Galípolo pode estrear novo sistema de metas de inflação com estouro e ser obrigado a escrever cartas
Segundo projeções de IPCA do BC, futuro presidente teria de enviar ao menos duas cartas para Fazenda em 2025 para explicar motivo de rompimento da meta
O futuro presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, pode estrear o novo sistema de metas de inflação já com a obrigação de escrever uma carta ao Ministério da Fazenda explicando o descumprimento de sua missão principal: o controle inflacionário. Essa avaliação é baseada nas projeções oficiais no cenário de referência do BC para a inflação, divulgadas no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), publicado nesta quinta-feira.
Nesse contexto, o início do comando de Galípolo no BC seria marcado por pelo menos duas cartas à Fazenda, já que o novo presidente deve ter de explicar já em janeiro porque a autoridade monetária falhou no controle da inflação em 2024.
As projeções oficiais do BC consideram a trajetória para a taxa Selic que constava no Boletim Focus anterior ao Comitê de Política Monetária (Copom) de 11 de dezembro. O BC indicou no Copom, contudo, um ciclo de alta de juros mais tempestivo devido ao cenário mais adverso para a convergência de inflação.
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Atualmente, a Selic está em 12,25% e o BC já indicou duas novas altas de 1 ponto percentual para janeiro e março, levando a taxa para 14,25%, o pico da crise do governo Dilma Rousseff, entre 2015 e 2016.
A partir do ano que vem, o sistema de verificação das metas passa a ser contínuo, em vez de no fechamento de cada ano calendário. Será considerada que a meta foi descumprida quando o IPCA acumulado em 12 meses desviar-se por seis meses consecutivos do intervalo de tolerância. A meta atualmente é de 3,0%, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%.
Segundo as projeções do BC, o IPCA deve romper o limite superior pelo menos até o fim do terceiro trimestre de 2025, quando a estimativa é de 5,1%. Ou seja, a partir do início do novo sistema, a inflação vai ficar ao menos nove meses fora do alvo a ser perseguido.
Nesse caso, Galípolo, como chefe da autoridade monetária, terá de se dirigir ao ministro da Fazenda em carta aberta após o IPCA de junho para explicar as causas do descumprimento, apontar as medidas necessárias para a convergência inflacionária e o prazo esperado para que as medidas produzam efeito. O novo sistema ainda prevê que será necessária nova carta se a inflação não voltar à meta no prazo estabelecido.
A prestação de contas após o Copom de junho, que é divulgado em julho, não deve ser, contudo a primeira vez que Galípolo terá de se justificar à Fazenda por falhas em seu mandato principal. A estreia deve ocorrer logo após a sua posse, em 1º de janeiro.
Ele deve ter de explicar o descumprimento da meta de 2024. Segundo o próprio BC, é de 100% a chance de descumprimento da inflação deste ano. A projeção é de alta de 4,9%. Em dezembro do ano que vem, a projeção é de 4,5% - exatamente no teto permitido. Nesse caso, o BC calcula que a chance de rompimento é de 50%.
Ainda que o BC volte a cumprir a meta no fim do ano que vem, contudo, ainda não há visibilidade sobre quando a inflação voltaria à meta de 3,0% nas projeções oficiais. No RTI, a última estimativa é para o segundo trimestre de 2027, em que o cenário de referência aponta para um IPCA de 3,2%.
"Nas projeções do cenário de referência, a inflação está acima do limite do intervalo de tolerância até o terceiro trimestre de 2025, entrando depois em trajetória de declínio, mas ainda permanecendo acima da meta", resumiu o BC no RTI