Galípolo: Brasil tem posição robusta ante desafios externos, com reservas e câmbio flutuante
O diretor listou alguns pontos que tornam o cenário externo mais adverso
O diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse nesta segunda-feira, 2, que o Brasil tem uma "posição robusta" para enfrentar desafios externos. Entre as vantagens do País, ele citou as reservas internacionais e o regime de câmbio flutuante.
"A gente tem utilizado esses adjetivos como adverso, desafiador, para o mercado internacional, ainda que o Brasil hoje esteja numa posição, relativamente ao passado, mais robusta para poder enfrentar esses desafios", afirmou ele, em um evento da XP Investimentos, em São Paulo.
Leia também
• Galípolo: BC tem monitorado com atenção expectativas de inflação, mercado de trabalho e núcleos
• Galípolo diz que Banco Central tem instrumentos necessários para cumprir a meta de inflação de 3%
• Galípolo diz que desancoragem das expectativas de inflação já incomoda o BC há bastante tempo
Galípolo listou alguns pontos que tornam o cenário externo mais adverso. Entre eles, mencionou a incerteza em torno de impactos de novas tarifas nos Estados Unidos. A força do mercado norte-americano, além disso, tem atraído rentabilidade para o país - retirando IPOs de emergentes, por exemplo.
"Hoje está mais interessante você comprar uma empresa emergente e levar para fazer lá nos EUA do que se fazer efetivamente no mercado emergente, dado a performance que você tem visto da Bolsa norte-americana", disse Galípolo. "A capacidade de sucção de liquidez e recursos por parte da economia norte-americana, hoje, é bastante elevada."
Chegada de novo diretor e política cambial
O diretor de Política Monetária afirmou que não vê mudanças na coordenação da política cambial com a chegada de Nilton David.
O economista do Bradesco foi indicado na sexta-feira para ser o sucessor de Galípolo na diretoria. Seu nome - assim como o de dois outros diretores - precisa receber agora o aval do Senado.
"Não vejo nenhum tipo de grande mudança. Agora, está chegando o Nilton, mas ele precisa chegar na cadeira e entender. Ele conhece muito, sabe tudo. É um craque. Mas é preciso chegar lá e entender a dinâmica do BC. Ele vai se adaptar super rápido. O pessoal está muito contente com a possibilidade de ele ser aprovado pelo Senado", comentou durante a palestra no evento Fórum Político da XP Investimentos, em São Paulo.
Atuações do BC
Galípolo voltou a dizer que a resposta do BC em relação a atuações no câmbio é uma velha conhecida do mercado: "o Banco Central só faz atuação em caso de disfuncionalidade".
"Vocês estão cansados de ouvir essa discussão. O que eu acho que você está colocando é um pouco a discussão sobre o que define o conceito de desfuncionalidade", disse quando questionado sobre o tema.
Para o diretor, há dois cortes a serem feitos durante uma discussão, um conjuntural e outro teórico e que, em conversas com outros banqueiros centrais há o entendimento de que não há um consenso sobre o conceito de disfuncionalidade entre asiáticos e latino-americanos.
Um fruto desse debate, segundo ele, é fazer uma definição mais objetiva do que a disfuncionalidade, já que há um trade-off entre flexibilidade e accountability. Galípolo ressaltou que o câmbio flutuante é um dos pilares da matriz econômica brasileira e uma ferramenta essencial para se passar por momentos como o atual.
"Então, eu não vejo nenhum tipo de mudança significativa. O câmbio flutuante está cumprindo seu papel muito bem e a gente segue só fazendo atuação em casos de disfuncionalidade."
Já a discussão sobre leilões de linhas do final do ano é sazonal, conforme o diretor. "A gente sempre está acompanhando para ver em que momento isso acontece, o que não se confunde com a outra discussão." Gallípolo assegurou que, efetivamente, o BC seguirá fazendo atuações só por questões de disfuncionalidade e que ideias de controlar câmbio só sobrevivem a uma distância segura da cadeira de Diretoria de Política Monetária (Dipom).