- Este foi um dos anos mais ativos de nossa história em termos de clientes fechando câmbio para investir no exterior - disse Fernando Beyruti, responsável pelo private banking global do Itaú, o maior nos mercados locais do Brasil.

Aposta no mercado imobiliário
Percy Moreira, responsável pelo private banking internacional do Itaú, disse que o banco está “vendo uma demanda absurda de nossos clientes por diversificação global de investimentos, principalmente agora que as taxas de juros fora do Brasil aumentaram um pouco”.

Com uma carteira de crédito imobiliário de US$ 2,3 bilhões, o Bradesco é o banco líder na Flórida no negócio de financiamento de imóveis para pessoas físicas não-residentes nos EUA, disse Henrique Lima, presidente do Bradesco Bank.

— Continuaremos ampliando esse negócio, que tem boa rentabilidade e índices de inadimplência próximos de zero - disse Lima. — Miami está muito hot ainda, e eu acho que crise na América Latina ajuda a aumentar a demanda por esse tipo de empréstimo, pois tem muita gente que tira o dinheiro do seu país e gosta de colocar em algo tão sólido como tijolos nos EUA.

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