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PEC da Transição

Governo pediu PEC de R$ 168 bilhões para não ficar refém do Congresso, diz representante do Eurasia

Christopher Garman não acredita que todos os recursos serão gastos em 2023

Diretor para as Américas do Eurasia Group, Christopher GarmanDiretor para as Américas do Eurasia Group, Christopher Garman - Foto: Américas do Eurasia Group

O governo obteve sucesso na aprovação da "PEC da Transição" no valor de R$ 168 bilhões no Senado e deve aprovar também na Câmara, mas não deverá gastar todos esses recursos em 2023. A ideia do governo é conseguir um espaço fiscal maior para não ficar refém do Congresso. Essa é a avaliação do diretor para as Américas do Eurasia Group, Christopher Garman, que considera que a Reforma Tributária será a estrela da pauta no novo governo.

- Uma PEC de R$ 168 bilhões fora do teto com gastos em 2023, 2024 e 2025 provoca uma trajetória da dívida e explosiva. Nas contas internas do governo de transição, tenho ouvido que a ideia é gastar R$ 120 bilhões a R$ 130 bilhões no ano que vem. E depois fazer planos para os gastos irem aumentando, com o aumento de receita. Não faz sentido gastar R$ 168 bilhões em 2023. O governo não consegue e sinalizaria que não há espaço para aumento real de salário mínimo e de servidor público. Uma coisa é pedir espaço para gastar outra é gastar - analisa Garman.

Para ele, o governo estuda quais medidas podem trazer mais aumento de receita sem precisar do Congresso, que é reativo a aumento de impostos. Uma delas seria voltar o PIS/Cofins sobre combustíveis, tributos federais que foram zerados no ano passado pelo presidente Jair Bolsonaro para derrubar o preço da gasolina e turbinar sua campanha. A medida dura até o fim deste ano.

- O Orçamento prevê a desoneração, mas será preciso aprovar uma legislação para estender o benefício. Se não fizer nada, o imposto volta. Acredito que o governo vai deixar voltar, mas haverá impacto inflacionário dificultando o trabalho do Banco Central. Acredito que o governo vai compensar o consumidor com uma nova política de preços para a Petrobras. E depois volta também o IPI. Isso daria uma recomposição der receita ao governo de R$ 80 bilhões - analisa Garman.

Garman lembra que a Reforma Tributária será a estrela da pauta do novo governo, que depois de aprovar um IVA (imposto único que reúne tributos federais) deverá mirar em dividendos, grandes fortunas e heranças. Mas, para ele, o Congresso é sensível a aumentar tributos especialmente para empresas e o executivo do Eurasia Group não acredita que a taxação de dividendos seja aprovada, assim como um tributo sobre herança.

Garman avalia que o terceiro mandato de Lula como presidente não vai jogar a responsabilidade fiscal no lixo, mas o novo governo está comprando mais risco ao aumentar os gastos e vai precisar de "mais receita para salvar o dia". Na prática, se não aparecerem novas receitas, o governo terá que promover um aumento de impostos.

Para Garman, o nome de Fernando Haddad não agrada o mercado financeiro, mas Lula deixou claro que queria uma pessoa de confiança no comando da economia:

- Não sei se a escolha do Haddad representa uma visão de política econômica diferente de Alexandre Padilha ou Rui Costa (nomes que também eram cotados para o cargo). Haddad já defendeu reforma administrativa, vai tentar equilibrio e sustentabilidade da trajetória da dívida, já falou sobre revisão do teto de gastos, mas tem uma visão mais desenvolvimentista, com maior participação de bancos públicos e estatais.

Ele acredita que não haverá a indicação de um nome político na pasta do Planejamento para contrabalançar, mas não alguém de mercado, já que se trata de um cargo político.

Sobre a âncora fiscal, o diretor da Eurasia avalia que a formula só será definida quando houver uma nova equipe na economia, com ministro e secretários.

- São essas pessoas que vão ter influência na formulação da âncora fiscal. Esse processo não começou ainda - disse o analista.

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