Logo Folha de Pernambuco

Brasil

Governo avalia criar meta para reservas internacionais visando a dar 'previsibilidade' ao câmbio

Brasil tem 'colchão' de US$ 339 bilhões, que funcionam como espécie de seguro contra crises.

Foto:

Leia também

• Petróleo mantém recuperação, impulsionado pela fragilidade do dólar

• Quais as consequências quando o euro cai abaixo do dólar?

• Cuba anuncia que começará a vender dólares para criar um mercado de câmbio

O governo federal avalia a criação de uma meta para reservas internacionais que teria o objetivo de dar “previsibilidade” para o câmbio, segundo integrantes da equipe econômica que participam das discussões. Esses ativos, administrados pelo Banco Central (BC), somam atualmente US$ 339,6 bilhões e são uma espécie de seguro do país contra crises, servindo também para conter oscilações atípicas do real em relação ao dólar.

A ideia em discussão no governo é tentar estabelecer uma meta para o total de reservas do país e fixar bandas de oscilação para o total de recursos disponíveis. Nesse cenário, se o valor estiver acima do teto da meta, o BC deverá reduzir o montante. Caso esteja abaixo, deverá comprar ativos.

Os estudos sobre qual seria o valor da reserva e também as bandas de oscilação estão sendo conduzidos pela Secretaria de Política Econômica e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). As discussões ocorrem em um momento em que o dólar atinge a máxima em duas décadas, um cenário que pode se prolongar em 2023, e gera pressão sobre a inflação.

Técnicos do governo negam que o plano para criar metas de reservas seja uma intervenção no câmbio e argumentam que é necessário dar previsibilidade para a gestão desses recursos. Outro argumento é de que, mesmo autônomo, o BC pode servir de instrumento para influenciar na cotação do dólar.

 

Por isso, ainda de acordo com integrantes do governo, seria necessário o BC perseguir uma meta de reservas para garantir que o câmbio fique em equilíbrio e apresente previsibilidade para o mercado.

O objetivo é incluir a proposta de meta de reserva junto com outra: a meta para a dívida pública, que também está em análise pelo Ministério da Economia e que o Tesouro Nacional espera colocar em consulta pública ainda neste mês. De toda forma, a tendência é que qualquer ideia nesse sentido só seja encaminhada ao Congresso após as eleições.

A meta para reservas já estaria sendo estudada desde a época em que o Congresso discutia a autonomia do Banco Central, aprovada pelo Congresso em 2021. Naquela época, o governo optou por não misturar as duas discussões para garantir a tramitação do projeto. Procurado, o BC disse que não comentaria o assunto.

Integrantes da equipe econômica dizem que o objetivo das mudanças é fortalecer o tripé macroeconômico, composto pelo regime de metas de inflação, metas fiscais e pelo câmbio flutuante. Contudo, ex-integrantes do Banco Central ouvidos pelo Globo afirmam que não há experiência parecida no mundo e temem que o objetivo seja, na prática, exercer influência sobre a cotação do dólar.

Menor nível desde 2011
Esses economistas afirmam, também, que já há previsibilidade sobre reservas e que quem coloca uma meta para elas é o próprio mercado.

As reservas atuais administrada pelo Banco Central, de US$ 339 bilhões, estão no menor nível desde junho de 2011. Em dezembro 2021, o Brasil acumulava US$ 362 bilhões em ativos, maior patamar dos últimos três anos.

O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula um indicador de adequação que mostra que no ano passado o Brasil estava acima do nível considerado seguro para as economias que adotam câmbio flutuante.

Propostas de campanhas eleitorais
O tema das reservas internacionais também é discutido nas campanhas à Presidência. Assessores de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendem usar, no médio prazo, as reservas internacionais como forma de financiar um programa para a casa própria. Esses economistas, porém, afirmam que é preciso ter um valor robusto de reservas.

O deputado Mauro Benevides (PDT-CE), um dos formuladores do programa econômico de Ciro Gomes (PDT), defende que há um “excedente de reservas”.

— Temos uma diferença de US$ 100 bilhões a mais de reservas do que o modelo mais conservador do mundo propõe. A ideia é tirar US$ 50 bilhões e fazer um funding (captação de recursos) para investimentos estratégicos do país no setor de saúde, farmoquímico, eletrônico, petróleo. São segmentos que geram emprego — avalia.

A economia Elena Landau, que lidera o programa econômico de Simone Tebet (MDB), disse que manterá um nível elevado de reservas.

— O Brasil já passou por tantas crises cambiais graves que há a necessidade de manter esse seguro, que é a reserva internacional. Queremos manter um nível elevado de reservas. Sabemos que tem um custo de carregar reservas elevadas, mas o custo de uma crise cambial mata. O tamanho ideal é outra discussão — afirma.

Entenda o que são reservas internacionais

O que é: As reservas são o dinheiro que o BC mantém guardado para proteger o Brasil de turbulências internacionais.

Para que serve: Com essa poupança, o Brasil pode assegurar que haverá dólares para empresas nacionais garantirem negócios que já estão fechados no exterior em caso de forte turbulência.

Como o Brasil atingiu esse patamar: No início do governo Lula, o então presidente do Banco Central Henrique Meirelles começou um processo de acumulação de reservas. O bom momento das exportações, puxadas pelas commodities, ajudou nesse processo. A poupança foi importante para proteger a economia brasileira durante a crise financeira mundial de 2008.

Qual o seu custo: É a diferença entre o que o BC gasta para adquirir esses recursos e quanto rendem as aplicações.
 

Veja também

Governo bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024
Orçamento de 2024

Governo Federal bloqueia R$ 6 bilhões do Orçamento de 2024

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde
Bolsa de Nova York

Wall Street fecha em alta com Dow Jones atingindo novo recorde

Newsletter