TECNOLOGIA

Após concorrentes anunciarem investimentos, Google diz apostar na 'cultura de execução de projetos'

Em evento em São Paulo, o Google Cloud anunciou para clientes brasileiros novos recursos para bancos de dados com IA, uma parceria com a Oracle ampliada ao Brasil e o lançamento de dois novos espaços corporativos na capital paulista

GoogleGoogle - Foto: Josh Edelson/AFP

A divisão de nuvem do Google mantém uma política de investimentos contínua no Brasil, mas prefere focar na execução do que em "anúncios gigantes", afirmou nesta quarta-feira o argentino Eduardo López, presidente do Google Cloud para a América Latina. Em resposta aos aportes bilionários prometidos pelas principais concorrentes no último mês, o executivo disse que adota "uma cultura de execução" no país.

Em poucas semanas, as duas multinacionais que lideram o mercado de nuvem no mundo, a frente do Google Cloud, anunciaram que vão aportar capital no Brasil para ampliar a infraestrutura de data centers. A AWS, da Amazon, promete R$ 10,1 bilhões até 2034, enquanto a Microsoft anunciou que irá empenhar R$ 14,7 bilhões nos próximos três anos, em inteligência artificial (IA).

Em evento em São Paulo, o Google Cloud anunciou para clientes brasileiros novos recursos para bancos de dados com IA, uma parceria com a Oracle ampliada ao Brasil e o lançamento de dois novos espaços corporativos na capital paulista. No entanto, planos de aumentar a infraestrutura de data centers e novos investimentos financeiros ficaram de fora.

— Porque não fazemos esses anúncios gigantes não significa que não estamos investindo — respondeu López a jornalistas, ao ser questionado sobre a abordagem distinta das concorrentes. — Vá daqui a dez anos e pergunte quanto desses investimentos aconteceu — completou.

Segundo o executivo, o Google Cloud faz investimentos no Brasil e na América Latina "todos os anos", o que inclui recursos para treinamento de profissionais e para universidades. A empresa tem adotado uma cultura, no entanto, de não fazer "comunicações importantes de dinheiro", ressaltou.

— Porque fazer anúncio é uma questão de marketing, executar o anúncio é uma questão de cultura. E nós temos uma cultura de execução — acrescentou.

Apesar de mencionar que publicizar investimentos não é uma prioridade, López lembrou que o Google Cloud investiu R$ 1,6 bilhão para a expansão da infraestrutura no Brasil entre 2017 e 2022. A Alphabet, dona do Google, também se comprometeu com US$ 1,2 bilhão para a América Latina até 2027, acrescentou.

Parceria para 'nuvem brasileira'
Investimentos recentes de empresas de nuvem têm tido como foco ampliar a infraestrutura para rodar serviços de inteligência artificial. No segundo trimestre, a receita do Google Cloud subiu 28,8%, para US$ 10,3 bilhões, impulsionada pela demanda por ferramentas de IA generativa que dependem de infraestrutura, serviços e soluções em nuvem.

Um dos anúncios feitos em São Paulo pelo Google Cloud foi uma parceria com o governo federal para o desenvolvimento da "Nuvem do Governo", uma infraestrutura com gestão brasileira voltada para atender o setor público, incluindo órgãos do poder executivo e de gestões estaduais e municipais, especialmente para serviços que envolvem dados sensíveis.

Até o início de novembro, a big tech irá instalar em Brasília uma espécie de extensão da sua nuvem para servir ao Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), estatal de tecnologia que lidera o projeto e que é responsável por 90% dos sistemas digitais do governo, como da Receita Federal, do Tesouro Nacional e do portal Gov.Br.

— É como se nós estruturássemos o data center do Serpro com tecnologia do Google Cloud — resumiu o presidente do Google Cloud na América Latina. — O ganho é que a nuvem do governo terá uma infraestrutura com nível de qualidade mais alto, sem ter de fazer investimentos tão grandes [...]. Toda a tecnologia que existe em qualquer data center do Google estará lá.

'Soberia' para IA nacional
O contrato, que tem prazo de dez anos, tem valor estimado de R$ 367 milhões. No projeto, o Google irá aplicar uma arquitetura chamada Google Distributed Cloud (GDC), que permite que os dados e aplicações sejam processados localmente pela "nuvem brasileira", sem passar pelos servidores globais da multinacional. Assim, a gestão de dados seguirá sob responsabilidade do Serpro.

Apesar de uma parceria com a multinacional e com outras companhias, como a Huawei, Ariadne Fonseca, diretora de negócios Econômicos Fazendários do Serpro, afirmou que a nuvem do governo é "soberana" e vai garantir a "segurança e privacidade dos dados do governo brasileiro e do cidadão brasileiro".

Alexandre Gonçalves de Amorim, diretor-presidente do Serpro, diz que a estrutura do Google vai dobrar a capacidade da nuvem oferecida pelo governo.A infraestrutura “soberana” foi um avanço em relação os serviços de nuvem públicos que já eram oferecidos pelo Serpro, mas que não tinha a gestão de dados 100% nacional, acrescenta ele.

— O foco é rodar os dados sensíveis que exigem proteção e segurança maior. Temos parcerias com empresas estrangeiras para o maquinário, mas a conexão e o ambiente é totalmente controlado por nós — diz Amorim, que acrescenta a nuvem vai facilitar o desenvolvimento de uma inteligência artificial brasileira voltada para administração pública, ao concentrar dados um mesmo ambiente.

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