Gobo Rural: Tecnologia ajuda a reduzir o desperdício da produção agrícola
Startups eliminam intermediários, fazendo com que agricultor seja melhor remunerado e alimento chegue mais barato ao consumidor
Fazer os alimentos chegarem ao consumidor final com preços mais convidativos e ao mesmo tempo remunerar melhor o agricultor. Startups têm usado a tecnologia para atingir esse objetivo, reduzindo os intermediários da cadeia de alimentos.
Além disso, a tecnologia também tem sido usada para reduzir o desperdício de hortifrútis, encontrando públicos para alimentos que fogem do padrão.
Recentemente, a empresária Priscilla Veras foi ao Vale do Silício, na Califórnia, apresentar a Muda Meu Mundo, que facilita a conexão entre pequenos produtores e o varejo. Nas palavras dela, o grande desafio da empresa foi criar uma tecnologia acessível para agricultores pouco instruídos ou que não têm acesso a computadores.
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— Queremos ser o maior ecossistema Farm First (fazenda primeiro) da América Latina. Para isso, a nossa solução precisa ser simples para o produtor, mas, por trás, complexa a ponto de ele conseguir vender para o Carrefour — afirma Priscilla, que é CEO e cofundadora da startup.
Preço e previsibilidade
A Muda Meu Mundo está presente em cerca de 130 municípios do país, especialmente nos estados de São Paulo e do Ceará, além de Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Santa Catarina.
Sua base é formada por 4 mil agricultores — boa parte deles pequenos produtores.
Além de fazer a ponte dos negócios, a empresa de Priscilla e da sócia Laís Xavier oferece serviços complementares para o produtor: logística de entrega, emissão de nota fiscal, adiantamento de pagamentos e acesso a microcrédito.
A CEO exemplifica dizendo que uma alface que chega a R$ 4 na gôndola dos supermercados nos grandes centros urbanos muitas vezes rendeu R$ 0,40 ao produtor. Sem atravessadores, ela acredita que a remuneração pode subir para perto de R$ 2.
Criada em 2016, a Raiz adquire produtos frescos de mais de mil famílias de pequenos produtores e agricultores familiares. Assim como a Muda Meu Mundo, utiliza tecnologia para calcular as compras, reduzindo o desperdício para apenas 2%, mesmo com uma base de usuários ativos da ordem de 100 mil pessoas nos últimos dois anos.
— Quando o produtor começa a cultivar, ele já sabe o que está vendido. É isso que a gente oferece: preço e previsibilidade — diz Tomás Abrahão, CEO da Raiz.
A empresa comercializa os produtos nos modelos de mercado on-line e de cestas por assinatura.
Reduzir desperdícios também é um dos focos da Diferente. Eduardo Petrelli, fundador da empresa, começou a perceber as ineficiências da cadeia de alimentos na James Delivery, empresa de entregas por aplicativo que ele cofundou e vendeu ao Grupo Pão de Açúcar (GPA). Para ele, a conta não fechava: havia um desperdício do campo à gôndola de 30% e preços altos para o consumidor final.
Fora do padrão da cadeia
Quando deixou a operação completamente, Petrelli decidiu fundar a Diferente, uma startup de assinatura de hortifrúti, ao lado dos sócios Paulo Monçores e Saulo Marti. A empresa começou a operar em 2022 e deve chegar a 1,4 mil toneladas de alimentos “resgatados” nesse período.
— Percebemos que 67% dos alimentos jogados fora eram perfeitos para consumo. A gente viu que o problema era que não atendiam ao padrão da cadeia: tinham batidas na casca, uma forma diferente ou mesmo eram maiores do que as bandejas padrão — conta.
A equipe da startup reuniu caixas de alimentos que seriam jogados fora e começou a distribuir de graça para cem consumidores. Apenas 5% desse público disseram que não aceitariam um ou outro produto daquela cesta.
O passo seguinte foi construir uma tecnologia que pudesse prever padrões de consumo e sugerir cestas personalizadas com base também em indicações nutricionais e gostos pessoais. A assertividade do algoritmo é tanta que o desperdício da empresa está próximo de zero, e muitos dos alimentos são comprados nos dois dias que antecedem a entrega.
A Diferente compra de aproximadamente 200 produtores — de Montenegro (RS) a Floresta do Araguai (PA), conta Petrelli — e entrega na casa dos consumidores de 53 cidades em um raio de 500 quilômetros do centro de distribuição, localizado na Vila Leopoldina, na capital paulista. Nos próximos 12 meses, a ideia é construir um segundo centro de distribuição, no Sul do país.
Em um ano, entregou cerca de 200 mil caixas com alimentos, e produtos chegaram a ser 40% mais baratos do que no mercado.