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ENERGIA

Geração de energia solar em residências deve dobrar até o fim do ano, prevê associação do setor

Corrida por painéis fotovoltaicos é estimulada por benefício previsto em marco legal, que dá desconto maior na conta de luz a consumidor que fizer instalação até janeiro

Painéis solares em cima de edifício no Centro do RecifePainéis solares em cima de edifício no Centro do Recife - Foto: Arthur de Souza/Folha de Pernambuco

O aumento do preço do petróleo no mercado internacional e a criação de um novo marco legal para a geração própria de fontes renováveis têm ampliado os investimentos das empresas do setor de energia solar.

As companhias estão de olho no aumento da demanda esperada para este ano. Para isso, reforçam estoques e antecipam a compra de equipamentos, a fim de driblar o aumento nos custos. Outras planejam ampliar até seus centros de distribuição.

Com isso, a Absolar, associação do setor, estima um 2022 recorde: a capacidade instalada deve dobrar, chegando a quase 25 gigawatts médios (GW) nos tetos de prédios e casas. Ou seja, é um volume que representa quase duas usinas de Itaipu, a maior do país, com 14 gigawatts (GW) de capacidade.

Na semana passada, a Absolar informou ainda que a energia solar se tornou a terceira maior na matriz energética brasileira, com 8,1%, ao ultrapassar o gás natural. Está apenas atrás da geração hídrica — a principal, com 53,9% — e da eólica (10,8%).
 

O pontapé inicial foi em janeiro, quando foi publicada uma lei que prevê isenção de encargos setoriais até o fim de 2045 para quem instalar um sistema de geração própria solar até 7 de janeiro de 2023. Na prática, se o consumidor gerar mais energia do que consome, ele pode jogar na rede elétrica o excedente e ganhar de volta a mesma quantidade em créditos. Isso é transformado em um desconto na conta de luz. Depois dessa data, o desconto será menor.

No caso de sistemas solares de pequeno e médio portes, como os instalados em residências, pequenos negócios e pequenos produtores rurais, esse crédito de energia será reduzido em 4,1% já no primeiro ano, redução que sobe para 8,1% no segundo ano. Já no caso de sistemas solares de geração remota ou compartilhada (usinas de maior porte, afastadas do local onde está o consumidor), a redução no valor do crédito será de 29,3%.

Segundo especialistas, com a guerra na Ucrânia, muitas empresas intensificaram a busca por soluções energéticas renováveis, por conta do aumento dos custos de petróleo e gás. Para Rodrigo Sauaia, presidente da Absolar, a alta dos preços e o novo marco legal proporcionarão à energia solar seu segundo ano de recordes. Ele projeta investimentos de R$ 50 bilhões neste ano, mais que o dobro dos R$ 22 bilhões registrados em 2021:

— Além do cenário de preços de energia em alta, a lei foi um marco importante depois de dois anos de discussões e traz estabilidade para os investidores e para o consumidor, que está aproveitando para se organizar. Hoje, do total instalado, dois terços são de pequenos painéis solares. Aproveitar essa regra até 2045 é uma oportunidade.

Na Win, distribuidora de equipamentos solares, a expectativa é registrar crescimento de 300% neste ano, o mesmo patamar verificado em 2021. A diretora da empresa, Camila Nascimento, prevê forte alta neste semestre, pois boa parte dos consumidores deve deixar a instalação para a última hora. Por isso, a companhia está reforçando seus estoques.

— A demanda vai crescer porque quem instalar este ano vai ficar na regra antiga. Já estamos nos preparando — ressalta Camila.

A companhia, que tem centro de distribuição no Espírito Santo, não descarta uma ampliação.

Rodolfo Meyer, presidente do Portal Solar, empresa que vende e instala painéis solares, também reforçou os estoques. Sua expectativa é a de uma alta de 500% no faturamento:

— Vai ser uma corrida grande. Antes as pessoas queriam apenas colocar um volume de placas solares com base no consumo. Hoje, elas querem colocar o máximo que a residência permite e aproveitar a regulamentação — diz Meyer.

‘Caminho sem volta’

O cenário atual também impulsiona projetos de geração. A Trinity Energia vai investir R$ 78 milhões na instalação de três usinas solares em Seropédica, no Rio. A ideia, diz João Sanches, CEO da empresa, é que o projeto fique pronto já em novembro.

— O novo marco regulatório do setor está ampliando os investimentos e permitindo maior captação de recursos. Há ainda uma maior preocupação das empresas em buscar energia renovável mais barata no atual cenário de preços elevados. É um caminho sem volta — afirma Sanches.

Alexandre Bueno, sócio da Sun Mobi, com duas usinas solares, diz que as companhias estão se programando com antecedência por conta dos problemas da cadeia global de transporte, agravados pela guerra na Ucrânia e os frequentes lockdowns na China.

— Temos um cenário de demanda alta por painéis, problemas de contêineres, gargalos de transporte vindo da China e o dólar — explica Bueno.

E a instalação já começou a ficar mais cara. Hoje, um investimento em equipamentos para gerar 450 quilowatts-hora (kWh), o suficiente para abastecer uma casa para uma família de quatro a cinco pessoas, custa R$ 28 mil na L8 Energy. No ano passado, eram R$ 24 mil. O retorno desse investimento, por meio dos créditos na conta de luz, é estimado entre cinco e seis anos.

O diretor da empresa, Guilherme Nagamine, conta que a guerra impactou no preço do frete para esses equipamentos, na maioria importados. A valorização do dólar é outro fator.

— O custo do vidro subiu, o do frete marítimo também. O frete do contêiner de painéis de vidro custava US$ 2 mil, agora está US$ 10 mil — diz Nagamine.

Retorno em cerca de 5 anos

Especialistas lembram ainda que o consumidor tem hoje à disposição diversas linhas de crédito que financiam a compra de painéis. Estimativa do setor aponta mais de 70 opções entre bancos privados, públicos e cooperativas. Em alguns casos, é possível usar o desconto na conta de luz para pagar o financiamento. Em média, a redução na conta de luz varia entre 80% e 85% com a energia solar. O retorno de um investimento entre R$ 12 mil e R$ 15 mil pode levar de quatro a cinco anos.

— Apesar do aumento do dólar, que encareceu os painéis, o aumento nas tarifas com a conta de luz foi maior, o que acabou fazendo sentido para o consumidor — lembrou Sauaia, da Absolar

As maiores tarifas levaram a dona de casa Edilene Cabral, de 54 anos, moradora de Niterói, no Estado do Rio, a investir R$ 20 mil em painéis fotovoltaicos, em março do ano passado.

— O consumo ficou mais ou menos da mesma forma, mas o resultado na conta de luz é gritante. A estimativa é que, em menos de quatro anos, as placas sejam pagas pelo sol — conta ela.

Edilene só descobriu que precisava pagar o mínimo de energia ao receber a conta de luz no valor de R$ 67. Antes de instalar as placas solares, a fatura ficava entre R$ 400 e R$ 500.

— Aqui em casa, temos dois aparelhos de ar-condicionado e somos quatro pessoas — diz.

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